sexta-feira, 10 de abril de 2015

Tratando



De 'p'

Em 1880 Guy de Maupassant traduziu em conto uma visão da realidade burguesa da França, tendo como palco o imediato da guerra franco-prussiana de 1870. Nele uma prostituta  Bola de Sebo, tão roliça o era  também vive a fuga a partir de Rouen, conseguindo passagem na mesma carruagem onde estão próceres da sociedade de então.

O centro do relato é o fato de que aquela marginalizada salvará a todos entregando-se a um comandante prussiano que isso exigia para liberar a viagem de todos. Satisfazendo-o contra a vontade, Bola de Sebo põe em prática altruístico desprendimento, mesmo em defesa dos que a fazem de simples ralé.

O tema  não bissexto  é aproveitado por John Ford, em 1939, para Stagecoach (aqui exibido como "No tempo das diligências"), uma das mais expressivas páginas do faroeste. 

Caso nada existisse no plano musical, "Geni", de Chico Buarque, é plena versão de Maupassant. 

Ainda na Literatura há um conto "Chuva"  tido entre os melhores de todos os tempos  de William Somerset Maughan (1874-1965), em "Histórias dos Mares do Sul", abordando a desintegração moral de um missionário diante de uma prostituta a quem insistiu em converter.

O que nos faz lembrar de prostitutas  buscando referência em Maupassant  é o fato de que contra elas reside um dos mais radicais comportamentos no campo do preconceito. O mais antigo, certamente.

Em Maupassant expressada a sordidez humana (muito bem sintetizada por Chico Buarque) de quem constrói mundos para si, somente olhando o semelhante na condição de escória.

Na esteira do preconceito contra as mulheres marginalizadas em decorrência de sua 'profissão'  de caráter moral  o desenvolvido contra pretos e pobres  nas searas racial e sociológica  fazem-nos integrar, com aquelas, ao tradicional tríduo de pês contemporâneos.

Afirmam os que se sentem ora marginalizados político-partidariamente que um outro 'p' passou a integrar o rol de preconceitos.

Pode ser e pode não ser  diria aquele filósofo de almanaque, para fugir à resposta que não domina.

Mas, quando fazemos comparações entre vários indicadores sociais, econômicos e financeiros do país em décadas recentes nos vem um quê de Bola de Sebo no espelho.

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