DE RODAPÉS E DE ACHADOS *
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Não falta nada
Muitas religiões
exercitam expedientes os mais diversos para efetivação de típicos negócios: da
venda de lasca da cruz de Cristo a areia e água do rio Jordão. A escassez,
tanto o universo consumidor, está levando a uma criatividade nunca imaginada.
O inusitado chega
através de mais um ‘produto’: perfume com cheiro de Jesus.
Caso não seja brincadeira com coisa séria não
temos como entender que a exploração/mercantilização da Fé chegue a ponto de
exercitar um típico comportamento estelionatário.
Cabe explicar se
o cheiro é do suor ou das essências com que mulheres
lavaram os pés do Mestre;
ou se tem natureza afrodisíaca (heresia!) ou simplesmente de incenso.
Bem provável que sua criadora propague que o aroma é o que o incauto sinta. Fica melhor para quem engana. E
realização/sublimação para o enganado.
Estesia plena!
Mais um capítulo
Nada pior do que
perder a confiança. Assim nos sentimos diante do que faz o ministro Joaquim
Barbosa. Temos que toda ação por ele promovida tem finalidade específica; assim
o foi quando escondeu (sob o pálio do segredo) o inquérito 2474 que inocentava
Dirceu e quejandos do crime de corrupção; como na tentativa de ver a decisão
dos embargos infringentes ‘negados’ às vésperas do 7 de setembro; ao
ressuscitar Martinez; na prisão, sob rojões, da cúpula petista da AP 470 no dia
da Proclamação da República etc. etc.
Assim determinar
– quase pedindo desculpa, tamanha a demora – a prisão de Roberto Jefferson soa
em nós – com essa mania de perseguição joaquina
– como mote para não acolher o pedido de prisão domiciliar de José Genoíno.
Talvez estejamos
errado. Mas não custa aguardar a próxima semana... ops!, o próximo capítulo.
Respostas I
O ministro Gilmar
Mendes – um risco para as instituições democráticas nacionais, como alertava o
jurista Dalmo de Abreu Dallari quando foi ele indicado para o cargo por FHC –
não deve andar muito feliz.
Em decorrência de suas declarações de que as
contribuições para pagamento de multas de petistas cheiravam à lavagem de
dinheiro da corrupção o ânimo e a autoestima da militância voltou ao programa
da campanha.
A reação não se
bastou nas campanhas em favor de Genoíno, Delúbio e Dirceu, plenas de êxito,
mas na indignação de próceres do mundo jurídico, também doadores, que se
tornaram – pela fala de Gilmar – em lavadores de dinheiro sujo.
Como resposta à
inconsequente declaração estão chovendo interpelações judiciais interpostas
contra Sua Excelência, até o presente salvo pela interpretação do ilustre par
Luiz Fux.
Respostas II
Por fim a
resposta última, também dirigida ao ministro Joaquim Barbosa: a campanha para
pagamento da multa de Dirceu já ultrapassara o necessário ao meio-dia deste
sábado, quando contabilizadas 3.972 doações que atingiam pouco mais de 920 mil
reais, que somadas aos 143 mil restados das campanhas em favor de Genoíno e
Delúbio alcançavam 1.083.694,38, suficientes para cobrir a multa 971 mil
aplicada e os impostos.
Respostas
diretas, como um soco bem desferido. Para Joaquim Barbosa: não conseguiu ‘matar’
José Dirceu. Para o patético Gilmar Mendes, ficar entre dois fogos: a
solidariedade dos petistas e a declaração implícita de que houve injustiça no
julgamento.
Particularmente receberá
os disparos da artilharia das interpelações. Que, se o pretender – basta outra
declaração como a anterior – para levar outros 4 mil doadores a interpelá-lo.
A mensagem
A mensagem
Nenhuma dúvida da
pretensão oposicionista, em nível de conquistar apoios/recursos para a campanha
entre os abonados. PSDB de Aécio Neves e PSB de Eduardo Campos apregoam a
‘necessidade’ de garantir à especulação o tapete vermelho em seu(s) governo(s).
Para tanto, o mínimo que anunciam é autonomia para o Banco Central e
atrelamento do Real ao dólar, uma espécie de ‘anexo’ da moeda estadunidense
(prática de triste memória para a Argentina, que chegou ao extremo da conversão
automática pela paridade).
Hoje detendo 75%
do PIB mundial (31% a mais que antes de 2008), ainda que depois de uma crise
que ainda não terminou, os recursos estéreis do sistema financeiro e dos fundos
de pensão anunciam o caos para quem não siga suas orientações ou não atendam
aos seus reclamos.
Para não ficar de
patinho feio o Governo Brasileiro fez a sua parte: anunciou na quinta 20 um
corte de 44 bilhões no orçamento e fixou pelo menos 100 bilhões para pagamento
de juros, através do denominado superávit primário de 1,9% do PIB.
Para a turma que
não cansa de lutar para que “esta terra cumpra o seu ideal” (dela turma); o de
que o Brasil “ainda vai tornar-se um imenso Portugal”, como lembra “Fado
Tropical” (Chico Buarque-Ruy Guerra).
É que não enxergam as lições da
Europa-pátria-de-lições-neoliberais.
