Quando nos imaginávamos trilhando a
Civilização eis-nos no estágio da pré-barbárie. Dizemos isso sustentado no
elementar raciocínio de que se retornamos àquilo que condenamos no passado e pensávamos ultrapassado
pecamos duas vezes.
Incomoda o ser humano – humana e
humanisticamente – assim compreendido, toda e qualquer atrocidade cometida contra
indivíduos da espécie no curso da História. E isso que chamamos de Civilização
é fruto de um processo de evolução moral e ética, que transitou lenta e
constantemente no curso dos milênios recentes, consubstanciando a Moral em Ética e estabelecendo, através de ordenamentos jurídicos que superaram a
teocracia, a tirania, a monarquia absoluta etc.
Os desta terra de São Saruê vivemo-la
nos últimos cinco séculos o que nos coube cometer. Debret legou para que não
esquecêssemos tristes expressões da escravidão em sede brasileira, aquela que
utilizou o semelhante não como objeto de conquista guerreira mas para o viés mais
aviltante, o de vê-lo como mercadoria.
A pós barbárie
vivia(veria) no plano do inconcebível em dimensão civilizatória tão somente
como texto para estudo de contexto do absurdo. O processo de evolução de
valores em relação aos direitos naturais – o direito à vida, à liberdade, à reprodução e à ideia de justiça
– sem pretendermos reconhecer – como o via John Locke (1632-1704) – a
propriedade no rol de tais direitos, o que natural, no plano histórico, porque
partido de um dos próceres do liberalismo em época em que a pirataria era a mais
amena das formas de conquista da riqueza alheia.
Perdoe-nos o caro e
paciente leitor deste escriba de província. Em especial aqueles que têm os EEUU
como destino reverenciado e sonhado.
De parte dele – todos os
que convivem com ele o sabem – há um ‘testamento’ sem registro ou traslado em
cartório com o único e irrenunciável ato de última vontade: caso tenha que ver salva
a sua vida e dependa para tanto de passagem por sobre o espaço estadunidense,
ainda que o aéreo, por favor deixem-no morrer, caso contrário não dará trégua aos
que o permitiram quando em dimensão de ‘fantasma’.
Não se trata de xenofobia
como muitos desavisados diriam. Mas da conscientização construída no curso estudos e leituras de
fatos históricos. Desde tomada de territórios alheios (como o fizeram com o
mexicano, que perdeu o Texas, o Novo México e a Califórnia, que – além da
riqueza assaltada que fez elevar a riqueza do país – representam cerca de 14.9%
do território atual) sob força da pólvora ou do dinheiro. Coisa que pouco
mudou. Hoje premia o México com um muro de isolamento.
Ainda que não o seja em
nível federal, a constituição estadunidense admite decisões sobre o Estado
confederativo ser ou não assassino (assim o dizemos) ao admitir a pena de morte
para certo tipo de crime. Não precisa afirmar – ainda que não disponhamos de
números exatos – que hispânicos e negros em geral são os destinatários comuns
aos corredores da morte.
Temos particularmente
ojeriza à pena capital. Para nós, o fracasso civilizatório mais evidente. A uma,
porque não consegue reduzir a prática de crimes que a exijam; a duas, porque os
destinatários desconhecemo-los entre os abastados, a não ser que outras razões
(políticas) intervenham, da qual não escapam nem mesmo presidentes.
Mas o suprassumo do fétido
e asqueroso sumo chega com festa e pompa ao Tio Sam: não basta matar para
excluir o peso da sociedade, mas fazê-lo agonizar por minutos até que se fine a
vida.
Por onde tal barbárie está
a ocorrer a vida animal encontra o respeito que a humana não alcança: em fase
terminal é sacrificado, sim; mas anestesiam-lhe antes. Por lá a justiça não o
admite.
Quem pretenda assimilar um
pouco da verdadeira história daquele país – historiado pelo cinema, para não irmos
longe – verá que não se faz apenas de épicos, haja vista o que nos legam
exemplos como visto em “12 Homens e uma Sentença (1957), de Sidney Lumet;
Crime Verdadeiro (1999), de Clint Eastwood; “À Espera de um Milagre” (1999), de
Frank Darabont.
Para nos bastar por hoje,
não nos esqueçamos de como funcionam a condução de decisões judiciais e
investigações preliminares, basta pesquisar o próprio cinema assistindo, entre
tantos, “Sacco e Vanzetti” (1971), de Giuliano Montaldo, ou a minissérie para
TV (1977); “Os Intocáveis” (1977), de Brian De Palma; “Mississipi em Chamas”
(1988), de Alan Parker etc. etc.
No entanto, para não sermos
lisonjeado pela adjetivação da crueldade, não custa rir um pouco vendo
Carlitos, do inesquecível Chaplin, quando metaforiza o Estado na figura do
policial que o persegue, basta vê-lo.
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