DE RODAPÉS E DE ACHADOS *
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A crise na Ucrânia afeta o Brasil
Sabido e
consabido que a intercomunicação/interligação entre países é o fato mais
notório nesta contemporaneidade. No jogo de xadrez internacional (onde os
russos estão jogando com competência) o controle hegemônico é a meta das potências.
Quanto mais influência puder exercer, melhor.
O Brasil sofreu
duro golpe em seu projeto aeroespacial quando nossa cúpula de cientistas
espaciais morreu na explosão em Alcântara. Não fora a posse de Lula e já
naquele 2003 a base maranhense não mais estaria sob controle brasileiro, porque
tudo acertado (também o ingresso na ALCA) com os Estados Unidos para a sua
transferência.
A diplomacia
brasileira inverteu as prioridades e buscou na Ucrânia apoio para atuação
conjunta em matéria espacial. O desbaratamento da Ucrânia, até prova em
contrário, afeta nossos projetos e pesquisas na área espacial.
Preparem-se os latinos
Perdendo espaço
em outras regiões do planeta o projeto hegemônico dos Estados Unidos se voltará
com mais força sobre a América Latina. O que não conseguir resolver
diplomaticamente resolverá pela força. Para tanto a IV Frota voltou a circular
no Atlântico.
A independência
político-econômica de alguns países (dentre ele o Brasil) e a autonomia nos
planos de expansão, como a recentemente ocorrida com a implantação do porto de
Mariel, em Cuba, incomodam os EUA.
A economia
chinesa superará a estadunidense até 2050, o que significa redução de mercados. Os EUA tudo farão para controlar ao máximo aqueles sobre os quais possa exercer influência.
Para seus planos
a América Latina continua a ser quintal dos EUA. Como nos tempos de Theodore
Roosevelt e seu ‘big stick’.
Noticiário calado
A Síria era o
prato do dia. A ditadura Assad o câncer a ser extirpado para salvar a
democracia planetária. De repente, não mais que de repente – como diz o poeta –
a Síria desapareceu do mapa... do noticiário.
O que ninguém
diz: Assad caminha para abafar a rebelião, com avanços e ganhos militares que
praticamente inviabilizam qualquer reação da insurgência apoiada pelos Estados
Unidos. A chave da situação: a tomada, no domingo 16, da cidade estratégica
Yabrud, que volta ao controle de Assad, impedindo qualquer avanço rebelde em
direção ao Líbano, isolando os rebeldes da sunita Aarsal, que os apoia.
Aí reside o
‘esquecimento da imprensa’: a derrota dos EUA, fato que somente é divulgado em
hecatombes como a do Vietnã.
Abraço de afogado
Não custa
entender a desesperadora situação de Geraldo Alckmin diante da iminência de
racionamento mais aprofundado em São Paulo. A busca de transferir água da bacia
do rio Paraíba, como solução, pode conter um tiro no pé da campanha política
pela reeleição se o Governo Federal intervém em favor.
Ficará claro,
durante a campanha, que os governos tucanos foram incompetentes – para não
dizer irresponsáveis – diante do problema, por absolta falta de planejamento e
investimento.
Padilha
capitalizará, de uma forma ou de outra, a saia justa por que passa o tucano
Alckmin.
Eleições
Partidos da base
engalfinham-se nas disputas locais. Ou seja, nos estados. Ao lado das ambições
pessoais – algumas em muito pela sobrevivência – uma cautela puxa o freio de
mão: a quase certa reeleição de Dilma Rousseff, que pode ocorrer ainda no
primeiro turno.
Difícil, sabem os
senhores políticos, inverter uma situação eleitoral que apresenta, seis meses
antes das eleições, uma percentagem de votos válidos superior a 60% (a menor
delas, a dos institutos CNT/Sensus e Datafolha, em 62%), para adversários que,
somados, variam entre 22% e 25% (Aécio) e 12% e 16% (Campos), antes de iniciado
o programa eleitoral, quando o tempo de cada um variará entre 13 minutos
(Dilma), pouco mais de 3 (Aécio) e em torno de 2 (Campos).
Razão por que,
não estranharemos, como observador, as evoluções na passarela baiana que levem
a zumbaias à reeleição de Dilma.
