Eis que este
escriba de província se vê diante de uma escolinha chamada Terra onde o
espaço-tempo não existe, aula em andamento. Quando da chamada um aluno há muito
despercebido responde “Presente”. Todos se voltam para o ‘estranho’ tanto que
não mais dele se lembravam. Mas, ao saberem quem era reverenciaram-no. Afinal,
ali estava quem escrevera um dia sobre o Inferno, pondo um prólogo
estarrecedor: “Deixai fora a Esperança, Ó vós, que entrais”. Redigira seus
versos pelos idos de 1304 e 1321 d.C., ele que viveu entre 1261 e 1321.
Vão-se sete séculos
de seu existir. A se repetir.
Sua terra
natal padece de nova tragédia e não terá um outro conterrâneo, Giovanni
Bocaccio (1313-1375), para reverenciá-lo, tampouco escrever sobre tema tão
atual quando tomou a peste como motivo para o seu Decameron.
Também não
disporá de Luchino Visconti (1906-9176) para levá-lo à tela inspirado em Thomas
Mann, como o fez em “Morte em Veneza”.
Mas, eis que
a terra da loba que amamentou Rômulo e Remo alcança seara inimaginável nesta
contemporaneidade que denominam de Civilização: diante do estágio crítico – e da
impossibilidade material de atendimento – sacrificará no altar da estupidez
humana os idosos acima de 80 anos.
Estúpida
humanidade, que concentrou na mão de meia dúzia a riqueza que faria melhor bem
ao Homem se distribuída o fosse e parcela aplicada, ainda que mínima, muito
evitaria de tragicidade cotidiana em que vive, porque se houvessem recursos
públicos, ou mesmo particulares, investidos em prevenção e tratamento o quadro
seria bem menos grave.
Eis caro
leitor que a Itália – nação próspera, berço do Renascimento, pátria da Civilização
Ocidental ensaia um novo ‘círculo’ para o Inferno, o décimo, que pode ser
chamado de “o retorno à barbárie plena”. O Nono, acolhe os traidores, até que o
ultrapassemos, como o fazemos neste instante, para o encontro com a barbárie plena.
Vislumbrava
Dante a existência do Paraíso (o seu) – como o vê quando, ao lado de Virgílio, ultrapassando o Nono Circulo – a partir do túnel
onde refletidas as quatro estrelas do Cruzeiro do Sul, razão por que os
intérpretes o têm ao Sul do Equador.
Outro eis,
caro leitor: cá estamos, ao Sul do Equador.
E não somos
a Itália, não dispomos de Dante Alighieri, de Giovanni Bocaccio, de Luchino
Visconti.
Na Itália
programam deixar morrer os idosos acima de 80. Aqui, não necessários os octogenários,
nonagenários etc., porque os pobres e desvalidos de sempre estão dispensados de
qualquer programação. Apenas engrossarão as covas rasas dos cemitérios, longe
das estatísticas oficiais.
Porque por
aqui não há necessidade de medidas oficiais que ampliem o obituário. Não nos
faltam peças (in)significantes da classe dominante para – mesmo sabendo estar
portador do Covid-19 colocar seus amigos de São Paulo no mesmo jatinho e vir
infectar a gente humilde de Trancoso, em Porto Seguro.
A pandemia
que assusta o planeta corre por estas plagas montada no alazão chamado “perversidade”,
orientado por ginete chamado “incompetente”.
E não falta quem a assista e apenas aplauda com suas atitudes, porque todos iguais, deles unha-e-carne, lé-com-cré – como
diria vó Tormeza.
Enquanto
isso, depois de terem negado atracação nos vários portos do Caribe, aquela ilha
de comunistas e comedores de freiras e de criancinhas acolheu o transatlântico
inglês com passageiros acometidos de coronavírus que nenhum outro porto aceitou.
Na ilha a
solidariedade como exemplo. Por aqui – não duvide o leitor – não falta quem
queira se aproveitar da tragédia para levar vantagem. Não aqueles que estocam álcool
para revende-lo a preços exorbitantes; mas os que dispõem de outros tipos de
estoques como do autoritarismo respaldado em figuras de caserna.
Para eles,
afinal, Congresso, Judiciário, Democracia e quejandos civilizatórios tais são
embaraço para quem deseja o bem da Nação e ‘deseja’ curar o povo, mas só o fará
se dispuser de controle absoluto do
poder, ainda que venha a ser alcançado através de golpes. Única solução
para concluir a “missão” – dirão. Que bem pode começar com inusitado ‘estado
de sítio’.
Como nada
mais faltasse inovam: criam enfrentamento desnecessário e estúpido com a China
para agradar o “grande parceiro” do Norte, sem medir as consequências, como bem analisa Nassif.
E, em plena
pandemia do coronavírus, o governo federal (com minúscula, revisor!) cancelará contratos de médicos do Programa Mais Médicos até abril vindouro, como denuncia o DCM. ‘Só acredito porque estou vendo –
diria, se em vez de maracanãs da vida fora Coliseus, aquele narrador da Fox.
Como nunca
leram Dante Alighieri desconhecem o que lhes aguarda no Nono Círculo.
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