domingo, 22 de julho de 2012

DE RODAPÉS E DE ACHADOS-Dia 22 de Julho


AdylsonQuando o tema se esgota em si mesmo, um rodapé pode definir tudo e ir um pouco além.  
Adylson Machado

                                                                              

Silêncio de convento

demosAssim podemos metaforizar o simbólico silêncio dos pares de Demóstenes Torres no Senado da República assim que as denúncias contra ele se transformaram em espuma de sabão na folha de bananeira que lhe deram a pisar a caminho do cadafalso que preparara para si.
Dos 80 senadores em plenário no 11 de julho 56 votaram pela cassação e  24 transitaram pela absolvição (19) e pela abstenção (5). “Apoio” muito diferente do ocorrido da sessão da Casa, de 14 de março, quando discursou o hoje ex-senador negando as denúncias de envolvimento com Carlinhos Cachoeira, encontrnado apoio de 44 dos pares presentes, dentre eles Marta Suplicy e Eduardo Suplicy (PT), que rasgaram seda para enfeitar o denunciado.
Mas não estavam sós: outros senadores, dentre eles Pedro Simon, Jarbas Vasconcelos, Roberto Requião e Luís Henrique (PMDB) Randolfe Rodrigues (PSOL), Cristóvam Buarque e Pedro Taques (PDT), Carlos Valadares (PSB), Inácio Arruda (PCdoB), Mozarildo Cavalcanti (PTB), Paulo Paim e Jorge Viana (PT), Francisco Dornelles (PP), João Ribeiro (PR) reconheceram os “valores” de Demóstenes, ainda que arrasador fosse o peso das denúncias. Muitos falaram em nome de seus partidos. Dispensamos citar nomes do PSDB e do DEM por razões óbvias.
Hoje todos juraram voto de silêncio.

Terrorismo

Alguém, no teatro, sentiu algo cutucando o seu assento e ao buscá-lo percebeu que se tratava de uma agulha acompanhada de pequena e mortífera nota: “Você acaba de ser infectado com HIV”. Agulhas infectadas já foram encontradas em caixas eletrônicos e outras máquinas públicas.
Os detalhes acima os recebemos através de correio eletrônico e os fazemos circular e recomendar aos que nos lêem a transmissão das cautelas compatíveis.
Exagero que fosse, mal nenhum causa redobrar a atenção. Não custa ficarmos atento – diria  Tormeza

Até que enfim

Com alegria vemos, a partir das últimas edições da CartaCapital, que as regras do bem escrever e redigir começam a ser plenamente respeitadas. O quase nunca levado em conta hífen dobrado começou a merecer a atenção dos redatores da semanal.
A utilização do hífen dobrado se torna imprescindível para permitir ao leitor diferenciar o que é uma separação silábica (hífen simples, no fim da linha superior, dividindo a sílaba) do símbolo que representa a separação de palavras compostas (o primeiro, na linha superior; o segundo, “no início da linha imediata”).
Perguntaria o leitor desacostumado com a regra (que sempre constou dos Acordos Ortográficos) a razão por que da exigência. A resposta é simples: separar as sílabasda palavra me-ni-no remete a compreender que menino é uma palavra única; diferentemente de separar as palavras da composta rosa-dos-ventos.
Neste último caso, se a separação for das sílabas de rosa – hífen simples – mas se derosa-dos – hífen dobrado. É a regra posta na Base XX, Da Divisão Silábica, item 6º, do Novo Acordo Ortográfico: “Na translineação de uma palavra composta ou de uma combinação de palavras em que há um hífen, ou mais, se a partição coincide com o final de um dos elementos ou membros, deve, por clareza gráfica, repetir-se o hífen no início da linha imediata: ex- -alferes, serená- -los-emos, vice- -almirante”.
Parece complicado, mas é que falta escola para ensinar e textos para ler. Os livros didáticos respeitam a lição. Que levamos a sério, ao pé da letra, em nossos “Amendoeiras de Outono” e “O ABC do Cabôco”. E a CartaCapital começa a fazê-lo.

Chamando às falas

alpinoNão há dúvida de que a Presidente Dilma vai dando a cor que pretende a alguns temas brasileiros, tradicionalmente acomodados no bem-bom de viverem eternamente na rede sem incômodo. Nem o futebol escapou, quando o que dele afeto ao Governo justificou a pressão para aproveitar a oportunidade trazida por denúncias do exterior e a CBF – mesmo remunerando mensalmente o ex – substituiu seis por meia dúzia, afastando Ricardo Teixeira.
De maio para cá já percebemos nitidamente sinais desses tempos: pressão sobre o sistema bancário, que resultou na redução de juros; ações do Ministério da Saúde suspendendo a venda de novos planos de saúde, alcançando operadoras que não correspondiam ao que prometiam e, recentemente, a suspensão da venda de novos planos pelas teles.
Não sabemos se alcançará todas as metas que tenha em mente.

