A desigualdade planetária
mais se acentua nesta terra brasilis.
E não a tenhamos como fato recente. O que mais agrava o fenômeno reside no
surgimento de parcela da sociedade que detém decisão política para reduzi-la e se
volte para propor o seu agravamento
No plano da divisão social
– inquestionavelmente fundada na disputa entre os que detêm o controle dos
meios de produção e os que deles carecem – as desigualdades mais se acentuam a
partir da ausência de consciência em torno de valores universais, dentre eles a
igualdade.
O desenvolvimento demográfico
se pautou – desde que o homem descobriu os meios de fixar-se – a partir do
processo de acumulação do excedente da riqueza produzida em razão da superação
do nomadismo. Naturalmente, a possibilidade de tornar-se detentor de
reconhecimento e poder por mais dispor que outros alimenta o primitivo estágio
de segregação social.
Daí apenas um instante
para concentrar mais e mais espaços que assegurassem a ampliação dos domínios
que, obviamente, não tinha como atender a todos; e uns – maioria – passaram a
sobreviver servindo aos que ocuparam e detinham os primitivos meios de produção:
agricultura, criação de pequenos animais etc.
Ou seja, neste contexto a
igualdade cobrava a distribuição da riqueza produzida, mais próxima de evitar a
exploração de uma classe social sobre a outra. O que não foi percebido ou
tentado.
De um instante para outro
tudo desaguou na necessidade de um instrumento (alheio) de controle,
estabelecendo regras de convívio e proteção ao produzido. Natural que este
avanço não ficou submetido à igualdade (afastadas algumas experiências como a
ágora na Atenas antiga, ainda assim afastando dela a participação dos escravos).
Surge então a figura de
uma unidade política – constituída no Estado moderno – que evoluiu
historicamente para conformar o processo de controle do Estado através de
instituições centralizadas definidas para fins específicos: administrar,
legislar e dirimir conflitos.
Como visto, a desigualdade
encontra raízes na primitiva Civilização e mais ou menos acentuada conforme a
conformação e a gestão do Estado.
Pari passu algumas
experiências sociais – para enfrentar os limites de que dispunha –
desenvolveram a proteção aos seus como meio de defesa de sua produção, de sua
gente, fechando-se para estranhos. Como apêndice às desigualdades em tal
estágio, o que se denomina de xenofobia (do grego xenos + phóbos), medo ao
estrangeiro, uma das características da antiga Esparta.
A defesa de interesses
nacionais (interna e externamente) desenvolveu um processo de invasão e
conquista (para o primeiro caso) e separação de porção da unidade política
organizada (segundo caso).
Não tenhamos dúvida diante
da experiência pátria, como levado à abertura do presente texto: a desigualdade
planetária mais se acentua nesta terra
brasilis. Tal é gritante, avilta a consciência humanística e lança à
interrogação a razão por que de tal ocorrer.
Nossa história o diz,
desde sua origem: terra destinada à conquista e à exploração. Naturalmente por
uma classe dominante que se instalou para tal desiderato.
E na esteira do processo
um sistema xenofóbico inverso: o temor e ódio do estrangeiro ao nativo.
No entanto, ainda que de
forma capenga, caminhávamos para superar tal estigma e desconhecíamos quem a
defendesse abertamente. Até porque vedado em sede constitucional.
A uma por pretender
reduzir as desigualdades de todas as formas como “objetivos fundamentais da
República Federativa do Brasil” (CF, art. 3º); a dois, porque a República
constitui a “união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal”
(CF, art. 1º).
Diante de avanços tais
presumíamos a plena superação de pretensões pautadas em secessão e xenofobia,
imaginando como lançadas às calendas experiências pretéritas aqui levadas a
termo.
Enganamo-nos redondamente,
caro e paciente leitor. E para traduzir em nível nacional o “pense num absurdo
como precedente” de Otávio Mangabeira eis que alguém, do alto do Palácio da
Liberdade (que ironia!), proclama aos quatro ventos a união em torno da divisão do Estado Nacional em dois: o deles (adredemente
escolhido e delimitado) e o do resto!
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