“Eu já perdi o meu país e preciso encarar isso todo o dia” (no 247). A declaração de Márcia Tiburi dimensiona o clima de desencanto que acomete parcela de nossa gente, diante de um editorial da Folha de São Paulo pondo sob idênticos pratos de uma balança o inquilino do Alvorada e a ex-presidente Dilma Rousseff.
E
nós outros – não bastasse tal proceder do jornal dos Frias – acompanhamos a
decisão do CNMP (Conselho Nacional do Ministério Público) que determinou o
arquivamento de uma representação contra Deltan Dallagnol por conduta funcional
indevida no caso do power-point por ele alardeado onde punha – e exibia com
tudo que o sensacionalismo permitia (horário nobre, Jornal Nacional na TV Globo
etc.) – o ex-presidente Lula como “chefe de quadrilha”.
Sabido
e consabido que – afastados o “eu acho” e os “fatos indeterminados” – nada se
provou contra o ex-presidente, razão por que aquela manifestação de Dallagnol
em horário nobre ao vivo e em cores configura típico abuso no exercício da
função dirigido a outras finalidades, quais sejam político-partidárias.
Mas, a postura corporativa do CNMP não permite. Aquele órgão, que deveria exercitar a transparência, ser exemplo para outras instituições de como deve se comportar o servidor público diante da sociedade, apenas – quando chamado a se manifestar em torno de casos como o de Dallagnol – exerce o “eu tenho a força”.
Não
tenha o caro e paciente leitor, no entanto, como um fato isolado a postura do
Conselho Nacional de Justiça. Reverbera o que ocorre com outros órgãos, sejam
da magistratura, do ministério público em todos os níveis, do Poder Legislativo.
Nem mesmo os tão referenciados militares tidos – para alguns – como patronos da
ética: se o fossem o Tribunal Militar não teria absolvido o inquilino do
Alvorada da prática de terrorismo nos anos 80 do século XX. Ao contrário: em
vez de puni-lo agraciou-o com uma reforma/aposentadoria precoce aos 33 anos de
idade.
Como falar no CNJ sem lembrar que o STF guarda decisão em torno da suspeição de Sérgio Moro? Ambos – Moro e Dallagnol – corromperam o sistema judicial em sede de apuração e julgamento, mas... estão aí lépidos e fagueiros. Não nos esqueçamos daquele “Fachin é nosso” para demonstrar que, efetivamente, estamos no mato sem cachorro.
Tenhamos
a certeza de que vivemos em um país de instituições que se apresentam/exibem
como típica reprodução daquele personagem dos desenhos que atraía a criançada
nos anos 70 – He Man – e repete para que todos não somente ouçam, mas tenham a
certeza: “Eu tenho a força”.
Patrimonialismo
e meritocracia fazem valer a história desta gente nesta terra brasilis desde o imemorial de sua existência e reconhecimento
históricos. Neles a hereditariedade como praga singular: a que não se espalha,
apenas se concentra e não deixa ninguém se aproximar do feudo que encastela
seus membros.
Onde
uns poucos todo poder abarcam restando ao povo as migalhas. Magistrados,
militares, Ministério Público, políticos, auditores fiscais vivem fechados em
suas castas, cada vez exigindo mais não só a manutenção de privilégios, mas a
sua ampliação. Não há país que suporte!
Não
há pais que suporte, sim!
Inclusive tolerar um grupo hegemônico de mídia ditar o que este o aquele deva fazer, onde inclui na lista de seus cães amestrados o Poder Judiciário (salivando pavlovianamente com acenos de matérias em seus órgãos – jornais, revistas, rádio e televisão).
Editorial
de O Globo (do 247) reverbera a bílis: “Não
se deve esquecer o sólido conjunto de provas contra o ex-presidente”.
Ora, caro e paciente leitor, padecem os processos contra Lula justamente de prova consistente sustentada na verdade real.
No caso do tríplex (aventado pelo editorialista)
é justamente o que não existe: prova. Tanto que o julgador (à míngua de
elementos que comprovassem a versão da denúncia) colocou cágado no topo da
árvore e aproveitou para criar a jabuticaba do “fato indeterminado””, uma
variante do “eu acho”, para sustentar a condenação que partiu justamente de uma denúncia amparada em matéria de O Globo que especulava através de fake News a propriedade do tríplex
em favor de Lula, que nunca pertenceu a ele e que a OAS entregou à Caixa
Econômica Federal, seu atual proprietário
Não há quem aguente, caríssimo leitor.
Apenas “encarar isso todo o dia” e repetir com
Tilburi: “Perdi o meu país”.
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