O registro passado, neste dominical, punha em evidência
o desgaste por que passa a imagem dos militares encampando posturas em nada
condizentes com seu papel institucional. Trilhamos por vertentes como a da
defesa de guerra contra país estrangeiro, subserviências e aparelhamento no
governo e, por sua postura ideologizada, o perfil de partido político.
O ex-Ministro das relações Exteriores e da Defesa, Celso Amorim, observa – em entrevista a Mino Carta, da Carta Capital – sua preocupação com a guinada levada a termo pelo ensaiado Plano de Defesa, uma vez que a dissuasão através da contribuição diplomática sempre norteou a postura brasileira em suas ações no continente e que a pretensão atual expressa claramente a transferência para as Forças Armadas em dimensão de intervenção, o que lança às calendas os caminhos pacíficos na condução da política externa para a América do Sul abrindo as portas para uma intervenção armada onde entendam os militares necessária para conter riscos ao país.
Antes a Política de defesa não falava em “riscos de
conflitos” e agora explicita o raciocínio de crises e tensões no “entorno
estratégico” do Brasil.
Análise do colunista Paulo Celso Rocha de Barros, de
O Estado de São Paulo, repercutido no 247, observa uma outra dimensão (que alimenta nosso pensar em
nível de desgaste):
"O capitão do Exército Jair Messias Bolsonaro foi
acusado de planejar explodir bombas em unidades militares no Rio de Janeiro. E
quem os militares, que haviam demonstrado moderação e respeito à democracia por
quase 30 anos, resolveram lançar para presidente quando a oportunidade de
eleger alguém surgiu?"
E conclui:
"Ao que parece, Bolsonaro finalmente conseguiu realizar
seu objetivo de juventude: colocou uma bomba nos quartéis"
Um outro aspecto remete-nos a compreender que o
pensamento militar que norteia apoio às políticas do atual governo, incluindo a
ocupação e o aparelhamento do Estado por militares (também da ativa) em funções
civis, os pegou com as calças
na mão.
Em tempos como os de hoje, bastante diversos da ocupação ocorrida a
chicote por força do golpe de 1964 e o golpe dentro do golpe de 1968 (AI-5),
quando até falar que Castelo Branco tinha pescoço de tartaruga poderia levar
aos porões de tortura, a atualidade é bem diversa haja vista o exercício da
comunicação via internet.
Não fora isso o nepotismo ensaiado (o que sabemos)
por um general (que não está sozinho na prática) para assegurar a presença de
sua filha em função do governo nunca chegaria ao conhecimento geral, tampouco a
pressão surgida com a denúncia levaria aos resultados atuais: a desistência,
tão grande o desgaste.
Não bastasse, todos passamos a saber que os militares passam a se beneficiar
de penduricalhos originados de normas trazidas pelo inquilino (aqui) e de
interpretação da Advocacia-Geral da União. Aposentam-se, inclusive, com
remuneração integral.
Sob o cariz da ideologia todas as mazelas por que
passam as finanças públicas encontraram sempre os culpados de plantão: políticos,
servidores públicos civis, judiciário. Caso fossemos menos hipócritas
acrescentaríamos os gastos com as forças militares, parte considerável delas
esperando por uma guerra.
Para percepção do que representam em nível de
custo-benefício (não esqueçamos, esperando por uma guerra), trazemos anotações
do Jornal Contábil:
“Os
militares representam hoje metade dos gastos da Previdência entre o
funcionalismo público, embora representem apenas 31% do quadro. Os dados são do
último Relatório de Acompanhamento Fiscal, divulgado pela Instituição Fiscal
Independente, do Senado Federal.
De
acordo com o estudo, dedicado especialmente à reforma da Previdência, hoje são
gastos R$ 43,9 bilhões com pensões e aposentadorias para cerca de 300 mil
militares e pensionistas, enquanto a União despende R$ 46,5 bilhões para 680
mil servidores do regime civil. É o caso da pensão por morte ficta, paga
antecipadamente às famílias dos militares que são expulsos das Forças Armadas
por terem cometido crimes”.
De certa forma, como outros são os tempos, e a
tecnologia permitindo acesso a informações inimagináveis, começamos a perceber
que muitos estão sendo pegos com as calças nas mãos. Para alguns, como os
militares, no entanto, não há como ir além de dois caminhos: recusar ou
aceitar. A segunda opção tende a aprofundar-se.
Não sabemos até quando a possibilidade que hoje
dispomos de encontrar informações que permitem analisar e avaliar a realidade
há de ser relegada à discussões de botequim, apaixonadas.
Enquanto assim agirmos – sempre encontrando no
outro que não pense como eu o culpado perfeito – viveremos naquele reino da
hipocrisia. Ainda que com as calças na mão.
E para não perdermos o clima salivando nos deleitamos
com a exibição de Simba ao reino animal.
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