quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Entre a sordidez

E a leniência
charge vai que o cunha é inocente

A semana continua – apesar de denúncias contra o presidente da Câmara dos deputados Eduardo Cunha – como se tudo estivesse sob controle daqueles que se imaginam timoneiros da opinião pública e vestais da moralidade nacional. Os graves fatos que implicam diretamente Eduardo Cunha no escândalo oriundo da Petrobras, como um de seus maiores beneficiários (a se confirmarem judicialmente os valores escancarados pela administração de bancos suíços) transitam como coisa de somenos valia por linhas editoriais comprometidas não com apurações em todos os níveis de responsabilidade dos que tenham se beneficiado de desvios de recursos de instituições públicas mas – pura e simplesmente – em ver defenestrada a presidente da república por humores e enxaquecas da oposição derrotada nas últimas eleições.

A Petrobras – por exemplo – bem poderia estar em todas as manchetes a partir da confissão de FHC em livro que será publicado mui brevemente. Para o ex-presidente – ora guru da desestabilidade institucional – aquela mesma Petrobras que ora satura manchetes de primeira página era um verdadeiro “escândalo” a seu tempo. Registra ele que, sob regência de Joel Rennó, percebeu que se tratava de caso para intervenção estatal não fora evitar a iniciativa (afirma-o) para não prejudicar a tramitação no Congresso do desmantelo da empresa através da alteração constitucional que promovia para quebra do monopólio, como publicado em O Globo:

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso revela, em ‘Diários da Presidência - volume 1’, que foi alertado em 16 de outubro de 1996 de que um ‘escândalo’ acontecia na Petrobras. O assunto foi tratado num almoço entre FH e o dono da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), Benjamin Steinbruch. O executivo havia sido nomeado por Fernando Henrique para o conselho da estatal.

‘Eu queria ouvi-lo sobre a Petrobras. Ele me disse que a Petrobras é um escândalo. Quem manobra tudo e manda mesmo é o Orlando Galvão Filho, embora Joel Rennó tenha autoridade sobre Orlando Galvão’, diz FH no livro, que será lançado no dia 29.

Causa espécie o fato de que ocorre visível e escancarada tentativa de derrubada de um Chefe de Estado sem que haja contra ele o mínimo fundamento legal, a não ser aquele que se origina na rabulagem da conveniência. A propósito, um filho de Hélio Bicudo diz do próprio pai, em carta publicada recentemente:

“Suas recentes ações têm encorajado a aproximação de grupos de extrema direita, os quais têm se aproveitado da espantosa guinada na sua trajetória pessoal e política nos últimos dez anos, para se promoverem à sua custa.

A visão ciclotímica dos acontecimentos no nosso país, amplamente difundida pela mídia conservadora, apostando sempre na indigência intelectual e na falta de senso crítico, tem estimulado pessoas, as quais no passado o criticavam, a defendê-lo agora.
...
Não há, portanto, como isentá-lo de responsabilidades, ainda mais que ele continua a se manifestar de maneira raivosa e grotesca, com argumentos que contradizem a sua história de vida de até há pouco tempo atrás.

Esperemos apenas que aqueles que o cercam no momento, se ainda lhes resta um mínimo de sobriedade, demovam-no das luzes dos holofotes, as quais, se outrora lhe deram alguma projeção e prestígio, hoje apenas servem para dar vida aos oportunistas que posam ao seu lado.”

E voltando ao olho do furacão – Eduardo Cunha – continua fanfando, como se nada estivesse a ocorrer. Como o diz o mesmo O Globo – que o incensou até há pouco, Eduardo Cunha não pode mais presidir a Câmara.

Mas, para quem acompanhou a sessão daquela casa ontem parece que tudo está sob o absoluto controle do achacador (como o disse ao vivo e em cores Cid Gomes).

Na abertura do editorial acima disponibilizado é lembrado que Severino Cavalcanti recebia um “’mensalinho’ de R$ 10  mil de um concessionário de restaurante”, fato que motivou a sua destituição/cassação.

Mas, tudo anda conforme pensam Hélio Bicudo, Eduardo Cunha e os quejandos (incluindo o TSE de Tóffoli/Cunha, em sua afirmação de competência para cassar a Presidente). Todos que se alimentam dos holofotes que iluminam a derrocada de instituições republicanas, conquistadas a duras penas.

E não se cobre aqui – porque não é o objetivo deste texto – a posição republicana cabível ao Procurador-Geral da República em relação às denúncias que envolvem o senador Aécio Neves.

Afinal, entre a sordidez dos Bicudos e a leniência de Janot não sabemos o que de pior para o Brasil.
  

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