Aquele que se faz cavalgadura por convicção não falta quem sinta a hora
apropriada para defenestrá-la do plantão. E as ruas enchem-se de esperança. Uma
reedição de manifestações como ‘Diretas Já’ embala ‘sonhos de uma noite de
verão’ tupiniquim. Basta o povo nas ruas e tudo estará resolvido. Assim,
levemo-lo às praças e as portas se abrirão para a retomada do crescimento
com distribuição de renda, redução das desigualdades, justiça social e respeito
internacional.
Na esteira de esperanças que afloram em mentes
tantas há quem afague a ideia de que o inquilino está prestes a sair. Basta o
povo exigir.
Tudo belo, mas não vemos este sonho amparado na
plenitude da discussão em torno do dia seguinte a partir do porquê acontecido.
Levantamos senões à tais especulações, porque vemos
esperança vã em quem não percebe que a luz que o guiou ao Alvorada ainda não
está satisfeita em suas ambições. Porque não vemos ‘como’ acontecer se os
motivos que levaram a tudo que passamos ainda são ‘motivos’. Isto afirmamos porque
a obra – iniciada em 2016 – não está concluída. Caso contrário será imaginar
que todo o elaborado seria desprezado pacificamente e deixado de lado a sua plena
realização depois de ‘tanto trabalho’.
Naturalmente, para corresponder aos interesses em
jogo, a melhor solução ‘moral’ passaria por afastar o inquilino e elevar o vice
Mourão ao estrelato. Afinal – nos quesitos elaborados por quem banca o jogo de
interesses – lê na mesma cartilha: aquela referida no texto de domingo passado
neste blog – a partir da obra de Manoel Domingos Neto comentada no GGN – qual
seja integrar a parcela de militares que se subjugam a uma nação diversa sob o
manto da defesa de qualquer coisa que àquela não seja conveniente.
Para os beneficiados – destituídos de qualquer
resquício moral, a não o ser o que para eles o é, lucro acima de tudo, não
importando o que seja feito para que tal se consume, tampouco o meio de que se
valha – cada tropeço do inquilino e cada vexame, nada dizem se continua a
efetivar o projeto gestado lá fora com apoio de parte da classe dominante local
que explora aqui para gastar lá. Neste trilhar o que nele assusta é a possibilidade
concreta de sua megalomaníaca vocação ao absolutismo monárquico levar à interrupção
do butim.
Escrevemos o que ora escrevemos para estender além
destas linhas a certeza de que muito do que há de esperança panfletada,
anunciada, protestada não será consumada no atual estágio caso não se aplaine ou
se ajuste àqueles interesses. Começando por um pacto que os mantenha, nos
moldes da ‘transição democrática’ conhecida onde o mínimo alcançado resultou em
anistia para crimes contra a humanidade.
Tanto isso se confunde com a verdade que a única
coisa impossível de acontecer para essa gente é o retorno do PT ao governo
aplicando políticas em benefício da sociedade.
Por fim – para coroar o projeto em andamento – uma
anistia nas apurações legitimada pelo STF, que se resolve com a protelação de
decisões e, em casos de ordem penal, aguardar a prescrição.
Mas, caro leitor, acabamos de registrar: STF. Aí – para nós – o principal nó górdio a ser desatado. Desate que passa por conformar sua composição aqueles interesses. E nesse viés o inquilino tem papel crucial que é indicar membros. Como o PT indicou e o fez em prejuízo próprio e do país – tanto que parcela de suas indicações o escorraçou do poder – o que vem por aí para integrar a Casa consistirá no aperfeiçoamento de interpretações que favoreçam aqueles interesses em todas as searas (privadas, administrativas e políticas).
Sustentamos nossa descrença, alicerçada na profunda
desconfiança em relação às instituições desta terra brasilis, a partir do que lemos em textos oriundos de visão
progressista. Um deles escancara o que há dias vem sendo sinalizado: uma trégua
entre o inquilino e o STF. No contraponto, a grande imprensa (a serviço
daqueles interesses) sinaliza a profecia imediata: teria o inquilino sido
enquadrado pela prisão de Queiroz e outros, pelo STF. Nem falemos da postura
altamente ‘conciliadora’ do Congresso se aproveitamos as declarações do
Presidente da Câmara.
O pitbull ficou desdentado, porque enquanto dentes
teve rosnou ameaçadoramente. E um de seus alvos favoritos justamente o STF. Que
– muito brevemente – para o bem de todos os interesses e felicidade geral dos
mesmos – terá a composição dos sonhos. Assim, dentes os tenha, mas não os
exiba.
Caso alguém imagine alguma reação, esqueça. Editorial
de O Globo – tradicional representante de interesses estranhos aos do país
retrata – à perfeição – a realidade: "A prisão
de Queiroz pode ter ajudado Bolsonaro a entender que prejudica a si mesmo
tentar governar como se tivesse um impossível poder absoluto”.
Ou seja, o recado claro: o inquilino precisa se
limitar/compreender que dele nada mais esperam que “tentar governar” dentro do
sistema que lá o colocou e que disso não passa a sua ‘honrosa’ missão.
Eis a chave do nó górdio indesatável: o problema
não é o inquilino e seu desastroso governo para o país, mas pôr em risco que
tal não ocorra.
No mais nos resta, escriba de província que caiu na
besteira de aprender a ler e interpretar – para não morrermos calado – vivenciar
indignação suficiente a permanecer expressando a profunda tristeza que nos
acomete diante da destruição do Brasil, fato que avança nos bastidores aceleradamente
enquanto o inquilino do Alvorada vai ocupando sua função de boi de piranha para
que a boiada dos ‘interesses’ seja salva.
Há quem enxergue diversamente. O tempo dirá quem
tem razão.
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