Vozes múltiplas clamam por uma reforma política que – dentre outros aspectos – altere as atuais regras de financiamento de campanhas políticas. Não há uma só voz que trilhe pela racionalidade – excetuam-se, naturalmente, as que se beneficiam do sistema vigente – que não enxergue no financiamento privado/empresarial a fonte de mazelas por que passamos.
Por muitos fica afastada da análise – quando pautada no imediato – as razões por que tal acontece. Poucos os que olham o processo de formação deste país, nascido já na exploração do que aqui existia. Fossem suas riquezas, fosse a sua gente. Esta, aumentada – para fins de exploração – pela imigração negro-africana para corresponder à mão-de-obra escrava que alimentasse o gáudio da casa-grande, alheia e indiferente aos gritos e gemidos da senzala.
Somente entenderemos o que vivemos se pusermos um olhar no passado. Para entendermos que nossas instituições – que não se fazem da abstração de sua existência, mas daqueles que as compõe – reproduzem indefinidamente a remota realidade. Mudam-se as peças, mas a construção é a mesma.
O ministro Gilmar Mendes – expressão nefanda, por seus princípios e posturas no STF – bem traduz uma peça nesta construção que já ultrapassa 500 anos. Sua Excelência repercute, em razão da posição que ocupa, o significado da inserção de peças (idênticas) no contexto do pensamento secular que norteia o espaço em que vivemos.
Ainda que já vencido em decisão dos pares (6 x 1) não se basta em reter indevidamente um processo – com o fito cristalino de evitar a aplicação do quanto já decidido – e se jacta de arauto para dizer – como o fez em entrevista recente – que aquele tema é de competência do Congresso.
Justamente o que trata de financiamento de campanhas eleitorais, um dos motivos de grita nacional. De nenhum interesse para quem se utiliza à forra do sistema. Delegá-lo à raposa para legislar em benefício do galinheiro é o que pretende Sua Excelência.
Mas este é o Gilmar de sempre. De atuação insofismavelmente político-partidária – travestida de opinião – quando diz que cabe ao Congresso definir – para ele de forma diversa – o que os pares já decidiram e ele insiste em não respeitar como derrotado.
Na outra ponta, um magistrado se deixa deslumbrar – e o faz ostensivamente – recebendo premiação de uma entidade privada que pode ser alvo de uma apuração à qual caiba a ele (juiz) decidir. O recebimento da premiação – sob holofotes – compromete não só a imagem funcional mas o caráter do julgador, que se vê embevecido com o laurel.
Tudo isso é parte deste Brasil – terra de São Saruê – de cinco séculos de dominação. Em diferentes modos.
Tempo houve que o domínio das elites exploradoras – nunca tiveram os nativos que a compõe qualquer preocupação com o desenvolvimento do país, e sim com a acumulação (a qualquer custo) de sua riqueza e poder – se bastavam em ter na família um padre e um advogado.
Um para conter o povo através do púlpito com ameaças do inferno para quem não os escutasse; outro, para galgar o poder. Político e judicante.
Por este viés há um túnel diante da presidente Dilma Rousseff. E muita luz adiante dele.
Basta que enxergue quem o ilumina. E a quem deve servir.
Não é difícil perceber que não mais há padres nas famílias, como antigamente. Mas as peças continuam a ocupar a construção com os mesmos propósitos.
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