domingo, 29 de julho de 2018

Entre preocupações e o outro lado da rua

Cláusula pétrea
Diz-se cláusula pétrea em Direito àquela inserida, como disposição/mandamento, no seio da Constituição Federal insuscetível de alteração por emenda ou reforma ordinária. Simplesmente um dispositivo constitucional imutável. É o que ocorre, por exemplo, com as que integram o Art. 5º - Dos Direitos e Garantias Individuais.

Para as forças que promoveram – e conseguiram – o golpe, em que a pretensão única reside na entrega do patrimônio e riquezas nacionais, nenhuma força contrária ao propósito poderá vencer as eleições. Tal dimensão lhes é cláusula pétrea, inamovível.

Ainda que doa  por sua consequências e desdobramentos  como o diz o ator Fábio Assunção:

O que dói é um país boicotado, pessoas sem chances, doentes sem tratamento, crianças sem futuro. O que dói é o extermínio das suas possibilidades...”.

Acrescentamos: milhares de jovens sem poder retornar aos estudos e ingressar na universidade, mortalidade infantil retornando, assim como o país ao mapa da fome (ONU), 13,2 milhões de desempregados, 64,4% de trabalhadores fazendo bico para sobreviver (SPC Brasil) etc. etc. etc.

Para essa gente não interessa a dor alheia. Em especial, a dos pobres e dos desvalidos. Falta-lhes alma. 

Como Fausto, no poema de Goethe, venderam-na a Mefistófeles.

There is the question
Os sinais do instante político-eleitoral parecem demonstrar que, para os aliados progressistas, o ex-presidente Lula detém o pleno controle do processo. Em outras palavras: de Lula todos aguardam as ordens. Sob esse prisma o ex-presidente demonstra plena consciência de sua responsabilidade e esgota os meios e instrumentos de que dispõe para assegurar a candidatura sem perder – o que é importante – a responsabilidade com o que possa vir a acontecer.

Lula não é limitado como muitos imaginam. A direita sabe disso, tanto que – utilizando dos meios de que dispunha/controlava (mídia e judiciário) – o levou ao cárcere, único meio para evitar sua candidatura vitoriosa.

Os números apontados em pesquisas – em alguns casos levando-o à vitória ainda no primeiro turno – tornam-se um fator favorável ao ex-presidente, quanto ao que pretende.

Nessa briga de foice no escuro Lula tem o interruptor na mão. E saberá usá-lo.

Ou seja, mantem-se em evidência e ainda que o eleitorado saiba que está preso o tem aliado certo. Certamente em quem ele determinar que vote será o beneficiado da grande votação do petista.

Sob essa ótica soa a Lula mais seguro para a eleição progressista a manutenção de sua candidatura até os últimos estertores, indignando (e radicalizando em torno de seu nome) os que pretendem votar nele (ou em quem ele mandar). 

Dita fidelidade será mais facilmente mantida mais adiante que agora.

O capital político-eleitoral é imensurável. Mais importante estar ele no pleno domínio desse capital. Os sinais demonstram amplas possibilidades de transferência de votos. E, para isso, quanto mais tempo dispuser   e os retiver (eleitores)  mais seguros estarão os votos que transferirá.

Da cadeia ou Lula se elege ou elege. São sinais palpáveis.

Dúvida apenas quanto a um aspecto: não sendo o candidato imporá um nome do PT ou apoiará um terceiro?

There is the question.

There is another question
Os números do Vox Populi publicados no correr da semana reafirmam a liderança (crescente) de Lula na corrida eleitoral, a ponto de alcançar 41% das intenções dos que tem opção de voto (40%).

Não há dúvida de que o ex-presidente adota uma postura que poderá desembocar (inviabilizada a sua candidatura) na transferência de votos em percentual considerável.

Cumpre registrar que neste quesito – transferência – tal não ocorre por simples opção ou conveniência político-eleitorais, por se tratar de algo que muito está no plano simbólico. Ou seja, temerário afirmar que haja transferência para este ou aquele indicado em dimensão absoluta.

Um dado, no entanto, a partir da mesma pesquisa Vox Populi deve ser acrescido à análise até aqui posta: cerca de 60% dos entrevistados não decidiram.

Em torno deste número não se pode afirmar que votaria em Lula. 

Afinal, considerando que não se decidiram por ele até o presente instante muito mais difícil que tenha o ex-presidente a influência/interferência para ‘transferir’ seus votos a favor de quem venha a indicar.

Assim –  cabe presumir –  não tem o ex-presidente ascendência sobre eles e, por consequência, condição de transferir-lhes os votos para quem ele (Lula) indique.

Restaria a pressuposição de que tais 60% também não venham a se decidir por votar na situação. Engrossaria o número dos que repelem o atual estado de coisas entrando no barco da alienação que prega o voto branco ou nulo? Há neles consciência efetivamente em torno da gravidade do momento ou sua indecisão apenas resulta da massiva propaganda que denigre a classe política e a nivela por baixo, como chaga da sociedade?

Diríamos, a partir de Shakespeare: There is another question, de não pouca importância.

Unidade
Há muitos analistas que entendem, como imperiosa, a iniciativa de o PT renunciar expressamente a uma candidatura como contribuição à unidade das denominadas esquerdas.

Sem ironia, sabido que o plural só se aplica à esquerda, porque ninguém nunca ouviu falar nas “direitas”.

Mas, voltando ao tema. A unidade – essa sim, imperiosa – como meio de viabilizar uma derrota ao sistema presente não encontrou, até o momento, a dimensão em grandeza que o momento e a realidade exigem. Tal passa pelo desprendimento da renúncia individual (do partido ou grupo) em favor do coletivo (o interesse geral da sociedade/nação).

