As apurações no bojo da Operação Lava Jato tem sido levadas em conta pelo viés do imediatismo golpista e não por tudo aquilo que nela está encerrado. O primeiro aspecto remete à descarada manipulação de dados e informações obtidos na Operação, utilizados para fins nada castos; o segundo – o que está contido na base das apurações – a falta de vergonha que assola o país a partir do financiamento privado de campanhas políticas.
Tudo que vem sendo dito tem fonte no financiamento de campanhas eleitorais. A hipocrisia atual reside na circunstância de imaginar que tudo ocorre em razão do caráter deste ou daquele empresário ou político.
A situação é tão escandalosa que, caso apurada até o último grão, alcança figuras as mais díspares da vida nacional. Não só políticos e empresários, mas também julgadores e conselheiros de Tribunais de Contas.
No caso particular do Judiciário uma indagação se impõe: o que leva o ministro Gilmar Mendes, do STF, a segurar em sua gaveta de conveniências uma ação já derrotada por seis votos a um? Causará espécie ao leitor saber que é justamente aquela que condena e inviabiliza o financiamento privado de campanhas políticas. As eleições já passaram, os beneficiados pela 'conveniência' de Sua Excelência já foram eleitos ou reeleitos, mas o ministro guarda a sete chaves uma ação que não tem mais como ser alterada quanto ao resultado.
Em nível de Tribunais de Contas, o do Estado de São Paulo abriga uma figura nefanda, acusada de envolvimento no propinoduto de trens e metrô de São Paulo, citado reiteradamente por diretores da Siemens e Alston como beneficiário de milhões de dólares.
Nem o TCU escapa. O atual presidente, Augusto Nardes, ex-deputado do PP, já foi alvo de ação – a AP 363, no STF (onde condenado) – por utilização indevida de recursos oriundos de financiamento de campanha.
Tem ainda o ilustre presidente do TCU, em seu currículo, a denúncia de Youssef de que integrara a bancada pepista que obstruiu votações durante 90 dias na Câmara até que Paulo Roberto Costa fosse nomeado para a Diretoria de Abastecimento da Petrobras.
Para estarrecer ainda mais o leitor: a composição do Tribunal de Contas da União tem, entre seus nove Conselheiros, seis indicados pelo Congresso Nacional. Escolhidos sempre entre colegas e ex-colegas.
Desta forma 2/3 da composição é integrada de beneficiados por contribuições de empreiteiras. O próprio Paulo Nardes teria sido "imposição" da Camargo Correa, que plantou lobista em Brasília para assegurar junto aos parlamentares a indicação de Nardes para o TCU.
Detalhe: na mesa de Nardes há processos que interessam a Camargo Correa.
Há muito mais, caro leitor. Clique em http://jornalggn.com.br/blog/iv-avatar/lava-jato-financiamento-de-empresas-a-campanhas-pode-constranger-ate-o-tcu
Tudo isso é apenas uma pequena mostra do quão podre é o sistema. Poucos, pouquíssimos, escapam.
Não há em quem confiar.
Só uma alteração radical. Que depende de iniciativa e participação direta da sociedade através de uma reforma político-eleitoral brotada de uma constituinte autônoma e específica.
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