Fôssemos dado à fanfarronices e à busca por louros
vazios diríamos neste instante que os militares leram nosso artigo anterior,
quando levantamos críticas à existência de uma tropa na ativa à espera de uma
guerra. Eis que nos espantamos com o noticiado: Brasil se prepara para a guerra
e preferencialmente contra a Venezuela. (Brasil 247)
Nada mais canhestro. A Paz sempre norteou a
história recente do Brasil em sua dimensão diplomática.
Mas estamos prestes a retomar a subserviência de
colonizado. Do mesmo modo que sacrificamos milhares de brasileiros (em especial
negros e pardos) na guerra que encetamos contra o Paraguai de Solano Lopez e nos
demos ao galardão de praticamente liquidar a população masculina, visto que 94%
dela sucumbiu. A barbárie é tal que na Batalha de Acosta Ñu tivemos a grandeza
de matar, como soldados paraguaios, adolescentes entre 9 e 15 anos,
acompanhados por mulheres e crianças de 6, 7 e 8, última batalha de uma ‘guerra
que já havia acabado’, como o dissera Caxias ao Imperador Pedro II. (BBC).
Fizemos uma guerra para atender aos interesses da
Inglaterra, que se via atingida em seu poderio industrial diante de um Paraguai
que já dispunha de uma indústria bélica e de uma indústria naval que ensaiava
fazer concorrência aos ingleses.
O brasileiro que aplaude o inquilino do Alvorada e muito provavelmente será uma de suas ‘buchas de canhão’ nunca leu (até porque por aquilo que às vezes escutamos, uma parcela não alcança dois neurônios) em torno do quão criminosos fomos em relação ao Paraguai. O Duque de Caxias recusou comandar a aniquilação da gente paraguaia, tanto que coube ao Conde D’Eu a infausta e inglória tarefa. Quem pretender se inteirar um pouquinho sobre o crime que praticamos recomendamos a leitura de “Genocídio Americano: A Guerra do Paraguai”, de Julio José Chiavenatto (Brasiliense, 1979).
A propósito – já que nossos militares estão a falar
em guerra como se fosse brinquedo, sem que haja a mínima ameaça ao país –
cumpre trazer do relato de Chiavenatto o seguinte, sobre o inglória Batalha de
Los Niños (como a nomina o Paraguai), “símbolo mais terrível da crueldade dessa
guerra”, no dia 16 de agosto de 1869, quando 20 mil aliados comandados pelo
Brasil (com rifles que alcançavam 500 metros) combateram cerca de 3.500 paraguaios
(armas com alcance máximo de 50 metros):
"As
crianças de 6 a 8 anos, no calor da batalha, aterrorizadas, se agarravam às
pernas dos soldados brasileiros, chorando, pedindo que não os matassem. E eram
degoladas no ato"
Nunca imaginamos que as Forças Armadas brasileiras se
voltassem para um projeto que somente interessa a um Estado estrangeiro.
Seremos o boi de piranha para eles. O motivo de que precisa Trump para mover a
guerra que ele sabe hoje inconveniente para os soldados estadunidenses.
Alguns dos nossos chefes militares parecem
demonstrar uma escondida pretensão: a de casta. Em meio à crise não lhes faltou
uma “boquinha” para ampliar o soldo. E sonham com uma guerra. Serão remunerados
em dólar? Certamente não. O militar que por lá está (como pau mandado dos
Estados Unidos) é pago por nós outros.
Caminhamos – sob a omissão de toda uma sociedade,
com esparsas reações – para nos tornarmos um protetorado estadunidense e nossos
militares a sua guarda pretoriana.
Se nada mudar quem viver verá. E não tardará. Basta
que Trump se reeleja.
Uma parcela do pensamento militar certamente não vê
quão desonrosa tal função. Sonha com um convite para uma palestra em
instituição estadunidense de categoria nenhuma e – quem sabe? – uma medalha
qualquer para ostentar na lapela.
Essa gente perdeu o pudor, deixou escancarar sua
vocação vassala, sem direito a um pedaço de terra como ocorria no feudalismo.
Para ela uma honraria servir o colonizador.
E como – lembramos na coluna anterior, o absurdo como
precedente – ora vivemos a singular ocupação do Brasil por uma potência
estrangeira promovida por suas próprias Forças Armadas. Tornadas tão somente
‘força auxiliar’ dos Estados Unidos.
Não se desespere, apenas se prepare caro leitor. O
próximo passo é lançar o brasileiro na linha de frente de uma guerra sem
qualquer sentido.
Seriedade é o que se exige do exercício da função
militar em sua dimensão profissional razão por que envolver-se em questiúnculas
de política partidária não condiz com seu mister. Cabe-lhe como instância maior
da defesa do país se constituírem no centro de unidade nacional e nunca
corresponder a este ou aquele cariz ideológico, isto sim, inerente aos partidos
políticos.
Estamos a reconhecer que a máscara caiu. Nossas
Forças Armadas consolidam o triste raciocínio de que não são em essência uma
instituição à qual caberia a defesa da soberania nacional e para tanto nela
confiávamos; tornou-se um partido político armado com dinheiro do povo para
aniquilar o povo.
A imagem que as Forças Armadas sempre tiveram
perante o imaginário está sendo destroçada. Não há como não atrela-las aos
desmandos do inquilino do Alvorada. Até porque peças de sua composição se
fizeram aliadas dele e o promoveram.
Ainda que não queiramos crer que o pensamento
militar haja aderido à bizarrice em que nos tornamos como país, o que o torna
um apêndice ideologizado, para quem duvidar que se tornou partido político
esqueça o leitor até o lamentável papel desempenhado na história recente do
país e observe o número de militares encastelados em cargos civis, cerca de 2%
de seu efetivo superando atualmente a fatia de 6,2 mil (GGN). Para que não esqueçamos
que o toma lá dá cá não se efetiva só com o Centrão.
Diziam que o PT aparelhara o Estado. O que fazem as
‘gloriosas forças armadas’? Provar que o uso do verbo ‘aparelhar’ tem seu
significado aplicado somente para o adversário, como sói ocorrer na propaganda
político-partidária.
As Forças Armadas ainda não tomaram a iniciativa.
Mas não custa promover o arrebanhamento de assinaturas para registro de seu
partido oficial na Justiça Eleitoral.
Mais consentâneo com a democracia que temos.
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