No entanto não se vê, não de agora, um trajeto para desaguar em tal final, à exceção da postura do PCdoB e sinalizações do PSOL no presente instante.

Mas – nunca é demais um ‘mas’ – a construção exige a consciência da renúncia e da aceitação. Mais se vê no quesito aceitação, e menos no de renúncia.

No afunilamento, cada vez mais estreito, começam a ficar flagrantes os detalhes não levados em conta em instantes pretéritos, que se tornam cruciais no agora.

Temos que Ciro Gomes tende a ser o mais afetado. Sua liderança não conseguiu convencer os demais em confiar nele. Seus acenos ao ‘centrão’ não causaram boa impressão, e sim, desconfiança, ainda que tenha sempre afirmado que não renunciaria aos projetos e programas para angariar apoios e a estes, sim, cabia acolher o que tem em mente para o país. Mas, soa ou o expressa a mídia, de que esteja num projeto personalíssimo. No jogo assim parece.

Desta forma a união das esquerdas depende, pura e exclusivamente, de uma pessoa chamada Lula.

Não sabemos se decidir por ver os demais unidos ao PT afirmará a pretensão à unidade. Tampouco em torno de outro nome/partido.

Unidade... Ah! Unidade!

O povo unido jamais será vencido
As palavras de ordem que encabeçam este texto nasceram como instrumento de chamada das forças progressistas encabeçados por partidos à esquerda, dentre eles – o mais clássico – o velho Partido Comunista Brasileiro-PCB (nada a ver com o travestido em igual sigla ora existente).

A união – o povo a ela conclamado – faz a força, define as estratégias e enfrenta o adversário até a vitória. A unidade como marca.

Nasceu mais a esquerda a conclamação. Hoje partidos de esquerda parecem fugir dela como o Diabo da cruz.

O povo desunido jamais será vencedor. Qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência.

Prestes
O “Cavaleiro da Esperança” foi criticado por radicais em diferentes instantes de sua vida, quando enxergava a necessidade de alianças para combater o inimigo comum. Percebia o que interessava ao país, como aliar-se a Vargas na campanha ‘queremista’ por entender que o ditador (ainda que o Estado Novo tenha sido algoz de sua mulher Olga Benário) tinha um projeto nacionalista.

Dos poucos a perceber que a direita sempre unida somente pode ser vencida por uma esquerda também unida. Esta detém maioria; caso dividida, perde.

Prestes conclamou Brizola a unir-se a Lula pouco antes de sua morte (dele, Prestes). Fazia-o dentro do princípio de que sem a união as esquerdas sacrificam a luta. E o povo, por consequência.

A falta de unidade entre Brizola e Lula (PDT-PT) em 1989 levou Collor à vitória (sem descartar a manipulação do debate último elaborado pela Globo).

Preocupante
Jovens votando em proposta que em nada os auxilia. Apenas como reação ao desencanto. A maioria não teve tempo de viver para comparar os instantes decorrentes do período PT/Governo e suas políticas públicas aplicadas. Resta-lhes a reação desordenada, destituída de avaliação, perdida no vendaval, onde somente a sobrevivência fala mais alto no imediato.

Têm o imaginário construído sob os pilares da desmoralização das instituições políticas, particularmente parlamentares, como lhes é inserido pela mídia em ação contínua e permanente de desvalorizar política e políticos (de forma genérica) sem cuidar (porque o objetivo é outro, ou seja, aquele mesmo!) de separar o joio do trigo.  Nenhum valor lhes foi passado da importância da atuação política dentro de um estado democrático. O que implicaria, inclusive e necessariamente, sua participação ativa (deles jovens) no processo de (re)construção de uma classe política.

O nível de escolaridade não contribui muito para o discernimento. Para a quase totalidade um emprego e esperança de dias melhores (individualmente produzidos) refletem melhor (imediatamente) que a coletividade beneficiada que lhe alcance (mediatamente).

Anos 20 do século XX. Alemanha e Itália como amostragem maior. Não sabemos se teremos que desembocar novamente em ditadura. Mas do nazi-fascismo não escaparemos, ovo de serpente gestado, caso vitoriosa a ‘revolta’ de parcela considerável da juventude.

A saída? Esperamos que seja diversa desta premonição que soa a pessimismo. 

Ainda que fundada no realismo que se nos configura no caminho de colônia. 

Onde pode até não faltar emprego para os jovens, mas faltará Pátria e Soberania e lhes restará o recrudescimento do que hoje lhes atinge: violência, desemprego, escolaridade em declínio etc. etc.

No outro lado da rua
O mexicano Aristegui Noticias publicou e a edição em espanhol do Russia Today repercutiu: EUA teriam recebido apoio de Rogerio Macri para instalar bases no território argentino.

O Paraguai já havia cedido espaço para uma base estadunidense. Agora a Argentina – segundo a denúncia.

Uma delas, encravada na fronteira do Brasil, limitando-se com Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, incluindo Foz do Iguaçu/Itaipu. Ali, do outro lado da rua.

Com a conquista de Alcântara   caminho  e manobrando militarmente na Amazônia brasileira, os Estados Unidos estarão dentro e fora do país. De fora, a um pulo.

Melhor dizer: com o país no bolso.





Um comentário:

  1. Muito profunda e completa sua análise sobre a política no Brasil.A falta de união entre os partidos ditos de esquerda e a falta de um espírito nacionalista mais forte entre os mais jovens,torna mais dificil a escolha de candidatos dignos e capazes de reverter esse cenário caótico em que nos encontramos.

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