DE RODAPÉS E DE ACHADOS
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Luz no fim do túnel
Perceber
a dinâmica histórica em andamento não é papel para neófitos. Sentir os humores
decantados dos fatos cotidianos não é tarefa fácil. No
entanto, o que ora ocorre no Brasil – oriunda da crise política que afeta a
economia – precipitou percepções, oferta lições para serem postas em prática
imediatamente.
No
viés da economia o terrível erro do Governo de imaginar que uma política
ortodoxa levasse o país ao Paraíso está dando com os burros n’água. O modelo
que destrói o planeta em benefício exclusivo de um punhado de rentistas,
administrado ao sabor de teorias desenvolvidas para corresponder aos interesses
do sistema financeiro internacional – apátrida – mais do que demonstrou ser
inviável para responder aos reclamos exigidos.
O
tripé posto se sustenta – por exemplo – na ficção de que a inflação em
curso pode ser controlada por uma elevada taxa de juros. Tal remédio – amargo
ao extremo – deveria ser utilizado quando a demanda se torna inconveniente e a
relação oferta-procura – em razão da demanda – faz o ofertante elevar os preços
do que vende para ‘aproveitar’ a oportunidade. Não é o caso brasileiro.
O
aumento de preços decorre não de demanda excessiva do consumidor, mas de preços
administrados em dólar que vão às alturas por falta de controle do câmbio que
faz a moeda estadunidense oscilar ao sabor de humores da especulação, entre
outros penduricalhos. Dessa forma, subindo o dólar sobem todos os bens que tem
seus preços nele administrados: trigo, petróleo etc.
Para
sermos sucinto, o ajuste fiscal proposto – causando recessão – certamente não é o
caminho da retomada do crescimento. Aliado a isso, uma atuação criminosa do
Judiciário – ao intervir em relações econômicas – gera o caos de ver-se uma
Petrobras – da qual dependem cerca de 71 mil empresas no país – impossibilitada
de comprar/encomendar e de pagar a quem já lhe forneceu obras e serviços. A
cadeia produtiva – e os empregos por ela sustentados – foi lançada ao léu e
leva, certamente, a que o PIB tenha se contraído em pelo entre 2% a 3% em razão
direta com a impossibilidade atual de a Petrobras manter seus investimentos.
Por
outro lado, a crise política – que alimenta o aprofundamento da econômica –
deixa entrever que algo de concreto está acontecendo. E não decorre – como muitos
podem admitir – de sucesso de operações policiais envolvendo a classe política.
(Até porque a seletividade nos objetivos das operações depõe contra a utopia de
‘passar o Brasil a limpo’ somente tirando a sujeira de um lado da casa e
deixando o outro sob o antigo tapete).
O
que emerge da crise política leva(rá) até ao cidadão mais distante das
discussões/análises a compreender que este presidencialismo de coalizão –
levado ao extremo no período Sarney e lançado como projeto por Temer – precisa
mudar sob pena de esfacelamento da nação.
Mais
que cristalino que atender aos caprichos deste ou daquele partido que se
apresente com maior número de congressistas na base de sustentação ao governo
não tem demonstrado ser o ideal.
Podemos
estar errado: mas a crise política tem o condão de viabilizar a depuração neste
‘presidencialismo de coalizão’. Começando – à guisa de exemplo – com o afastamento da turma vinculada
a Temer dos cargos que ora ocupa no Governo.
Abrindo
espaço para outros formadores da coalizão e lançando o joio às chamas.
Degradação
Quando instado a manifestar-se dentro dos parâmetros da isenção o ministro Gilmar Mendes aproveita a oportunidade para dar razão ao professor e jurista Dalmo de Abreu Dallari, que, profeticamente, em artigo publicado na Folha de São Paulo em maio de 2002, criticava a possível indicação do nome do então Advogado-Geral da União para o STF. Alertava o presidente FHC dos graves riscos decorrentes da indicação (e mostrando as razões) e afirmando peremptoriamente: "Gilmar Mendes no STF é a degradação do Judiciário Brasileiro.Não lhe bastou o voto no julgamento em torno do rito do impeachment e sai Gilmar Mendes a alimentar a sua natureza degradatória, ofendendo seus pares em entrevista concedida a CBN, dizendo – entre outras diatribes – que por lá foram "cooptados".
Razão assiste a Dalmo Dallari.
Ser ou não ser
A
preferência política – a cada dia se confirma – parece ser o limite das
investigações que querem passar o Brasil a limpo. Limpando do cenário político
brasileiro o PT. Isso porque não se vê uma só iniciativa de Ministério Público,
Polícia federal e do juiz Sérgio Moro (em particular) que envolva um
tucanozinho que seja. Deixamos de fora a imprensa (“golpista”, como a denomina
Paulo Henrique Amorim) porque esta permanece em seu papel histórico, deitada no berço
esplêndido comprado pelos poderosos (daqui e de lá) aos quais sempre serviu e
serve, pautada por bandidos.
Isso
o que está desmoralizando operações perante a opinião pública.
