Não o país
A
Folha de São Paulo, em edital veiculado no início de agosto, quando ainda não
havia se agravado a crise política – uma vez que limitada então à busca de um
‘terceiro’ turno – analisava a crueza da insensatez por sua linha editorial,
tanto que titulado “Vácuo de legitimidade”, mas assim ilustrava a realidade:
“No PSDB, por exemplo, dado que o
impeachment levaria à posse do vice Michel Temer (PMDB), uma facção passou a
patrocinar a hoje inoportuna ideia de nova eleição – na qual seu candidato
derrotado, Aécio Neves, despontaria em vantagem.
...
“Fica evidente, porém, que uma ala
barulhenta do partido pensa que pode subordinar os meios jurídicos a seus fins
eleitorais, vergando as regras da democracia para encurtar o caminho até o
poder.”
Ao leitor não resta entender “vergando as regras
da democracia” com outro significado que não o de ‘golpe’.
De
lá para cá os fatos mais se acentuaram.
As manobras para ‘vergar a democracia’
tornaram-se mais escancaradas. Um ministro do STF (Gilmar Mendes) se reuniu com
o presidente da Câmara dos Deputados (Eduardo Cunha) e um outro par (Paulinho
da Força) para um café da manhã onde o assunto não foi outro se não traçar o
afastamento da Presidente da República. O expresso aqui não é ilação, mas a
repetição do quanto declarado pelo ministro Mendes.
Mais
recentemente foram aprofundadas as ‘razões’ para tal afastamento e definido o
seu meio: o impeachment.
Nesse
particular (o impeachment), cabia sua viabilização não porque fundado no
direito material mas naquele formal/processual produzido a partir dos
escaninhos da rabulagem de Eduardo Cunha, tanto que veio a ser questionado junto ao STF através de Mandado de Segurança.
O
descontrole avança desmedidamente para tornar o país no verdadeiro caos.
Mas,
não estamos diante de um caos para gerar vida, mas para aprofundar a morte.
Quem venha a ver o clássico “Kaos”, dos irmãos Paolo e Vittorio Taviani, o terá
em nível de utopia inalcançável diante da mediocridade tamanha que norteia uma
parcela considerável da classe política brasileira. Justamente por descobrir
que enquanto o artista retrata e constrói a vida universal o político local
comanda o Armagedon nacional.
Não
se vê o menor compromisso com o país e sua gente. Apenas a ganância desmedida e
infinita em sua dimensão multiplicadora – não aritmética, mas geométrica – para
ampliar a cornucópia extraindo sangue do erário.
Deste
caos brasileiro temos a certeza de que se sucesso obtiver levará a frangalhos o
país. Já o disse a própria Financial Times ao afirmar que essa
insensatez derrotará o país junto à comunidade internacional como capaz de
solidificar as instituições democráticas.
Sem
nenhuma dúvida vivemos a farsa como existência real. Uma farsa que nos
conduzirá à tragédia... também real.
Dele
(o caos) só está restando a visualização de que os ladrões e os escroques não
são mais privilégio desta ou daquela casta. Membros de todos os Poderes da
República encimam-se, de alguma forma ou meio, no altar construído por eles e
para eles há séculos.
Em nível particular do PSDB, nem mesmo se
ressente do cinismo que norteia algumas de suas lideranças a ponto de depender
– para suas escusas propostas e interesses de figura escroque e achacadora
(como o definiu ao vivo, em cores e nas fuças o então ministro Cid Gomes) do
ainda presidente da Câmara dos Deputados.
Os
grandes homens desta terra brasilis – em todas as vertentes do conhecimento –
são pálida lembrança no imaginário pátrio. Poucos, pouquíssimos, podem ser
honrados pelo reconhecimento.
Há
a esperança, no entanto, de que deste caos surja a luz de que tanto carecemos.
Afinal, os que se vêem apodrecidos em suas reputações – para não perderem o
status conquistado no curso dos anos – estão jogando sua Watterloo. Como Napoleão Bonaparte diante de Wellington.
Resta-lhes um
estreito espaço de tempo para a aposta decisiva entre a articulação e a
consumação de um golpe para escaparem à desmoralização absoluta.
Aí
a nossa esperança que nos se afigura no horizonte. De que caiam os que devem cair,
não o país.
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