Afinal – dirá o
intérprete e passista – posso rasgar minha fantasia, mas não deixarei de cantar
e dançar o samba-enredo vencedor.
Feudos x mandatos
Há uma obra
publicada no Brasil (não conseguimos localizá-la na estante) que trata do
controle do Poder Judiciário nativo por algumas famílias. A substanciosa
avaliação/pesquisa pode ser acrescida com a nomeação de Letícia de Santis Mello
para ocupar vaga de desembargadora no Tribunal Regional Federal da 2ª Região.
A
indicada é filha do ministro Marco Aurélio Mello, do STF. A nova desembargadora,
de 37 anos, nunca exerceu qualquer atividade na magistratura. É o tal Quinto Constitucional
aliado ao parentesco. Não tardará chegar ao STJ ou ao STF.
Aguarda na fila,
para o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, Marina Fux, de 32 anos.
Simplesmente filha do ministro Luiz Fux. Imagine o leitor o que o pai não está “matando
no peito” para tornar a filha desembargadora!
A sociedade devia
acompanhar com redobrada atenção o projeto do senador Roberto Requião, para
estabelecer mandato de 8 anos para ministros e desembargadores.
Choram “Marias” e “Clarices”
Em mês de
fatídica lembrança de que houve um golpe contra as instituições democráticas e
uma ditadura militar implantada a partir dele, “Marias” e “Clarices” são
simbólicas expressões imortalizadas por João Bosco e Aldir Blanc em “O Bêbado e
o Equilibrista”.
Em nível de Bahia
há choro em muitas rodas políticas. De outras marias, outras clarices.
Incontido, para uns; contido, para outros. O saco de gatos em que se tornou a
base de alianças para eleger Wagner e garantir sustentação parlamentar ao seu
governo não permite estranhar os desdobramentos criticados por alguns no
presente instante do rateio de cargos a disputar.
João Leão pode ser a gota d’água.
Mas a cachoeira há muito estava cheia.
Faltam cargos.
Caso existissem três, quatro ou cinco vagas para vices e senadores ainda não
atenderia às ‘cobranças’. Especialmente de uma turma com sede.
E observe o caro
leitor que o próprio governador renunciou ao lugar comum: a disputa da vaga
para o senado.
Inflação
Passagens aéreas
repercutem na inflação, dizem especialistas que analisam a expectativa em torno
dos próximos números.
Particularmente
observamos o inusitado em relação a tempos não tão distantes: na oferta e
procura que norteia os preços na economia de mercado o aumento nas passagens
aéreas significa demanda, procura por assentos. Tal fato é visível nos
aeroportos.
Simples: milhares
que só conheciam avião através de fotografia ou em visita a aeroporto agora
tem-no como meio de transporte.
Escorpião
Como é da
essência do sensacionalismo não se imagine que Globo e quejandos tratem o tema
da refinaria comprada pela Petrobras nos Estados Unidos com a isenção devida.
Tudo serve apenas para fazer política. Até o mundo dos negócios e suas
flutuações atendem à campanha contra o governo.
Como publicou O
Trombone, a entrevista dada por José Sérgio Gabrielle ao Jornal Nacional foi
editada ao sabor da platinada, coisa assim comum, como já acontecera na edição
do debate Lula x Collor em 1989.
Para a turma não
importa analisar as circunstâncias. Inclusive de que o preço pago pelos
restantes 50% foi determinação da justiça dos Estados Unidos e não de acordo
entre as partes.
Tampouco
aprofundar em torno da composição do Conselho da Petrobras que autorizou o
negócio. Extremamente vantajoso à época, quando a empresa processava óleo
pesado em território estadunidense e não havia ainda o pré-sal e seu óleo leve.
Mas, tenha
paciência o leitor. É coisa de ano eleitoral.
Difícil para a
Globo é inverter o atual quadro de intenções de votos. A não ser no sonho
refletido na proeza abaixo, que circulou na rede.
FHC e Serra
José Serra e FHC
são contra uma CPI da Petrobras. Nessas razões que a própria razão desconhece
ambos têm razão: pode dar tudo com os burros n’água como resultado
político-eleitoral.
