domingo, 27 de agosto de 2023

Entre a pareidolia e o estoicismo

 

Perceber algo onde não haja qualquer significado, prevalente a aleatoriedade e em torno dela destilar ódio parece-nos fenômeno que nos foi impregnado recentemente. Em espacial quando arautos de tal contemporaneidade se tornam(ram) referência ‘pela insistência’ com que são vistos, acompanhados ou percebidos.

Temos – quando a paciência se nos acomete amparada na perspectiva de percebermos se algo está mudando ou sinalizando para tal – o bissexto hábito adquirido de gastar o tempo (no sentido estrito) tentando assistir os atuais ‘debates’ em comissões (mistas ou não) do Congresso Nacional.

Tal sacrifício para os que não se amparam em “minhas convicções” abre as portas para um universo desconhecido da capacidade humana de ‘involuir’ quando o processo civilizatório se propõe a avançar.

Percebe-se no imediato – como ocorre assistindo sessões de tribunais superiores – que a possibilidade de ter sua imagem vista por milhões aprofunda o narcisismo de cada um e sublima tal entender em imaginar-se capaz de impor ‘suas razões’ ainda que não haja razão alguma com fundamento lógico em torno de muitas das ilustres interpretações e conclusões.

Neste particular não há concorrência de quem quer que seja diante de pronunciamentos legislativos hodiernos.

Em tal seara percebemos que aquilo que tornou notáveis Padre Antônio Vieira, Joaquim Nabuco, Otávio Mangabeira, Carlos Lacerda, Milton Campos, Paulo Brossard, Waldir Pires, Antônio Balbino (entre centenas Brasil a fora) não encontrou substitutos, seja no campo da retórica, do domínio do idioma pátrio, da eloquência e – principalmente – de convicções.

Muitos dos atuais discípulos de Péricles, Demóstenes e Cicero enchem os pulmões para vociferar em torno do que reputam como imaginação fértil e somente os discípulos de Zenão de Cítio (Séc. III a.C.) conseguem ouvi-los exercitando mais a comiseração que a paciência e pondo em dúvida se o cosmos em que vivemos é o mesmo que lhes deu origem.

Eis que percebemos que aquele fenômeno psicológico comum em todos os seres que somos, conhecido por levar as pessoas reconhecerem imagens de rostos humanos ou animais em objetos, sombras, formações de luzes e em qualquer outro estímulo visual aleatório em nuvens, paredes, sombras e quejandos tais tornou-se paradigma realístico.

Então nos descobrimos helenicamente estoico, como utilizada a palavra na contemporaneidade: resistindo paciente e indiferentemente. 


Nenhum comentário:

Postar um comentário