Confessante
A
imagem de uma administração público-municipal mais próxima está da avaliação de
seus cidadãos, porque diretamente a eles vinculada e por eles sentida
cotidianamente. A propaganda que se faz de suas excelências repercutem em
cobranças. Nada mais que exigências para que corresponda ao que expressa como
virtudes.
A
atual gestão itabunense nasceu com propostas ambiciosas, onde a moralidade e a
marca a que se propunha – uma cidade da Paz – materializavam o sonho de fazer
seu administrador lembrado no inconsciente coletivo futuro como referência. Mormente
– quanto ao primeiro aspecto – por suceder a gestões mais imediatas que não
poderiam ser consideradas paradigmas de moralidade.
Por outro lado, a abstração ‘paz’ – como marca da gestão – trilhava em torno de uma
circunstância eminentemente utópica. E como tal, impossível. Justamente por não
depender da vontade unilateral de um gestor, mas de um universo complexo de
políticas públicas onde o município, isolado, não detém controle absoluto sobre
a quase totalidade delas, razão por que – caso obtido sucesso – estaria ele tão
somente no plano de coadjuvante. É possível que alguém imaginou que pedir,
buscar e orar com fervor pela paz bastasse. Que o espiritual vencesse milagrosamente o material,
pela força da Fé, assim que se expressasse.
Ainda
que trilhando por caminhos que refletiam a preocupação com o administrar ideal,
não há que se dizer que tal pretensão tenha alcançado o êxito sonhado.
Denúncias ocorreram e, não fora a credibilidade individual do prefeito
municipal, estaria sua gestão no rol do igual à outras.
Há algo que ora assoma na gestão e tem sido objeto de atenção e crítica: a possível
existência de uma ‘indústria’ da multa para encher as burras do erário. A
dificuldade em negá-la fica flagrante, revelada na postura de agentes de
trânsito e seus ‘caderninhos’ de multas. Até mesmo a ‘zona azul’ apareceu no
rol das críticas, quando alguém se descobriu cobrado por estacionar quando não lá estava.
Exagero que seja, a conversa surgiu. E – como afirma a sabedoria popular – onde
há fumaça há fogo.
O fato se desenvolveu e chamou-nos
a atenção uma recente Nota de Esclarecimento emitida pelo Sindicato dos Servidores
Municipais de Itabuna. Feita divulgar na quinta 27. Com singular universo de
fatos esclarecidos.
Em sete parágrafos a Nota se expõe em:
1. Assumir uma responsabilidade de defender o que
não lhe diz respeito institucionalmente uma vez que tal ‘indústria’, em
existindo, não é posta em prática pelo sindicato e sim pela administração
municipal. Na hipótese de estar se beneficiando de dita ‘indústria’ no mínimo
ocorreria uma estranha relação de caráter criminoso, em torno da qual não
enveredamos por discriminar em torno de possíveis ilícitos praticados;
2. Expor a existência de legislação municipal,
desde 2004, a legitimar a ‘produtividade’ que beneficia os diversos agentes
fiscais do município (Tributos, Indústria e Comércio, Sedur, Vigilância
Sanitária e agentes de trânsito, “dentre outros”);
3. Particularmente, para a produtividade “No caso dos agentes de trânsito são levados em consideração os
registros de acidente de trânsito, condução por embriaguez, participação em
blitz, operações extraordinárias, escalas especiais, palestras educativas e
vistorias veiculares”;
4. Trazer a público que “Desde o governo passado
não se paga hora extra nem adicional noturno para estes profissionais” e que tais
direitos são convertidos “em pontuação” para a produtividade;
5. Denunciar que “Em maio deste ano o Sindserv procurou a Câmara de Vereadores
para garantir a distribuição equilibrada e a adoção de critérios claros e
objetivos para a pontuação, que na gestão passada contemplava apenas os
apaniguados da Settran e excluía quem trabalhava arduamente, especificamente os
agentes de trânsito”;
6. Registrar que “Infelizmente a Secretaria de Transporte e Trânsito preferiu
condenar todos os agentes de trânsito de Itabuna sem as devidas apurações,
comprovação ou direito de defesa ”.
Diante desta última revelação tem-se que os agentes
de trânsito foram punidos, sem o devido processo, pela Secretaria competente
por praticarem a indústria da multa. E como essa Secretaria tem titular – a
quem cabe a última palavra, ou pelo menos a iniciativa – teria realizado manu militari a punição.
Tal aspecto – a punição – promovida (conforme a
denúncia sindical) ao arrepio da lei, remete-nos a levantar uma dúvida: dois
anos e oito meses de gestão e tal comportamento irregular somente veio a lume
agora.
Duas considerações ainda emergem da Nota de
Esclarecimento: 1. Quando ao soneto – existência ou inexistência de tal
indústria de multas – se põe emenda – impossibilidade de existência (da 'indústria) em razão dos
procedimentos fiscalizatórios internos – tal não tem o condão de impedir “que
casos isolados ocorram”, o que constitui uma afirmação do procedimento que
aflige o contribuinte municipal. Um segundo aspecto: no âmbito da Settran,
“apaniguados” foram beneficiados em detrimento de outros que também puseram em
prática o questionado procedimento.
Para nossa análise a Nota de Esclarecimento do
Sindicato é a confissão que a sociedade esperava. Da existência de algo que –
ainda que amparado em lei – pode ter se tornado uma máfia. Que ainda pode envolver a cobrança por guinchamentos, pátios de estacionamento etc.
E mais: tal fato, se confirmado, dificilmente
beneficia agentes de trânsito.
Um bom prato para ser servido ao Ministério
Público. Completo. Confissão e confessante que deixam a nu a atual gestão no modo de tratar do dinheiro que explora do contribuinte.
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