Quarenta e um anos depois as coisas começam a vir à tona. O pacto de silêncio começa a se romper a partir de um dos mais emblemáticos desaparecimentos dentre os ocorridos sob a égide da ditadura militar: a prisão e sumiço do deputado cassado Rubens Paiva.
Preso em 20 de janeiro de 1971 e levado à tortura, Paiva era insepulta referência dos anos de chumbo. Vivo não podia estar, mas onde estaria seu corpo?
Sabe-se agora - a partir do depoimento do coronel reformado do Exército Paulo Malhães ao jornal O Dia -, que fora enterrado no Alto da Boa Vista e um ano depois de lá retirado para novo sepultamento nas areias da praia do Recreio dos Bandeirantes, no Rio de Janeiro, e desenterrado - para ser jogado no mar - em 1973.
A "solução final", diz Malhães, decorreu de determinação do CIE-Centro de Informações do Exército: “A preocupação foi aquela velha briga. Foi o negócio de enterrar. Eles enterram o cara, tiraram cara do lugar que estava enterrado que era no Alto da Boa Vista porque ia passar na beira de um estrada. Aí, tiraram o cara e levaram para o Recreio e enterraram na areia. Só que a Polícia do Exército (PE) quase toda viu isso".
Ao lado, Rubens Paiva, que morreu de tanto apanhar, em foto de família, morto e enterrado no Alto da Boa Vista. Foto: Arquivo de O Dia
É sobre esse enredo digno de filme de terror que alguns saudosista não querem falar. Ao contrário, entendem que uma pedra foi posta em cima com a edição da Lei de Anistia, porque tal horror estaria contido na definição legal como "crime conexo".
Porque estamos em março, nos 50 anos do golpe militar de 1964 (que há quem queira reeditar), trazemos o fato, para que não esqueçamos do que representou a 'democrática' atuação militar, apoiada por políticos e empresários brasileiros. Da mesma estirpe daqueles que, como hoje, buscam um golpe quando têm dificuldade para vencer eleições.
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