domingo, 30 de julho de 2023

Quo vadis

 

“Para onde vais?” – teria indagado Pedro a Cristo, por aquele avistado quando fugia da perseguição implacável de Nero contra os cristãos. Mais que perguntar por um destino, a razão por que o Salvador caminhava para uma terra de horrores dos quais fugia, ainda que para ali houvesse buscado como missão. A resposta do Mestre o fez retornar e enfrentar o martírio.

A indagação se apropria a tudo que vivamos. Nestes trágicos tempos de indiferença mais cobrar repetir-se: “Para onde vais”? E convencer para retorno às lutas e convicções.

Ao largo das questões morais e éticas caminhamos por caminhos tortuosos de esquecimentos vários. Esquecemo-nos – nós, isso que chamam de Civilização – de como nos construímos e o destino que almejamos. Os que, vocacionados para a felicidade, padecemos por a havermos tornado mercadoria e objeto de lucro.

De um instante para outro, no plano temporal ao qual nos integramos, os avanços científicos mais e mais acentuaram a infelicidade humana, ainda que surgidos para diverso propósito. Porque a submissão material à compreensão de nossa busca tornou todo o resultado obtido em meio de acumulação desvairada.

Abrimos espaço até mesmo para conquistar o ‘espaço’ sob a propaganda de que através de tal conquista melhoraremos a vida planetária a partir de experiência obtida alhures. E mesmo encontrar futuro destino para a humanidade além Terra.

E assim, esquecemos – como exemplo – que a transgenia que existiria para ‘alimentar’ o planeta, e acabar a fome – reduzindo a escassez de alimentos – apenas se tornou domínio dos que lucram com ela.

Sob a conveniência dos interesses lançamos na vala do esquecimento toda a experiência anterior levada a termo sob idênticas previsões.

Estados poderosos partiram para investir na busca por mundos externos. Às favas este mundo!

Eis que começamos a perceber – pelo menos tudo vai ficando mais evidente – em torno do real objetivo da corrida espacial visando outros sistemas: diamantes, ouro, lítio, titânio lá estão.

A Terra – ficando insuportável em futuro não longínquo – começa a ser abandonada por aqueles que a destroem.

Não há quem os indague “quo vadis”. Ou – o que seria melhor – “qui vis ire” (por que queres ir), acrescendo: não aprendeste com teu lar e reduto?

Por outro lado, alguém parece demonstrar preocupação com o planeta. Defende-lo dos que relegaram a Humanidade – em dimensão considerável – à ‘desumanidade’ por simplesmente viver. Preocupação com aqueles que abandonam o lar, tradições, história e se afogam em busca de outras terras.

Há quem esteja a levantar a voz em defesa dos desfavorecidos, dos famintos e desvalidos, dos que encontraram como única solução para sobreviver enfrentar a morte em travessias em busca de um canto onde pousar.

Ainda que pareça tudo a caminho do desastre ainda há esperança.

Quem sabe um “quo vadis” de outras espécies não esteja dirigido à gente que se diz dona desta Terra!


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