Fazemos parte daquela parcela da sociedade que nega a autoajuda como panaceia para tudo. Entendemos o que representa a energia mental – hoje comprovada em dimensão quântica – e o quanto significa o que a compreensão humana em torno dela possa obter. Certamente já não temos somente a relatividade para explicar muito do que desconhecíamos há tempos não tão distantes dentro do atual processo civilizatório.
No
quesito autoajuda incomoda-nos, sobremodo, o sistema de mercado imposto
através dela: de livros a palestras, cursos e quejandos outros. Desde Dale
Carnegie (1888-1955) e seu “Como Evitar Preocupações e Começar a Viver”,
publicado em meados dos anos 30 do século passado, o tema enche as burras dos
que sábia e mercantilmente souberam se valer do óbvio.
O
tema, em razão do uso que lhe é dado, muito se aproxima de o compreendermos sob
o expresso por Karl Marx (1818-1883), em Crítica da Filosofia do Direito de
Hegel, norteado por Feuerbach (1804-1872), a religião como um “ópio”.
Cabe-nos
entender que não é em si a religião ou autoajuda o
problema mas a forma como se lhe aproveitam. Ou seja, o que resulta da
intervenção/criação humana, inclusive no plano sublimativo.
O
universo que a tudo sustenta está na base da pirâmide sócio-comportamental e
desta os bilhões desembolsados por milhões sem que – à luz de uma análise no
tempo – tenhamos percebido efetiva mudança no planeta e sua civilização.
Acomodemo-nos,
neste instante, a uma espécie de “assim caminha a humanidade”; a frase posta na
versão para Giant, escrito por Edna Fermer (1885-1968), filmado por Georges Stevens
(1904-1975) dirigindo James Dean, Elizabeth Taylor, Rock Hudson e Carol Baker
(1956), Lulu Santos compondo e cantando (1994) e Dercy Gonçalves (1907-2008) repetindo-a
como chavão num de seus impagáveis filmes (que ora não lembramos o nome). E continuamos
a caminhar em busca das soluções “de fora” quando estão dentro de nós sem que
despejemos nosso dinheirinho de cada dia sem a correspondente ‘conversão’,
porque não há o que ser “convertido”, mas “compreendido”.
No
fundo, caro e paciente leitor, por tal confundir somos uma civilização no pano
verde: uns em volta, jogando; outros, ganhando. Onde certezas se nos chegam em
meio às apostas que fazemos porque não falta quem veja na sorte uma verdade
insofismável, a ser buscada.
Como
esta terra brasilis em tão singular
instante.
Uma
aposta concreta, como carta política (aqui), foi jogada e hoje os milhares de mortos pelo
Covid-19 se tornam apenas o “azar” de quem perdeu a partida. Em meio ao jogo,
enquanto estes milhares (até agora) perdem a partida e a eles outros são
acrescidos, certezas vão se consolidando, entre elas o lance mais temerário,
encarnado no inquilino do Alvorada e sua trupe mambembe sem saber onde amarrar
a lona e o burro.
E,
para ocupar o tempo de nada fazer – ou dizer – de um membro de primeiro
instante vem a público com mais uma de suas singulares mensagens,
‘ilustrando/explicando’ em torno da pedofilia. Em entrevista à BBC, em dezembro
de 2019, ilustra aquela “que viu Cristo na goiabeira”: “Tem
abuso que é prazeroso para a criança, porque o pedófilo sabe como tocar, onde
tocar".
Diante
de (mais um) estarrecedor caso de pedofilia, que resultou em gravidez de uma
criança de 10 anos, abusada desde os seis, vem à rede aquela declaração como se
atual, porque a atualidade se tornou constante. O trágico tanto se repete como
aposta que se torna verdade.
Posto
diante do fato recente, acima posto, a declaração soa como impropério às
milhares de famílias atingidas pela pedofilia.
Mas,
aí está o busílis, caro e paciente leitor: estamos nos habituando ao macabro,
em todas as dimensões. A declaração da Ministra em dezembro passou e passava ao
largo até que retirada do contexto temporal do ontem (2019) para o hoje (2020).
E caminhamos para até descobrir que a ministra encontrará seguidores como o
encontra o inquilino que a chefia.
O
que é verdade o é por sê-lo, lecionava Aristóteles (385 a.C.-323 a.C.). O que não o é torna-se,
quando muito, dúvida. A verdade como certeza tem, portanto, contraponto na
dúvida. A dúvida é materialização da incerteza, jogado sobre o pano da mesa de
apostas, como aventura.
Neste
cassino proliferam os manipuladores – lideranças ditas cristãs e autores de
autoajuda embalando seguidores – afirmando certezas e as pondo na mesa para as apostas.
E o que antes fora apostas agora são certezas. Na balbúrdia cotidiana, prenhe de
aberrações, legitimadas por omissões das instituições, vivemos em meio a tantos
ópios o mais tupiniquim deles: o presente institucional, onde presidente e
quejandos que o seguem refazem conceitos.
O
Brasil aí está para confirmar.
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