Na
Bahia – por exemplo – fica difícil para o baiano enxergar pureza no carlismo e
nos seus sucessores. Assim, em Pernambuco, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do
Norte, Paraíba, Maranhão, Alagoas, Pará etc. (São Paulo fica de fora, porque é
um caso de patologia político-administrativa especial). Em cada um o povo
conhece os ‘seus’ ladrões. Não os vendo alcançados pela dura investigação
começa a duvidar das intenções e pretensões punitivas.
Coisa de trazer à baila Shakespeare do Hamlet.
Legalidade
As
oposições – impõe-se o plural diante das tendências (no Judiciário Gilmar
Mendes, no PSDB Aécio Neves, FHC etc. etc. etc.) – gastaram um ano com o discurso
do impeachment. Construído sobre os trilhos que ela mesmo edificou.
Sua vitória
residia – no entanto – no apoio das ruas. Foi-lhe negado.
E
tudo caminha para as calendas.
Bastou
atender à legalidade.
Dobradinha
A
OAB nacional engrossa uma corrente de ruptura institucional aderindo a uma ideia inoportuna
pelo instante: o semipresidencialismo.
Lembra-nos a solução ‘parlamentarista’
para barrar o golpe no imediato da renúncia de Jânio Quadros para evitar a
assunção plena do vice-presidente João Goulart.
Destacamos
do informe da OAB: "A proposta de se debater a implementação do
semipresidencialismo no Brasil, defendida pela OAB, foi recebida com elogios
pelo ministro do STF Gilmar Mendes. Para o magistrado, é importante que as
instituições estejam abertas a possibilidades para contornar a crise enfrentada
pelo país e que uma revisita histórica pode trazer luzes ao momento atual de
crise".
Naturalmente,
Gilmar Mendes adorou. Com quem a OAB passa a fazer uma dobradinha.
Ficou
pequeno
O
voto do ministro Edson Fachin nos causou estranheza. Não podemos entender como
embasado juridicamente um posicionamento que contraria normas expressas. No caso
da questão levantada pelo PCdoB no STF – das irregularidades cometidas por
Eduardo Cunha, ao atropelar o Regimento Interno (e a lei) para assegurar o
controle da Comissão que analisaria o impeachment – Sua Excelência entendeu
legítima a atuação de Cunha.
Fachin ingressou
no STF sob grande pressão e era tido e defendido como um progressista. Negou-se
a si mesmo, e encontrou aliados em Gilmar Mendes e seu pupilo Dias Tóffoli.
Ficou pior entre alguns de sempre.
Ficou
pequeno, mal entrou nos cueiros do STF. E decepcionou. Jogou fora a
oportunidade de ministrar uma lição que o poria entre os melhores. Bastava
aplicar a Constituição. Como o fez Barroso.
Caso
encontre justificativa para a aberração nas ameaças sofridas, temos que, além de pequeno, ficou covarde.
A
foto que fala
Atribui-se
a Michelangelo, extasiado, diante da obra que acabara de realizar: “Fala!”
Tão
perfeita a arte na Moisés que viva o era.
A
foto de Gilmar Mendes nada tem de êxtase. Tampouco de comparação com Moisés.
Mas que fala, isso fala!
Escutando
as ruas I
A
presidente Dilma Rousseff dá sinais de retomada do poder que ainda não assumira
no segundo mandato. Exonerar e nomear faz parte do ritual.
A
mudança na Fazenda – ponto nevrálgico – sinaliza ter ouvido as ruas. Lá não
ouviu somente apoios, mas também críticas contundentes a uma política econômica
que aprofundava o desastre. E quanto aos apoios – parece haver percebido – os
perderia se mantivesse a política levyana.
Livrou-se
de Levy. Com isso um recado: o mercado será ouvido mas não manda.
Escutando
as ruas II
Na
esteira do instante acena para uma guinada na economia com a edição de uma Medida Provisória
para legitimar acordos de leniência com envolvidos em escândalos com estatais.
Simplesmente salvar empresas e empregos sem prejuízo de punir os responsáveis e
a própria empresa nos limites de sua responsabilidade/possibilidade.
Afinal, a Petrobras emprega – com suas encomendas – trabalhadores de
71 mil empresas brasileiras.
Gostemos ou não
“Ajustes
nunca são um fim em si mesmos. Ajustes são medidas necessárias para a
recuperação do crescimento da economia, que por sua vez é condição
indispensável para continuar nosso projeto de desenvolvimento econômico.”
(De Barbosa há um ano).
Gostemos ou não a fala de Barbosa mais afinada está com o desenvolvimento do país.
Gostar
ou não gostar
No
âmbito das paixões, gostar ou não gostar dos possíveis novos rumos para a economia brasileira é apenas ‘torcida’.
A coisa pode
rolar por outros vieses, mas o peso do mercado financeiro nas prioridades de formulação de
política econômica não mais representa o que representou com Joaquim
Levy.
Vazar
é a lei
Vazamento
no Brasil se tornou lugar comum. Caminha para tornar-se instituição nacional.
Até no STF.
Doa a quem doer
Há
quem veja naquela expressão de Dilma, de que “não ficará pedra sobre pedra” uma
estratégia de espera.
