O Brasil
insinua que nunca alcançará a sua catarse. Não se lhe apresenta no curso
histórico qualquer que seja o instante em que encontre espaço para uma
purificação, evacuação ou purgação caso metaforizássemos sua ocorrência em
nível de tragédia, medicina ou psicanálise. Em qualquer de suas formas a
catarse há de se constituir num trauma a levar a uma descarga emocional como
meio de resolver o conflito felicidade-infelicidade. É a descoberta pelo
espectador do choro profundo, da alegria em excesso e do deslumbramento
individual ou coletivamente.
O ator
Brasil não consegue despertar descargas de emoções, não desperta instintos para
resolver conflitos nos que lhe são próximos e essencialmente consubstanciados em
sua gente.
Por outro
lado parece fazer prevalecer a técnica das obsessões, da insistência
comportamental em perseguir ou importunar alguém. A conduta repercutindo a
ideia fixa e persistente.
A abordagem
soa árida e incompreensível a priori. Em especial sob a ótica de que o Brasil
aí estaria como Pilatos no Credo.
No entanto
não vê este escriba de província outra tela para explicar o quadro que por aqui
ocorre.
O curso da
história pátria – afastados os registros, que refletem a versão do vitorioso –
é uma sucessão de tragédias tendo por conduto a exploração. No primeiro
instante a exploração das riquezas naturais que há de se desdobrar na do
semelhante para afirmar aquela. Para tanto, nativos e negros trazidos
tornaram-se os personagens centrais. Essa gente sacrificada sempre não
encontrou, até o presente, quem a reconhecesse violada e não são abertos os
livros que explicariam o caminho de solução que reverta dantesca (in)compreensão.
Por trás de
tudo o que escreveu a história e hoje sustentado nos meios que impôs para
eternizar-se no poder que em torno dele concentrou foge como o Diabo da cruz de
reconhecer-se imaginando por em risco o conquistado.
Por seu
turno tragédias não se fazem sem obsessões. E são elas o móvel permanentemente
utilizado como mantra para alimentar a pira com mais e mais sacrificados. O deificado mercado aí está para confirmar.
O mundo
continua apreensivo exigindo medidas restritivas à circulação de pessoas como
instrumento imediato para evitar contágio. O Brasil tinha, neste domingo, 22.169
casos confirmados e 1.223 mortes pelo Covid-19 (avanço, em um dia, de mais 1.442 novos casos e 99 mortes). Na segunda, 6 de abril,
tínhamos, respectivamente, 11.281 e 487. Ou seja, em seis dias praticamente
dobraram os casos confirmados e quase triplicadas as mortes. Caso mantidas as
atuais restrições à locomoção e considerando o período de risco concreto, que
pode ir ao início de junho, ao final das próximas duas semanas (final de abril),
mantida a projeção acima, poderemos registrar mais de 60 mil confirmações de
contágio e o risco de ultrapassarmos 5 mil mortes.
Há quem
insista em fazer girar a economia, mesmo que isso possa colocar em risco vidas
humanas. As soluções cabíveis ao Estado (assegurar os meios de sobrevivência
imediata com políticas eficazes de custeamento) por estas plagas soam frágeis porque se sustenta
na visão de políticas inumanas para atender ao mercado financeiro.
No fundo, tudo para não perdermos a capacidade de desconhecer catarses e de nos mantermos em permanente
estado de obsessão.
E por aí
transita o Brasil: de tragédia em tragédia não consegue despertar uma catarse diante de tantas tragédias;
e se sustenta na obsessão de que a economia de mercado é e será a solução.
Tendo o
Altíssimo por solução para o erro que praticamos é possível que a população
tenha no período acima aventado adquirido a imunidade ideal. É porque, abençoados por
Ele, à espera de uma catarse e em permanente obsessão, contamos com a imunidade
Ainda que
não seja isso o que afirme a Ciência.
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