Eleições de ontem

Todo cuidado é pouco. Está vindo à tona a armação muito bem elaborada, envolvendo o bicheiro Carlinhos Cachoeira, o ex-policial e araponga Dadá, Mino Pedrosa (da Istoé), Vedoin Trevisan (dos sanguessugas), em torno do que ficou famoso como “escândalo dos aloprados”.
Fica muito claro, através de gravações da Operação Monte Carlo, que tudo foi armado contra o PT, para atingir o então candidato a reeleição Lula. Mino Pedrosa chega a falar que tem a “bala de prata” para “matar o barbudo”. O PT caiu como um patinho.
Tudo na CartaCapital desta semana.

Eleições

A eleição para a prefeitura de São Paulo torna-se alvo de atenção. Não pelo fato de ser o maior centro urbano do país, mas por dispor de dois elementos de significação específica: a candidatura de José Serra, que já foi de prefeito e ex-candidato a presidente da República por duas vezes (participando de quatro das cinco últimas eleições) e o apoio de Lula a Haddad.
A última pesquisa de opinião divulgada pelo Datafolha mostra a dificuldade que Serra enfrentará: continua patinando em 30% das intenções de voto, ainda que conhecido por 99% da população, que tem 37% que o rejeitam.
Celso Russomanno, do PRB, alcança 26% das intenções de voto e Fernando Haddad, do PT, chega aos 7%.
Detalhes: 55% dos paulistanos não conhecem Haddad e 60% tendem a se deixar influenciar pela indicação de Lula.

Novo partido

Não se afobe o eleitor. Teremos mais um partido, provavelmente, disputando as eleições em 2014: o PEN-Partido Ecológico Nacional, com o simbólico número 51.
Oficializado no último 19 de junho, ligado a evangélicos, já contaria com 30 deputados estaduais e 2 federais, pretendendo alcançar outros 18 na Câmara Federal dentro em breve.

Julgamento abalado

A decisão do Tribunal de Contas da União, reconhecendo validade dos contratos celebrados por Marcos Valério e o Banco do Brasil pode ser uma reviravolta no julgamento da Ação Penal 470 no STF, no particular da alegada “compra” de parlamentares para votar com o Governo.
Comprovado que o dinheiro das empresas de Marcos Valério era legal fica afastada a hipótese de que recursos públicos irrigaram o denominado mensalão.
Recursos privados, quando muito, ajudam, e ajudaram, a formar Caixa 2.

Chegando a hora

mensaLevada ao pé da letra a fala do próprio Presidente do STF, Ministro Ayres Brito, da necessidade de um “julgamento técnico” para os envolvidos na famosa AP 470, significa dizer (avaliando com isenção técnica a prova dos autos), que é palpável a absolvição para os acusados pelo denominado “mensalão” (tradicional Caixa 2 que alimenta campanhas políticas que a imprensa em geral insiste em dizer que foi compra de votos de parlamentares para atender aos interesses do Governo e do PT).
Para quem teve acesso aos termos do relatório do processo não encontra uma mísera linha que justifique a existência do “mensalão”, a não ser pelos desdobramentos políticos através da imprensa que tal expressar remete.
Mas o circo está armado e o balcão apto a receber o quem dá mais para divulgar a inverdade tornada axioma.

Rsrsrsrsrs

Tem gente entendendo que o prêmio Kluge recebido por FHC nos Estados Unidos equivale ao Nobel na área das ciências humanas. Ainda que manifestação da apaixonite aguda reconhecemos e respeitamos o direito inalienável de quem assim veja.
Só falta enxergar.

Triste realidade

violenciaAo tempo em que escrevemos estas mal traçadas linhas Itabuna estava a caminho de ultrapassar o centésimo homicídio, no imediato de uma caminhada pela Paz acontecida na Cinquentenário na quinta 19.
Os jovens alimentam a fatídica estatística com um índice percentual alarmante. A puberdade para algumas camadas da população tornou-se “zona de risco”.
A charge de Duke parece dirigida para quem lê e ouve o noticiário policial de Itabuna.

Leninha

Análise de fatos políticos não exige lógica, se a buscamos com régua e compasso, cientificitude. A não ser quando traduz informação. Mas, para isto, a palavra já o afirma: informação. Daí porque especular é a lógica do que opina ou analisa.
Reencontrando espaços no noticiário local, Leninha afirma que pretende apoiar alguém nas próximas eleições, não tendo ainda se decidido.
Cremos que terá dificuldades de acompanhar o PMDB, diante do que viveu no partido. Assim, difícil entrar na campanha de Azevedo.
Muito possível que venha a apoiar Juçara. Cremos nisso considerando as razões por que da visita de Leninha à casa de Geraldo. Razões fortes.
Caso supere o trauma Leninha escolherá outro caminho. Mas o trauma pode persistir.

