Fará parte do anedótico imaginar que aquele que pretende dominar o
mundo, suas riquezas, escravizar o semelhante faça-o anunciando seu projeto por
meio de assembleias populares. Que derrubar governos e submeter povos seja tema
de discussão em ágoras modernas, ou nas que se imaginam sucedendo-as (rádio,
televisão etc.).
E sempre foi assim. À sorrelfa, na calada da noite reúnem-se os
sátrapas em seus covis. Trafegam em carruagens fechadas atiçando os cães pelas ruas. Sempre foi assim, inclusive vasto tema explorado na
literatura. Os lobos não caçam a descoberto.
As coisas realizadas em segredo o são para que possam corresponder ao
planejado e ao decidido. E ninguém planeja o controle do planeta às escâncaras.
Desde que o vento é vento, e ventou para o homo sapiens a caminho de ser o sapiens
sapiens, democracia é instrumento de fazer valer o controle social por um dirigente
escolhido pela maioria. Tal ocorre por afinidades de interesses (governantes e
governados). Mas não se confabula com as multidões as políticas de Estado que
este ou aquele governo põe em prática.
A Democracia – não precisa aprofundar –
é apenas um dos meios por que se alcança o poder. O exercício do poder,
portanto, tem suas próprias regras, que nunca serão levadas ao povo para
discussão, porque – para isso – há representante e gestores eleitos para o
mister.
Sentimo-nos cansado – e não desistimos porque tal ação verbal não se
coaduna com o pensamento idealista – em ler, ver e ouvir em torno da realidade
imediata: a política e a econômica como sustentáculo do existir nesta sociedade
contemporânea. Sem serem levadas em conta – com a clareza ideal – as razões por
que de existirem na forma atual, fruto de um processo construído
historicamente, apenas aperfeiçoado aqui e ali, mas sem perder a essência em si
contida: o controle do poder não está necessariamente no exercício do poder.
Cansa pela superficialidade o lugar comum levado ao debate: ora tudo
recai sobre o inquilino do Alvorada, ora o inquilino culpa a todos que estejam
a sua volta desde que o alvo seja o de sempre: Lula, PT, comunistas, inimigos
da Pátria etc. etc.
Cansa, porque um ano já ultrapassado em que – reconheçamos tal verdade
– o inquilino do Alvorada nada fez além do que sempre representou e do que
prometeu. Consciente ou não nunca enganou. O histriônico que é sempre foi.
Quando muito podemos elevá-lo ao patamar patológico, mas nunca de que
‘enganou’.
Mas – isso o que muito cansa – o inquilino é centro e motivo para tudo.
Os que o criticam deixam de lado a razão por que está lá e –
mais significativo – porque permanece lá.
Mas, caro e paciente leitor, esta terra
brasilis tornou-se – não de agora – pródiga em manuais: de direito, de
política, de economia etc. Do manual não se pode exigir aprofundamento, porque
cuida ele de informar o básico para uso imediato. Nunca saber o porquê.
E quem trabalha com manuais nesta contemporaneidade foge – como o Diabo
da cruz – de analisar a realidade. Mais seguro reproduzir um pensar próximo à
homogeneidade, cuidar de expandir indefinidamente uma narrativa comum,
convergente.
A imprensa a grande cabeça de ponte, abrigo dessa gente: os mesmos
“notáveis”, os mesmos “gênios”, os mesmos “intelectuais”. Parecem ter ciência
de que erram, mas errando em conjunto não lhes faltará mercado e audiência.
Eis o porquê de tudo acima escrito.
Porque já anunciadas as mobilizações – à direita e à esquerda – contra
tudo e contra todos.
Cansa-nos tudo ver, tudo ouvir na certeza de que nada mudará. Porque
estamos na era do manual, do superficial. E o superficial é a discussão posta como
solução sem de longe tocar na razão do por que acontece.
Quem tudo aqui promoveu e quem de fora o comandou deixou o ‘manual’:
discuta o superficial, nunca indague por quê.
Ainda que você diga que é Verdade o que não é, ou nunca foi, Verdade.
Querem nos convencer de que a riqueza acumulada torna o homem
Humanidade feliz. Querem nos convencer de que não é a riqueza e a avareza que nos
tornou no que nos tornamos. Querem nos convencer de que entregando o que possuímos nos fará mais ricos. Querem nos fazer crer que desempregar é solução,
que destruir a Natureza é progresso, que empobrecer mais e mais os despossuídos
é caminho para sua própria melhoria. Afinal – para não enveredar por chavões –
que sermos mortos-vivos no pensar nos faz caminhar para o Conhecimento.
E por aí vai!
O não dizer como Verdade ao largo de dizê-la em plenitude. Apegados aos
manuais dos ‘notáveis’, dos ‘gênios’ e dos ‘intelectuais’ que convergiram para
o conveniente e nos dizem diariamente o que não é Verdade.
E ladramos enquanto a carruagem continua passando. Nela escondidos os
que tudo planejam, elaboram os manuais e remuneram quem os divulga como mantra ou dogma de Fé.
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