Registramos
na coluna anterior a Semântica e sua utilização nesta contemporaneidade
tupiniquim. Por que não afirmarmos que a significação de Democracia já se
materializa em outra interpretação?
“A gente vai arrumando as coisas devagar”,
afirmou o inquilino do Alvorada ao sinalizar a sua futura indicação para o STF
enquanto fazia críticas à Corte.
Sobejas
razões tem o inquilino. Há ano e meio está ‘arrumando as coisas’ e tudo tem
andado conforme o figurino projetado haja vista as aberrações que tem cometido e
nada lhe acontece. Como tem elevado críticas ao STF – acovardado – uma peça que
venha a colocar na sua composição pode efetivamente mudar inteiramente os rumos
de interpretações da Corte caso qualquer daqueles seis volte ao terreno
palmilhado (de macular suas interpretações para corresponder a interesses político-eleitorais).
“Arrumando
as coisas devagar” muito brevemente o inquilino do Alvorada terá a interpretação
da Constituição semantizada ao seu alvitre. Faltam curtíssimos cinco meses.
Indagará o
estimado e paciente leitor o porquê de nossa observação. Nada difícil.
Basta esquecermos o suplício chinês diário que ocupa os meios de comunicação de
massa e partirmos para analisar a postura de quem cabia, institucionalmente,
reagir e se mantém fritando bolinhos de bacalhau da Noruega (alguns regados a vinhos e
lagosta como acompanhamento). No contraponto a mesma conduta, com a prosa amaciada
do ‘respeito às instituições’.
É
simplesmente inconcebível que todo o mundo esteja a denunciar o que se passa no
Brasil e somente aqui tudo pareça normal porque as ‘instituições estão
funcionando’. Funcionando como cara pálida?
Um ensaio de
ativismo destituído de qualquer fundamento se expressa pelos quatro cantos do
país. Nada mais que reproduzir a liderança. Como esta é vazia de tudo que tenha
origem no pensar ou racionar lógico a boiada segue o boi nadador, ainda que
este os esteja conduzindo para o precipício.
Uma
tresloucada se exibe com armas empunhadas, se imagina perseguida política e
ameaça Congresso e STF. Um outro punhado lança rojões contra uma Corte de
Justiça em Brasília etc. etc. etc. etc. Outros – inclusive políticos – invadem
hospitais. Qualquer amalucado está se achando 'soldado' de um exército 'salvador da pátria'.
No país
pululam atos inconcebíveis de ocorrência em um Estado de Direito, sem que ocorra a repressão dos órgãos de segurança
institucionais.
“Parem o
Brasil que eu quero descer” – dizemos os atônitos diante do inconcebível.
O genocídio
urbano avança. Seja-o sob a égide da pandemia, seja-o pelo agravamento da
violência que avassala o tecido social. Como se não bastasse, atingirá em
dimensão de típico extermínio os povos indígenas em áreas remotas porque sobre
eles avançam grileiros, garimpeiros e mesmo ‘salvadores de almas’.
E lemos nas
redes a estupefação de alguns diante de tanto descalabro. Mas, neste
particular, não é tocado o cerne da questão: a razão por que de tudo estar
tolerado. Insistimos em nossa “paranoia” de que tudo se ampara no imediato
(local) e no mediato (externo). Ou seja: o programado lá fora para a
recolonização formal do país se materializa aqui dentro pela ação dos agentes
pátrios a serviço dos interesses de fora.
E o jogo que
não dará em nada vai se alimentando do “fora isso”, “fora aquilo” sem internalizar nas massas as reais causas. Tudo muito
bem programado para acontecer como está acontecendo, “arrumando as coisas
devagar”. Ano e meio já se foi e tudo certinho como boca de bode.
E as
instituições funcionando justamente em defesa disso. Porque, até que nos provem
o contrário, aí estão acovardados STF e quejandos judiciários legitimando a
“arrumação”. O STF, comandante mor, desde quando deixou de reconhecer decisões
de tribunais internacionais a que estava obrigado, assim como negar direito
líquido e certo de quem pretendia concorrer às eleições presidenciais e mesmo
ao se acocorar diante de uma ameaça militar. Na esteira TSE, STJ e quejandos
hierarquicamente inferiores.
Tudo aí
está, de fachada e fancaria.
A democracia
sob esta dimensão semântica é a que traduz o fracasso diante de seus
fundamentos, porque aquela conquistada se precipitou nas calendas e os seus
instrumentos institucionais – e o ordenamento jurídico-normativo dele
decorrente – não foram capazes de enfrentar o assaltante quando este lhe bateu à
porta: mandou-o entrar e que trouxesse as milícias todas de que dispusesse para
fruir da conquista e mais o fez: armou-os todos dos meios de que carecem para o
exercício do mister, inclusive financiamento com recursos públicos.
Não reagimos
quando devíamos. E por ficarmos calados nos habituamos à mudez. Não sabemos até
quando. E quando dizemos “não reagimos” não o fazemos em relação às parcelas da
sociedade que vão às ruas e protestam, mas tão somente às instituições em que
confiávamos, porque nos ensinaram a nelas acreditar.
No fundo a
democracia está sendo arrumada devagar para consumar seu suicídio. Uma democracia que não mais resiste nem mesmo a espirro de general de pijama.
Nenhum comentário:
Postar um comentário