Ensinaram-nos a pedir bens materiais como reconhecimento ao nascimento de um ser especialíssimo, que dataram – conforme o atual calendário – como vindo a este planeta de todos nós no dia 25 de dezembro.
Teria nascido em
uma estrebaria e agraciado com a surpresa de pastores, ovelhas, vacas e jumentos. Iluminado
por uma Estrela Guia.
Antes do contemporâneo ensinamento durante séculos alimentou a esperança de milhões por um mundo melhor. Lembrado através da reprodução do cenário simples em que nasceu que lhe deram por nome presépio, trazido por São Francisco de Assis em 1223.
A instalação de
um deles em qualquer espaço remetia de imediato à lembrança de um Salvador para
a Humanidade para quem viesse a seguir suas mensagens, todas pautadas, antes de
tudo, no Amor.
Eis-nos que neste 2023 - passados oito séculos da lembrança franciscana não vemos como – humanista e humanitariamente – comemorar.
Quase no limiar da noite sagrada somente uma
família – em meio a um punhado de crianças dentre outras mais de cinco mil que
já sucumbiram – perdeu 76 de seus membros bombardeados por viverem próximo aonde nasceu o
Salvador e o local estar no centro de ambições que contrariam a mensagem deixada por Aquele.
E corremos por ruas e praças em busca de uma manjedoura.
Porque
“A poesia, como os poetas, não morre” (Jean Cocteau) restaram-nos versos de pedidos em aberto:
Ubuntu
“Eu sou porque nós somos” – Ubuntu
diz a sabedoria Xhosa, ensinando
a todos o valor e a importância
da solidariedade como razão
Não há maior lição que isso
compreender e praticar no dia a dia
a singularidade universal de que
nada somos, como ser, sem o outro
Esquecida lição, nem mesmo aprendida
por tantos, os muitos que se apropriam
da razão que nos faria aperfeiçoados
destinados a alegrar o Deus da Criação
Afinal, “Como um de nós pode ser feliz
se todos os outros estiverem tristes?”
Século XXI
No presépio de então
a infância tenra
o armava conforme a tradição
Avenidas e ruas de papelão
da fonte correndo água
lantejoulas cintilando
no céu de papel
Nele a manjedoura refletia
da penúria exibida
o sorriso da Redenção
Os magos reis
caminhando
um pouco a cada dia
Tudo no mais ali
somente completava
a mais pura devoção
Não mais o presépio de então
nada lembra a tenra infância
armando sadia tradição
Na manjedoura não há a santa penúria
tão somente exibição em fúria
de hodierna ostentação
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