domingo, 14 de janeiro de 2024

Conto de fadas - Parte I

 

Havia um país muito distante. Todos felizes sob a condução de um Sultão muito bondoso ao qual tributavam respeito e recursos. País pequeno e de poucos habitantes – não chegavam a 50 mil – razão por que todas as decisões do reino proclamadas diretamente a eles na grande praça ladeada de jardins encantadores em frente ao palácio real.

Sentindo que a vida terrena chegava ao fim o vetusto soberano chamou o Grão-Vizir e passou-lhe as determinações de última vontade resumidas apenas na expressão: “Quando me for não permitam o surgimento de um novo rei”.

Impactado com aquela decisão, de logo indagou o fiel conselheiro, como o reino seria administrado: “Como outro Sultão somente seria entronizado depois do oitavo mês de minhas exéquias você cuidará deste povo. Antes que o prazo se conclua chegará de uma terra distante um ser trajando púrpura e sedas banhadas a ouro que será apresentado a todos e ditará o futuro do país. Até lá, como último ato de vontade, anulem-se todos os processos e esvaziem as cadeias de todos os tipos de criminosos para que possam ser reconhecidos iguais a todos os que ouvirão as ‘boas novas’. Editem em todas as praças estas minhas disposições”.

Duas semanas depois passou desta para a melhor o bondoso monarca. Ultrapassados os dias de luto e sepultamento iniciou-se a espera. Afinal ninguém podia prever dia, mês e hora. Apenas que tudo aconteceria no máximo de oito meses.

Enquanto aguardavam indagavam-se em torno do que viria. Intrigava-os que mesmo o primeiro ministro sabia tanto quanto eles.

Um dia ouviram-se as trombetas. Um homem solitário trajando púrpura e seda apareceu no horizonte e cresceu sob os olhares. O ministro regente recebeu-o e de imediato levou-o à escadaria do palácio de onde pudesse ser visto e em plenitude ouvida a sua mensagem.

“Saúdo este encantado povo de um país que será celeiro do mundo e pátria para a humanidade. Enviado o fui para organizar a sucessão do nosso estimado e generoso monarca dentro dos paradigmas que norteiam o bem-estar da sociedade de onde venho. Pediu-nos ele – que o Alto o tenha – quando nos visitou que – após a sua morte – trouxéssemos nossa experiência, que tanto o encantou, para tornar este povo o que ele sonhou e não conseguiu em vida. Conhecera nossos lares, nossas estradas e avanços tecnológicos. Impressionou-se com as homenagens proferidas por nossos representantes, com a pureza das ideias expressadas em palavras doces, e ouviu sobre as importantes reformas introduzidas nos últimos anos e que muito em breve dariam os frutos, porque – como diz um de nossos augustos lemas – temos que fazer o bolo crescer para partilhá-lo com o povo e, para tanto, todos hão de dar sua cota de sacrifício. Até porque é dando que se recebe. E ouviu deste humilde tradutor as razões por que tudo ocorria, pedindo-nos encarecidamente que tudo aqui fosse aplicado que se fosse.

Como de sua última e benevolente vontade, não mais uma só pessoa regerá os destinos desde povo. O próprio povo o fará.

O projeto para o país será efetivado em duas etapas; a primeira, constituindo o Estado Democrático de Direito e as instituições que o regerão, bem como a composição e forma de acesso a essas instituições; a segunda, as formas e meios de organização da sociedade civil.

O Estado Democrático de Direito – o Estado a que todos devem respeito à lei – será edificado sobre três pilares; um poder para administrar, outro para elaborar leis e aquele que dirá a última palavra sobre o cumprimento das leis

Para a sociedade civil; a imprensa – que será o quarto poder – instrumento da sociedade para fiscalizar os interesses de todos; a religião, para ensinar a temer a um ser superior e a respeitar o semelhante; o mercado, que controlará a produção e o consumo; e a educação, inclusive a científica, para consolidar as experiências e conhecimentos adquiridos que serão repassados e aperfeiçoados permanentemente.

Gostaria de conhecer todos vocês, um por um, mas como meu tempo é curto, a cada um que seja avaliado de antemão estará destinado a cumprir a honrosa missão.

Permitam-me descansar um pouco e, a partir de amanhã, o até aqui dito será melhor esmiuçado e cada um será ouvido e avaliado, quanto à capacidade e experiência, para assumir o destino predestinado.

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