Manual de sobrevivência em tempos de estio
Verifique se você se confirma dentre pessoas com qualquer
um dos seguintes perfis, não necessariamente pela ordem de referência:
a) militante do PT, do PSOL, do PCdoB, do PCO,
PSTU, especialmente do PT;
b) integrante do MST, MLT, MTST, CUT etc.;
c) defende reformas agrária e urbana, demarcação
de terras indígenas e quilombolas e já manifestou estas posições em discussões
nos ambientes em que frequenta;
d) aplaude a UNE e o movimento estudantil, faz,
ou fez, parte de Diretórios e Centros Acadêmicos etc.;
e) é artista ou ativista em defesa da cultura, do
teatro, do cinema, da dança etc.;
f) entende a defesa dos Direitos Humanos como
conquista da Humanidade e o Estado Democrático de Direito como paradigma da Civilização;
g) é contra – e já manifestou sua opinião – o
capital estrangeiro especulativo, o neoliberalismo e, por excelência, à
política externa dos Estados Unidos;
h) defende o regime de cotas como instrumento de
redução das desigualdades;
i) defende a soberania nacional como instrumento
da nacionalidade brasileira;
j) defende o uso das riquezas minerais e
aquíferas do país para benefício da sociedade brasileira;
k) é contra a qualquer forma de fascismo e de
autoritarismo;
l) criticou em algum instante o juiz Sérgio Moro
e demais figuras do Judiciário pela prisão de Lula;
m) admira Lula e o tem como um grande Presidente
da República e liderança mundial de seu tempo.
n) defende Sociologia, Filosofia, Ciência
Política e Economia Política como matérias obrigatórias nos currículos
escolares.
o) tem a escola como meio de formação do
pensamento crítico e a academia como espaço para o debate e conformação da
sociedade.
p) é contra a qualquer forma e manifestação de
preconceito.
Caso confirmado em qualquer dos perfis acima e
para evitar riscos por ser reconhecido como defensor de qualquer deles atente
para as seguintes lições:
1. Não
discuta com quem quer que seja sobre ideias. Nem mesmo as alheias, muito menos
as suas;
2. Não as exponha em qualquer lugar, a não a ser
na intimidade de seu lar, caso não tenha algum membro da família que participou
de caminhadas contra a corrupção, pelo impeachment, pela prisão de Lula.
3. Caso seja do conhecimento dos que estejam a
sua volta que votou no PT não discuta com eles nem mesmo sobre a vitória ou
derrota de seu time de coração
4. Até que a
poeira baixe (Deus sabe quando!) não utilize a cor vermelha no vestuário, saias
e calças, camisas e blusas, boné (uso de bandeira nem pensar!).
5. Não fale em Karl Marx e nem mesmo de “O
Vermelho e o Negro”, de Sthendal. A recomendação alcança Gramsci, sem dispensar
Proudhon, Rosa Luxemburgo e Mao Tsé Tung.
6. Nunca utilize Bíblia com capa vermelha.
7. Quando alguém disser que a tortura é natural,
porque Cristo se deixou torturar para salvar a Humanidade não faça cara de
espanto. Apenas meneie a cabeça como um bom ator, dando a parecer que concorda.
Nunca expresse discordância.
8. Retire de qualquer de suas falas em público a
palavra ditadura.
9. Ponha em prática, como nunca o fizera antes,
a lição de Carl Jung: “Aprendi a não dizer aos outros o que eles não podem
entender”.
10. Feche os olhos para tudo que aconteça à sua
volta, de briga de vizinho à prisão arbitrária de um amigo; do pedinte ao
desempregado; incluindo a criança esfomeada que lhe estira a mão pedindo esmola
à que acaba de ser assassinada como assaltante, viciada em droga, especialmente
se negra e pobre de periferia.
11. Para aperfeiçoar esta lição, NUNCA indague
por quê.
12. Por uma questão de segurança, para instante
mais aflitivo, tenha à disposição para uso uma camisa estampada com a frase de
Juraci Magalhães: “O que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil”.
Supimpa estar escrita sobre as bandeiras dos dois países entrelaçadas sob uma
foto vigilante da estátua da liberdade ou daquele clássico “Tio Sam” com o dedo
em riste..
13. Considerando
que cabe ao bom brasileiro reconhecer a vontade soberana dos que ora salvam a
pátria dos comunistas e anticristos, hereges e ateus, entenda necessário o
patriótico sacrifício decorrente das políticas econômicas proclamadas pelo
governo e aceite o empréstimo que lhe fará o bondoso agente financeiro da esquina
para pagar o aluguel até que sua vida permita voltar a comprar leite e pão.
Seguindo as orientações acima você poderá
sobreviver por alguns anos em paz. Até que a morte o alcance por desnutrição ou
doença não assistida pelo sistema público de saúde.
E para não pensar que o mundo acabou de vez feche-se
em seu quarto, a cadeado, e (re)comece leituras de Voltaire (muito sugestivo o
Dicionário Filosófico’) a Franz Kafka e volte a escutar “Opinião”, “Vai
Passar”, “O Bêbado e o Equilibrista”, “Apesar de Você”, “Pra Não Dizer Que Não
Falei de Flores”, Cálice”, “Angélica”, “Querelas do Brasil” etc. etc.
Podendo dispor dos filmes, assista Cabra Marcado
Para Morrer, O Caso dos Irmãos Naves, Olga, Batismo de Sangue, Pra Frente
Brasil, Eles Não Usam Black Tie, O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias, Zuzu
Angel, Manhã Cinzenta, Nunca Fomos Tão Felizes, Terra em Transe, Cabra Cega, O
Que É Isso Companheiro? etc. etc.
Para ironizar a história e rir de tudo, mesmo tragédia
shakespeariana, aproveite para (re)ler Febeapá 1, 2 e 3 (Stanislaw Ponte Preta),
e Máximas e Mínimas (Barão de Itararé).
Do quarto somente saia para o plebiscito sobre a
nova constituição “moderna, viva e adequada” (Costa e Silva) elaborada por
‘sábios’ e ‘notáveis’ (ou – quem sabe – um só deles, nos moldes de Chico
Campos, Carlos Medeiros Silva, Alfredo Buzaid, Gama e Silva), que poderá
incluir uma proposta de monarquia absolutista, que será promulgada por uma
constituinte originária nos moldes das ‘convicções’ que permeiam a atualidade,
ou seja, para ratificação do que pensam os ‘sábios’ e ‘notáveis’ ou – repetimos
– apenas um deles.
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