segunda-feira, 22 de junho de 2020

Com a devida ironia e latinismo

Eis que continuamos (com a devida ironia e latinismo)

Muita coisa aconteceu no curso desta semana, a começar pelo inquilino do Alvorada estar assinalado como (muito) provável escondedor de foragido e garantindo a fuga de quem pode tornar-se um, porque investigado. Diríamos, em decorrência, que no curso da semana que passou muito foi precipitado, tamanha a velocidade dos fatos e os limites  exigíveis para quem trafega em estrada repleta de curvas sinuosas.

Mudança de água para vinho. Incluindo a utilização do aforismo "Cão que ladra não morde".

Bom instante – a considerar as especulações postas no texto anterior – para testar se os comandantes militares estão dispostos a sustentar um golpe para implantar uma ditadura que tenha Queiroz e outros quejandos como ‘salvadores da pátria’.

Em meio à balbúrdia – tônica deste governo surreal – o primeiro sinal do que representa o sentimento palaciano logo visto no desdobramento envolvendo uma peça singular dentro desta singularidade onde ministério para ser ministério exige, como condição sine qua non para o preenchimento do cargo, que a chefia seja exacerbação do surrealismo. E assim – como o exige o clima – sucede a exoneração de boca de um ministro de estado e a sua fuga para o exterior quando sob investigação, ingressando em país que fechou fronteira para brasileiros, o que permite a especulação de que para lá viajou amparado em passaporte diplomático (por ser ministro) quando já não mais o era e, muito provável, viajando em voo não comercial. Exoneração ‘de boca’ (ó língua!) porque a publicação do ato somente se deu no sábado (20) quando o indigitado já se encontrava em solo estadunidense.

Essa novidade, pautada na visão bonapartista do inquilino do Alvorada, nos remete a especular em torno do quão tamanha a autoconsciência de sua força e poder, a ponto de já ensaiar avanço sobre o planeta e expandir pelo mundo o caos que conseguiu implantar no Brasil.

Isso mesmo. Levado a exonerar o indigitado de logo indicou-o – certamente pelo nível e grau de sua ‘indukassão’ revolucionária – para o Banco Mundial, pilar da representação do Capital Internacional – assegurando sua fuga da terra brasilis.

Por este inusitado avanço não custa ironizar e ver em tal fato, e circunstâncias policialescas a envolve-lo, manifestação do inquilino do Alvorada (diante das reconhecidas limitações da figura indicada) – como primeiro teste de uma forma sui generis de iniciar o processo de reformulação planetária começando por transformar aquela renomada instituição em ‘tamborete de três pernas’.

Caso deixem esse rapaz vai longe! – diria Tormeza. Até porque ninguém imaginaria que no seio da extrema direita houvesse quem pudesse desmoralizar teorias que qualquer leninista-trotskista imaginaria para a sua luta contra o capitalismo: que o fosse comandada a partir do terceiro mundo.

Certo, caro leitor, voltando à realidade que nos afeta que, de segunda-feira passada para cá, nos vemos diante de um governo prestes a acabar – implorando para a cassação da chapa pelo TSE como saída honrosa – não porque as instituições funcionam(ram), mas porque o câncer que o carcomia entrou em metástase acelerada. Não porque o “fora” motivou o Congresso a pautar qualquer uma das dezenas de pedidos de impeachment, tampouco Judiciário exerceu a tempo suas funções (retardadas em meses) mas porque o câncer mostrou as caras e no ringue brasileiro o vencedor em apostas pede e implora para ser nocauteado.

Petronius (27-66 d.C.), contemporâneo de Nero, em Satiricon, testemunhou a sociedade contemporânea, onde ridiculariza a ‘alta sociedade’, e nem mesmo dispensou em torno dos militares de sua época. Precisa reviver no Brasil o seu Satiricon, até porque muito do que ironizou em relação àquela Roma, pelo palavreado e a freudiana fixação anal do inquilino do Alvorada em muitas declarações, pode estar a ocorrer nestas plagas. Certamente encontrará outros personagens desprovidos de pudor, uma outra antevisão da exploração social ao lado da hipocrisia e de anomia decorrente do caos, mas o encontrará, sim.

E trilhando pela ironia – naquela de pagando para ver – ficamos diante da efetivação ou não daquela ‘profecia’ de um cabo ocupando o STF, outro o STJ, outro o TSE, mais outro... e nos estados Tribunais de Justiça e Comarcas comandadas por cabos e sargentos das respectivas polícias militares.

Ou seja, o triunfo da república de Queiróz, aplaudida pelos mais de 50 mil mortos  decorrentes da pandemia na 'sexta-feira 13' em que se tornou o país. 

Miserere nobis!

Ora pro nobis et pro omnibus!


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