Havia um país muito
distante. Todos felizes sob a condução de um Sultão muito bondoso ao qual
tributavam respeito e recursos. País pequeno e de poucos habitantes – não
chegavam a 50 mil – razão por que todas as decisões do reino proclamadas
diretamente a eles na grande praça ladeada de jardins encantadores em frente ao
palácio real.
Sentindo que a vida
terrena chegava ao fim o vetusto soberano chamou o Grão-Vizir e passou-lhe as
determinações de última vontade resumidas apenas na expressão: “Quando me for
não permitam o surgimento de um novo rei”.
Impactado com aquela
decisão, de logo indagou o fiel conselheiro, como o reino seria administrado:
“Como outro Sultão somente seria entronizado depois do oitavo mês de minhas
exéquias você cuidará deste povo. Antes que o prazo se conclua chegará de uma
terra distante um ser trajando púrpura e sedas banhadas a ouro que será
apresentado a todos e ditará o futuro do país. Até lá, como último ato de
vontade, anulem-se todos os processos e esvaziem as cadeias de todos os tipos
de criminosos para que possam ser reconhecidos iguais a todos os que ouvirão as
‘boas novas’. Editem em todas as praças estas minhas disposições”.
Duas semanas depois passou
desta para a melhor o bondoso monarca. Ultrapassados os dias de luto e sepultamento
iniciou-se a espera. Afinal ninguém podia prever dia, mês e hora. Apenas que
tudo aconteceria no máximo de oito meses.
Enquanto aguardavam
indagavam-se em torno do que viria. Intrigava-os que mesmo o primeiro ministro
sabia tanto quanto eles.
Um dia ouviram-se as
trombetas. Um homem solitário trajando púrpura e seda apareceu no horizonte e
cresceu sob os olhares. O ministro regente recebeu-o e de imediato levou-o à
escadaria do palácio de onde pudesse ser visto e em plenitude ouvida a sua
mensagem.
“Saúdo este encantado povo
de um país que será celeiro do mundo e pátria para a humanidade. Enviado o fui
para organizar a sucessão do nosso estimado e generoso monarca dentro dos
paradigmas que norteiam o bem-estar da sociedade de onde venho. Pediu-nos ele –
que o Alto o tenha – quando nos visitou que – após a sua morte – trouxéssemos
nossa experiência, que tanto o encantou, para tornar este povo o que ele sonhou
e não conseguiu em vida. Conhecera nossos lares, nossas estradas e avanços
tecnológicos. Impressionou-se com as homenagens proferidas por nossos representantes,
com a pureza das ideias expressadas em palavras doces, e ouviu sobre as
importantes reformas introduzidas nos últimos anos e que muito em breve dariam
os frutos, porque – como diz um de nossos augustos lemas – temos que fazer o
bolo crescer para partilhá-lo com o povo e, para tanto, todos hão de dar sua
cota de sacrifício. Até porque é dando que se recebe. E ouviu deste humilde tradutor
as razões por que tudo ocorria, pedindo-nos encarecidamente que tudo aqui fosse
aplicado que se fosse.
Como de sua última e benevolente
vontade, não mais uma só pessoa regerá os destinos desde povo. O próprio povo o
fará.
O projeto para o país será
efetivado em duas etapas; a primeira, constituindo o Estado Democrático de
Direito e as instituições que o regerão, bem como a composição e forma de
acesso a essas instituições; a segunda, as formas e meios de organização da
sociedade civil.
O Estado Democrático de
Direito – o Estado a que todos devem respeito à lei – será edificado sobre três
pilares; um poder para administrar, outro para elaborar leis e aquele que dirá
a última palavra sobre o cumprimento das leis
Para a sociedade civil; a
imprensa – que será o quarto poder – instrumento da sociedade para fiscalizar
os interesses de todos; a religião, para ensinar a temer a um ser superior e a respeitar
o semelhante; o mercado, que controlará a produção e o consumo; e a educação,
inclusive a científica, para consolidar as experiências e conhecimentos
adquiridos que serão repassados e aperfeiçoados permanentemente.
Gostaria de conhecer todos
vocês, um por um, mas como meu tempo é curto, a cada um que seja avaliado de
antemão estará destinado a cumprir a honrosa missão.
Permitam-me descansar um
pouco e, a partir de amanhã, o até aqui dito será melhor esmiuçado e cada um
será ouvido e avaliado, quanto à capacidade e experiência, para assumir o
destino predestinado.
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