Ou, quem sabe,
alguma coisa desaguar em lembranças como a entrega do capital da empresa a
estrangeiros (o que ocorreu na esteira das privatizações), ou alcançar um metrô
ou trem paulista.
FHC e Serra não
são bobos de apoiar o governo do PT. Como estão contra é porque a CPI pode ser
a favor do governo.
Em nome da insensatez I
Como durante a ditadura tal não ocorreria, os que exercem o direito da livre manifestação (natural em regimes democráticos) em defesa de uma intervenção militar precisam explicar as razões de tanto interesse pelo retorno a anos de chumbo.
Também seria interessante que ofertassem aos convocados seus currículos, onde demonstrado o status social a que pertencem.
Afinal, uma certeza fica: não se trata de gente comprometida com o país.
Em nome da insensatez II
Quando redigimos
este rodapé não tínhamos conhecimento dos resultados das ‘mobilizações’ Brasil
a fora. Em São Paulo teria reunido 500 pessoas.
Mas, o que
esperar de manifestações que defendem pura e simplesmente um golpe nas
instituições democráticas? A insensatez é tamanha que não parece crível que
haja mentes ‘pensantes’ para redigir o que abaixo publicamos, extraído do
“Acorda, Brasil! Quem decide é o povo”, publicado na Gazeta do Povo, do Paraná
(que depois do estrago pediu desculpa aos leitores).
...
“Como a situação já chegou ao
ápice, antes da cartada final desse desgoverno atual, que gradativamente vem
adoecendo o nosso país, precisamos nós, o povo, tomar medidas extremas para
cortar esse mal pela raiz. Não vemos outra alternativa que não seja uma
intervenção militar constitucional. Ela só acontece em casos extremos, quando a
desordem toma conta do país. A Constituição de 1988 define as Forças Armadas
como “instituições nacionais permanentes”. Elas são obrigadas a defender a
pátria, não o governo. Existem para servir à nação. Se o governo trai a pátria
e se volta contra ela, as Forças Armadas têm obrigação de ficar contra o
governo.
Nossas reivindicações principais são: a
destituição da presidente Dilma Rousseff e do vice-presidente Michel Temer; a
dissolução do Congresso Nacional, seguida de eleições gerais com plebiscito
prévio sobre regime de governo, com escolha entre república presidencialista,
república parlamentarista ou restauração da monarquia constitucional
parlamentarista; a prisão de todos os conspiradores por corrupção e alta
traição, ao servirem voluntariamente a interesses estrangeiros contra o Brasil
através do Foro de São Paulo, que é uma invasão sigilosa do território nacional
executada por países estrangeiros liderados por Cuba; o desligamento imediato
da Unasul e o fim de qualquer ligação com países que vivem ditaduras
comunistas/socialistas; a dissolução de todos os partidos e organizações
integrantes ou apoiadores do Foro de São Paulo; a intervenção em todos os
governos estaduais e municipais e seus respectivos legislativos; o combate
sistemático à corrupção e à subversão; a intervenção no Supremo Tribunal
Federal, no qual a presença de ministros simpáticos aos conspiradores é clara e
evidente; e a formulação de uma nova Constituição, que não possa sofrer
alterações sem o consentimento do povo.
Maria
Araújo e Cristina Peviani são integrantes da organização nacional da Marcha das
Famílias com Deus pela Liberdade.”
Especialistas x pessimistas
Agências de risco
(para os por elas avaliados, sempre a serviço de garantias para o capital
especulativo) ensaiam reduzir suas avaliações sobre a economia brasileira,
pondo-o na relação dos não-confiáveis. Difícil de entender como um especialista
em economia como Paul Krugman diz que não.
A fotomontagem bem traduz os limites da (in)sanidade que permeia algumas análises econômicas. Que bem podem estar alimentadas por outros interesses, como no caso específico do Brasil em ano eleitoral.
Homenagem à resistência
Em semana que
antecede ao golpe militar (com apoio de elites e de empresários), quando minorias
sonham com o retorno da ditadura militar, “O Bêbado e o Equilibrista” (João
Bosco-Aldir Blanc) na pungente interpretação de Elis Regina, para que “Clarices”
e “Marias” não mais existam neste país.
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* Coluna publicada aos domingos em www.otrombone.com.br
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