Ontem
tratamos, em “Leituras versus
leituras”, de como um mesmo índice de crescimento pode receber interpretações diversas.
Assim, para os críticos dos fundamentos da economia brasileira, 0,1% de crescimento
do PIB no terceiro trimestre de 2014 significa patinação da atividade econômica à beira
do fosso da recessão, sinal evidente de que o caos se faz presente em nossa
cozinha.
Outra,
a interpretação – do Estado de São Paulo, beirando a euforia – com o
crescimento do PIB da Alemanha no mesmo 3º trimestre. Coincidentemente, 0,1%.
Enquanto a do tupiniquim anuncia a entrada no apocalipse, aquela em relação à Alemanha leva a que
o país esteja escapando da recessão.
Vem
do mesmo jornal (o Estadão) o novo escândalo a envolver autoridades,
mancheteada nesta sexta-feira 28: “Procuradoria denuncia irmão de Dias Toffoli
e mais quatro por desvio de R$ 57 milhões” do Fundo Municipal de Saúde e de
atividades escolares.
As
ações verbais não deixam dúvida: denúncia
da existência de desvios. Assim,
entenderá o leitor comum, que foram levados à incriminação por retirarem para
benefício próprio ou de terceiros recursos públicos destinados à Saúde e à
educação do município onde exerciam atividade pública. Em linguagem comum: roubaram.
Na
realidade – afirma-o a matéria – não houve nenhum desvio de recursos, mas
irregularidade na aplicação dos mesmos, transferidos para outras atividades.
Assim, o que houve não foi desvio de recursos públicos, mas desvio de
finalidade na aplicação dos mesmos. Naturalmente uma irregularidade, passível
de apuração e responsabilização judicial.
Uma
outra: o ex-presidente FHC alardeia falta de legitimidade da reeleita
presidente Dilma para gerir o país, porque o novo mandato não encontraria apoio
na “parte mais dinâmica do país” e o seu sistema de apoio “não se expressa no
congresso atual nem no futuro".
Leituras
e (in)conveniências de um e outro.
Para
o Estadão a manchete (desvio de recursos) fala mais que a realidade (desvio de
finalidade). Assim, lança no leitor a ideia de que alguém roubou, quando roubo
nenhum houve.
Para
FHC, ‘príncipe’ dos sociólogos, esquece por (in)conveniência as lições de Max
Weber, de que a legitimidade é a crença social em determinado regime. No caso brasileiro,
o democrático. Que se sustenta no respeito ao vitorioso. Aquele que teve maioria de
votos em relação ao derrotado. Um que seja.
Interessante
que o ‘príncipe dos sociólogos’ ao tratar de possível legitimidade de um
governo, a partir do Congresso, exercite outra (in)conveniência: de que a
autorização que legitimou a sua possibilidade de reeleição tenha sido comprada
a partir de 200 mil reais pagos a muitos dos congressistas que a aprovaram.
Pelo
pouco que sabemos – até prova em contrário – de Norte a Sul, de Leste a Oeste,
o eleitor brasileiro foi às urnas por livre desejo de sufragar um nome, de
situação ou de oposição.
A
vitória, legítima, coube a uma delas.
Por essas e outras (in)conveniências de uma parcela da grande imprensa e da intelectualidade que a legitima é que muita gente no Brasil ainda padece de credibilidade.
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