Josias x Geraldo

Observadores e analistas políticos sabem que as eleições municipais tornaram-se importante instrumento para a formação das bases que alimentam as eleições majoritárias e proporcionais estaduais e federais. Sob este prisma acompanhar os passos das alianças entre deputados estaduais e federais nesta municipalizada possibilita verificar a formação do mosaico de cada um para 2014.
Neste particular, observando os dois federais mais próximos de nós, considerando Ilhéus e Itabuna, em nível de espaços locais, Josias Gomes está se arrumando melhor que Geraldo Simões.
Cabe verificar a dimensão das conquistas. No quesito aritmético nos parece Josias melhor. Geraldo está perdendo.

Onde há fumaça há fogo

Dia desses o DEM baiano negou a possibilidade de se fundir ao PMDB. Para nós não haverá surpresa caso o resultado eleitoral/2012 não seja o esperado pelo Democratas. Ainda que não seja a extinção do partido na Bahia ocorrerá certamente uma defecção significativa de quadros renomados para unir forças para derrotar Wagner.
Inspirado em  Tormeza, diante da alusão, ficamos com a sabedoria popular: onde há fumaça há fogo.

Para o anedótico

Nos primeiros passos da campanha eleitoral os mais aquinhoados vão botando as mangas (carros de som) de fora. Os candidatos em igual condição (financeira) inaugurando comitês de campanha com o tradicional foguetório. Caminhadas de menor dimensão, chamadas corpo a corpo, vão testando a imagem dos candidatos e a reação da população, não tão exaltada ainda.
Na semana morna de inauguração de comitês e de corpo a corpo dos candidatos pela cidade restou o hilário acontecido na instalação do reduto de Azevedo, na Mário Padre. A militância ativada pelos interesses vários (afinal, no caso específico, muitos carecem de defender a manutenção do pirão) ouvia discursos quando a presidente da FICC, ex-bailarina, advogada, poeta e pedagoga, não se conteve e buscou capitalizar o momento para melhorar a sua imagem (assim deve ter pensado) e foi anunciada ao microfone.
Não será esquecida, não só por desconhecer o ritmo da retórica da tribuna (ainda que advogada) e lascou (eis um verbo com caráter adjetivo) fala: “Oi, gente! Falar de Azevedo? Azevedo é uma delícia!”
Se a estrepitosa vaia interrompeu o discurso muitos viram no olhar de Azevedo um brilho, de estranheza ou alegria, por tal elogio em plena praça pública.

Sala Zélia Lessa

Evento ocorrido na última quinta 19 marcou a entrega da Sala Zélia Lessa ao mundo artístico itabunense. O espaço estivera desativado de sua função durante duas décadas e ensaia retomar sua vocação.
Desde julho de 2011 alguns artistas e pessoas ligadas aos movimentos culturais tomaram a iniciativa de recuperar junto ao Município de Itabuna a destinação original da Sala Zélia Lessa (inaugurada em 1986 pelo então prefeito Ubaldo Dantas, atendendo aos reclamos da classe artística da época), conseguindo da administração o compromisso de entregá-la neste julho de 2012, o que acaba de ocorrer.
A cerimônia, de especial significado para o mundo artístico itabunense, contou com presença da Professora Zélia Lessa, do vice-prefeito Antônio Vieira, de secretários da administração municipal, de membros da ACATE-Associação Cultural Amigos do Teatro, do Clube dos Poetas, da Academia dos Pensadores, da AGRAL-Academia Grapiúna de Letras, do diretor da FTC, Cristiano Lôbo, de escritores, de jornalistas.
A primeira e entusiástica reação dos muitos artistas que não puderam se fazer presentes coube ao ator Jackson Costa – um dos muitos que tiveram no espaço da Sala Zélia Lessa o primeiro palco para desenvolver sua arte – enquanto de Itabuna apenas seis atores e atrizes marcaram presença, uns poucos de uma categoria que chora e lamenta a ausência de um espaço para suas realizações. 
Tais ausências, no entanto, não escondem o brilho e a histórica retomada do espaço, que já começa a ser preparado para a agenda que será em breve anunciada para este semestre.

Lembrança e História

Em homenagem ao retorno da Sala Zélia Lessa para o convívio artístico itabunense trazemos uma pagina musical que integra a trilha de Calabar, peça de Chico Buarque e Ruy Guerra, ali montada nos anos 80 com participação dos muitos ex-alunos de Mário Gusmão, como Jackson Costa, Carlos Betão, Eva Lima, Adriana Dantas, Marcos Cristiano, Ramon Vane, com música ao vivo da Banda Energia Azul (João Veloso, Zé Henrique, Jefferson Blue, Joan Nascimento), coreografia de Iranto Quadros e direção de Roberto O’Hara (também ator), de Belo Horizonte, que trouxera texto, figurino e cenário, selecionando o elenco na região. As apresentações aconteceram na Sala Zélia Lessa, em Itabuna, e em Ilhéus e Ibicaraí.
Para registro musical da histórica oportunidade, “Tatuagem”, de Chico-Guerra, em visceral interpretação de Elis Regina.


Adylson Machado é escritor, professor e advogado, autor de "Amendoeiras de outono" e " O ABC do Cabôco", editados pela Via Litterarum

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