domingo, 19 de abril de 2020

Brasileiro


Não fiquemos aqui com a conclusão anedótica da resposta do Todo Poderoso a São Pedro diante do fato de haver dotado a terra brasilis de tudo de belo, rico e grandioso: – Precisa ver o povo que vou por lá colocar. Este escriba de província prefere ‘classe dominante’ em vez de ‘povo’.

Um vídeo do governador da Bahia circula nas redes onde pede para ficarem em casa, alertando para os riscos da região Itabuna-Ilhéus, que tem crescimento da curva exponencial, fora em muito do que ocorre no restante do estado. 

Chega a ser patética a maneira como o governador tem reiterado o apelo. Patético porque trata ele de repetir o óbvio ululante (para lembrar Nelson Rodrigues): a melhor forma de prevenção e redução de danos é o isolamento social. E ao fazê-lo é como dissesse que não está sendo escutado.

A saudosa Vó Tormeza legou às gerações o repetir “quem não ouve conselho, ouve coitado!” ou “Estão brincando com a cor da chita”. As ponderações do governador gerarão o “ouve coitado!” porque a forma como parte considerável da população anda reagindo à realidade lembra o “Estão brincando”.

Certo que o contraponto à lucidez de quem defende o isolamento social encontra apoio do inquilino do Alvorada e seu séquito de idólatras idiotas e/ou de quem imagina beneficiar-se individualmente em detrimento da coletividade.

Mundo afora ruas vazias; aqui parecendo que nada está a ocorrer. Alguma coisa além do horizonte está acontecendo.

Os números de infectados e de mortes por milhão de habitantes decorrentes do Covid-19 no Brasil aventam duas vertentes: 1. Ou estão errados; 2. Ou vivemos um milagre.

Lejeune Mirhan (Brasil 247) fala n"A mentira dos números da pandemia no Brasil" e, na esteira de suas observações, para demonstrar que estamos ‘brincando com a cor da chita’ vamos a alguns detalhes:

1.       O Brasil testa apenas 296 pessoas por milhão de habitantes; Suíça testa 75 vezes a mais que nosotros, a Itália 56 vezes, Bélgica e EUA 29. 

2.       O índice de mortalidade de apenas 5,5%. O mundo tem pelo menos o dobro: França, 10,85%; Bélgica, 12,14%; Inglaterra, 12,59%; Itália, 12,72%.

3.       Por aqui, quanto ao número de diagnósticos positivos por milhão de habitantes, tínhamos 104 casos no dia 10 de abril e 160 na sexta, 17; Espanha 34 vezes mais que nós, a Suíça 28 e a Itália e a Bélgica 24 vezes mais.

4.       No quesito mortes por milhão de habitantes estávamos com 7 por milhão, no dia 10, e com 10 no dia 17; Espanha e Itália, apenas para ilustrar, 400 pessoas por milhão.

Quanto ao número de mortos no Brasil pelo Covid-19 há quem admita estar entre 3.800 e 15.000, com dados analisados até 15 de abril.

A demora para a contabilização dos casos fatais aliada à subnotificação (casos não identificados que foram a óbito por falta de testes etc.) seria causa de números tão baixos como os acima apostos.

Há – evidentemente – algo de podre. E não é no reino da Dinamarca.

Em vídeo divulgado na quinta (16) o prefeito de Entre Rios-RJ, denunciou a mensagem que recebeu do Ministério da Defesa, através do  Comando do Exército da 1ª Região Militar, por ele exibida e lida, da qual destacamos:

"[...] solicito dos Senhores Chefes de Postos de Recrutamento e Mobilização, com apoio das Juntas de Serviço Militar, que seja realizado um levantamento de dados estatísticos referentes à quantidade de cemitérios, disponibilidade de sepulturas e capacidade de sepultamentos diários em suas respectivas áreas de responsabilidade".    
Em Manaus, mortos estão sendo empilhados em conteiners.

Aqui por Itabuna o prefeito anuncia para a próxima quarta-feira a abertura do comércio com as restrições que imporá.

O governador da Bahia implora por isolamento.

Um dos dois acredita mais que o outro que Deus é brasileiro. Ou tentando provar.

Em Brasília há quem se anuncie o tal e pretenda fazer da pátria de todos nós uma ditadura. Talvez uma democracia nos moldes da Costa Rica.
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Observação: os dados que alimentam o texto originam-se do UOL veiculados pelo ConversaAfiada e do Brasil 247.

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