A
significação das palavras representa um capítulo de singular importância no
estudo da gramática, tendo por objeto o sentido ofertado por elas dentro de
determinado contexto, definido como Semântica. Trazendo-a à compreensão no
plano da antropologia social não temos como não perceber que os fatos que ‘edificaram’
esta terra brasilis nos últimos
quatro anos estão a configurar significações que se expressam bastante
distintas do que antes imaginávamos.
Ora vivemos
a singularidade semântica decorrente da anedota do marido traído, que flagrou o
incidente acontecendo no sofá da sala, e que determina, como solução, a
retirada do sofá. Ou seja, a desculpa se torna mais importante que o fato em
si. Ou da montagem do argumento da fábula “O lobo e o cordeiro” – seja-o pela
lição de moral de La Fontaine ou de Monteiro Lobato – para reformular a
realidade. E como um tal de Covid-19 deu de crescer em número de contaminados e
mortos cuide-se de suprimir a informação por parte do governo e as ovelhas que
balem nas avenidas se vejam diante do lobo.
O inquilino
do Alvorada mantém-se no trilhar proposto e ameaça os movimentos que o criticam
com armas para confrontá-los; afinal estão córrego abaixo turvando a água que
bebe acima.
O quadro
clínico é de paranoia. Que tem causa nas incertezas, nos erros cometidos, na
insegurança, na absoluta incompetência para gerir. Não há como dominar a
realidade, muito menos como compreendê-la. E vai aproveitando a fábula, ameaçando
quem bebe córrego abaixo, dele lobo afirmando que turvamos a água que está acima enquanto tira o sofá (dados do
Covid-19) da sala.
Busca o
inquilino – e o tem demonstrado à sorrelfa – confirmar que o poder o tornou
forte. E o faz como lobo da fábula: a razão do mais forte é sempre a melhor
razão. Nele a inexistência de qualquer resquício de ética, fazendo prevalecer a
razão de que contra a força não há argumentos.
As
instituições estão brincando com o fogo que queima a democracia. Os discursos
enfrentam somente o inquilino do Alvorada sem demonstrar qualquer avaliação
concreta em torno do que tudo isso sustenta.
Ele não está
só. Pouca gente, há de se dizer. Também dizem que tem perdido aliados. Mas não
nos esqueçamos que outros aí estão. Que o diga o pentecostalismo católico, tão
dinheirista como os criticados evangélicos que vendem água do rio Jordão e
mesmo feijões milagrosos.
Mas, caro leitor, parecem não perceber (e dimensionar
o que isso representa) que com 550 cartuchos mensais e a liberação da venda de
metralhadoras antes privativas das forças armadas liberadas está sendo
construída a força como argumento.
O ministro
do STF, Gilmar Mendes (ambos – Mendes e STF – artífices do que aí está)
argumenta que pela Constituição não há admissibilidade de autogolpe. Ninguém
perguntou a ele, Gilmar, se 2 bilhões de cartuchos (possibilidade a partir dos
550 mensais liberados) entendem de Constituição, considerando apenas as armas autorizadas
atualmente para uso pessoal e caça (350 mil cada uma), como alerta a BBC Brasil.
A inquilino
do Alvorada tornou-se o fabuloso narrador conforme sua imaginação, seguido por
um punhado que saliva quando fala. Mas este punhado pode ser o detentor da
força que o inquilino detém através do poder que lhe outorgaram as urnas. Se
fraudulentas ou não que o diga a Justiça Eleitoral quando o desejar porque
quando deveria fazê-lo não o fez.
É tempo de
imaginar se há espaço para confronto, radicalização de pretensões ou de
conciliar, ainda que perdendo algo de si por pouco tempo para não perder tudo
por muito mais tempo.
É muito mais
necessário tentar pelo menos compreender a razão por que do catolicismo
pentecostal está pedindo apoio ao inquilino quando este retira dinheiro do
Bolsa Família destinado ao Nordeste para garantir custear comunicação (porque
as verbas orçamentárias já se esgotam), distribuídas entre amigos vários, entre
os quais busca estar o catolicismo pentecostal, louco para participar do
universo de fake news.
Afinal aí
está: a fábula nos ensina, o fabuloso a semantiza. Não lhe faltam leitores
aguardando a oportunidade de aplaudi-lo euforicamente. Como no velho oeste do
cinema: com tiros.
No caso
desta terra brasilis, tiros contra as
instituições para assegurar eternidade ao fabuloso.
Instituições
ajoelhadas no pelourinho, diante do feitor que as chibata. As mesmas
instituições que por nada (porque nada provado) tiraram do poder uma presidente.
Porque, pelo andar da carruagem, o negro terá nova significação muito brevemente: será a cor da luz do dia.
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