Caso
haja procedência, a Operação Sangue Negro pode servir de parâmetro para o dito:
tucanos relacionados, por ações no período de FHC/Rennó começam a ser investigadas.
Joel
Rennó foi o presidente da Petrobrás no primeiro mandato de FHC (onde tudo
continuou). O próprio FHC – em seu livro de memórias – confessa ter ouvido de
Steinbruch que por lá (na estatal) era “um escândalo”.
No
tempo de FHC tudo ia para baixo do tapete. Nos tempos recentes não fica “pedra
sobre pedra”. Eis a diferença.
Tanto
é que a coisa começa a cheirar mal para os lados do período tucano. É o que
afirma Marcelo Auler em Operação Sangue negro atinge governo de FHC.
Esse
Merval!
A
premonição de Merval Pereira, em sua coluna n’ O Globo de quinta-feira 17:
"Caminho
livre
O dia de ontem adicionou dois dados fundamentais no caminho do impeachment da Presidente Dilma: o relatório do ministro Luiz Edson Fachin, que deve ser aprovado quase que por unanimidade hoje ... "
O dia de ontem adicionou dois dados fundamentais no caminho do impeachment da Presidente Dilma: o relatório do ministro Luiz Edson Fachin, que deve ser aprovado quase que por unanimidade hoje ... "
Só falta dizer que Eduardo
Cunha ganhou de 3 x 8 na sessão da tarde do STF, na mesma quinta.
A ver navios
O
trenó ansiado por Eduardo Cunha lhe foi tirado. Vai ficar a ver navios neste
Natal. Resta-lhe tempo para reiterar a defesa no processo a que responde.
Melou
O mecanismo engendrado para afastar Dilma e colocar o afastadores no poder começa a melar: sem povo e vendo o vice capitão do golpe à paraguaia suspeito das mesmas práticas.
Ou seja, o caos se aproxima. Na linha de sucessão cabe a Eduardo Cunha assumir o Planalto.
O povo não é bobo... não só contra a Globo.
O que restou
De todas as manifestações pró impeachment restou o que diz Cervantes em relação aos cavaleiros de Granada: saiam em louca disparada na madrugada. Para quê? Para nada!
Ou, como observa Paulo Henrique Amorim em vídeo postado em sua TVAfiada:
“Não tinha um negro. Não tinha um pobre. É um golpe de poucos brancos contra todos os pobres”.
Aglutinando
As forças que vêem no pedido de impeachment um golpe branco, à paraguaia, vão se aglutinando. Juristas de renome, prefeitos de capitais, governadores de estado, juízes federais da associação Juízes para a Democracia
O golpismo contava com as ruas. Contava.
Não ofende
Não
custa perguntar: o que faz um táxi de 230 mil reais em nome de um tal Altair Alves Pinto (citado como receptor de dinheiro destinado ao deputado, segundo Fernando Baiano) estacionado na garagem de
Eduardo Cunha?
Bahia
na cabeça
Em
termos absolutos – considerando a participação no total de votantes – a
representação baiana na Câmara dos Deputados deu nada mais nada menos que 1/3
dos nove votos em defesa de Cunha na Comissão de Ética.
O
nome dos heróis baianos: Cacá Leão (PP), Erivelto Santana (PSC) e João Bacelar
(PR).
Rescaldo
A temeridade bateu-lhe de frente. O impeachment sem base material (crime de responsabilidade cometido no exercício do mandato) tendia a não vingar. No entanto, a oposição insistiu, tresloucada. Rescaldo
Imaginou existir em 2015 uma véspera de 1964. Tempos outros, não dissecados e interpretados com a sabedoria exigida.
Os custos começam a surgir. Cobranças, idem.
A nau começa a fazer água. Tripulantes – inclusive antigos – anunciam deixá-la.
Havia fala de Alckmin trocar o PSDB pelo PSB. Aguarde-se. Álvaro Dias fala em deixar o tucanato para envolver-se no PV...
O rescaldo será cruel.
E terá que segurar Eduardo Cunha... quando até as águas investigatórias ameaçam o antes inalcançável PSDB (Azeredo condenado, Petrobrás tucana sob a Operação Sangue Negro etc.).
Walter Moreira
A
Galeria Walter Moreira já foi espaço de exposição de livros de autores
regionais, de saraus literários e de lançamentos de pinturas e artes. Por lá
livros e quadros estavam à disposição do público que circula na Olinto Leone.
Inclusive do artista grapiúna que honra o local, dignificando-o com seu nome.
A
instituição que o administra anuncia desvio na utilização.
Walter
Moreira – o grapiúna que dá nome ao Espaço – deve estar chacoalhando em sua sepultura.
Dizem,
no entanto, que a mudança decorreu de ‘pressão no facebook’, diante da poeira e teias de aranha que ocupavam o local. Detectada por
‘gentil’ assessor de imprensa.
Itabuna,
final de 2015
Valorosa
consumidora saiu para comprar um reservatório para água. O preço estava tão
alto que saiu mais barato comprar uma piscina.
Correu
as ruas. ‘Espírito’ natalino é assim. O venda do momento era de baldes, de
mosquiteiros e de raquete para matar muriçoca.
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