Contando os poucos dias
Em setembro,
quando completa 70 anos, o ex-deputado, ex-governador, ex-presidente do PSDB
Eduardo Azeredo encontrará a paz dos ‘justos’, beneficiado pela prescrição dos
crimes a que se vê acusado. Muito difícil que haja julgamento até lá. Sem condenação
transitada em julgado fica impossível a interrupção da prescrição.
Palmas para
Joaquim Barbosa, que comandou o espetáculo de retardar e fatiar o denominado
mensalão do PSDB, instaurando o STF de
dois pesos e duas medidas.
Tucanos em conflito
José Serra, em teleconferência
para consultores financeiros disse não ver ‘descontrole inflacionário e fiscal’,
tampouco situação econômica ‘calamitosa’ para o Brasil. Para Serra, ainda que
enxergue “uma perda de manobra na área fiscal” do governo federal isso não há
descontrole nem risco de calote.
Suas declarações contrariam
o presidenciável Aécio Neves. Enquanto Aécio aposta no caos José Serra nega sua
existência.
O PAC 2
Vimos o vídeo
institucional sobre o PAC 2. Entendemos porque o Jornal Nacional está fiscalizando
o estado das estradas que levam aos estádios da Copa; para a Globo – em campanha
aberta contra o Governo, travestindo-a de jornalismo – qualquer 100 quilômetros
sem asfalto representa muito – se não tudo – diante de milhares de quilômetros
asfaltados.
Não tardará
entrevistar o frei Capio.
Mas duro mesmo
será ver o vídeo retalhado em publicidade através da Globo. Que receberá o
dinheiro da publicidade para ‘bater’ em quem paga.
Mas o masoquista
Governo Federal gooooosta!
Paranoia I
Vivemos,
particularmente, a paranóia que nos embala neste 2014, que começou bem antes do
carnaval, diferentemente dos anos anteriores. “Quem tem os olhos fundos começa
a chorar mais cedo” – reproduzia vó
Tormeza a sabedoria popular. Sob esse olhar, vemos as ações dos que temem
perder as eleições em processo democrático.
Tanto que
avançamos! Não sabemos se merecemos os avanços, as conquistas. Ainda que não
estejam no patamar ideal. Mas, parece não existirem. Ou o vídeo institucional
mente.
Mas a história se
repete. Que esperamos o seja como farsa. Concreta como o cinquentenário de
existência.
Talvez isso cobre
ouvirmos um fado português. Para fazer fundo à melancolia que nos invade.
Para alimentá-la
a nova pesquisa Datafolha.
Paranoia II
Este 2014 se afigura
emblemático na memória para quem está próximo a sete décadas de existência: 60
anos da morte de Getúlio (para frustrar um golpe), 50 do golpe e 30 das Diretas
Já.
É que vemos sinais não de luta para preservar as instituições democráticas,
que bem poderiam ser lembradas pelos 30 anos das Diretas, mas de retomada de
atos bem mais próximos de 1954 e 1964.
Verdade
serena I
Há uma trova de
Adelmar Tavares (1888-1963), que inspira o título e abre o prefácio do livro “Coisas
que o povo diz”, de Luiz da Câmara Cascudo (1898-1986): “A verdade popular / Nem
sempre ao sábio condiz / Mas há
verdade serena / Nas coisas que o
povo diz”.
Aflorada – porque
tornada pública – a insatisfação de Rosemberg Pinto diante do que entende deslealdade de Geraldo Simões. Alega que
costurou apoios para Geraldo em 2010 sem a devida contrapartida e nunca cobrou
por isso. E, ferino, afirma não temer o rompimento, que observadores constataram
já ter ocorrido. Basta – dizem os observadores – ver o comportamento de
Rosemberg em relação a Geraldo durante o encontro do PT me Itabuna, neste
sábado.
Verdade
serena II
Não sabemos o que
GS conquistou depois do pleito de 2010, quando perdeu 14 mil votos em relação
aos 89 mil conseguidos em 2006 (12 mil deles em Itabuna e outros 2 no restante
do Estado), mas não pode ser descartada a observação de Rosemberg de que lhe
“deu votos”.
Basta que se perceba
a votação de GS obtida em Ibicaraí, Itororó e Itapetinga – em torno de 15 mil
votos – que pode ter salvo a eleição do itabunense em 2010, em muito atribuída
à liderança eleitoral de Rosemberg para a transferência de votos.
Parodiando
Tavares, em política e eleições nem sempre a verdade convence a quem ela
observa, mas não se negue a verdade que nela está escancarada em atitudes de
seus atores.
Mesmo horizonte
Alguns entendiam difícil
a reeleição de Geraldo Simões em 2014. Pelo desgaste decorrente de sua insistência
na candidatura de Juçara a prefeita (2008 e 2012) uma expressão de típica
postura dinástica.
A reação de Rosemberg
Pinto decorre de outra manifestação dinástica: GS está apoiando o filho Tiago,
para deputado estadual, nos mesmos espaços onde foi apoiado por Rosemberg.
Visível que
Geraldo reconquistou votos na região. Afinal, tem sido a única voz, por
exemplo, a defender os pequenos produtores da região de Buerarema, Una e
Ilhéus, buscando uma solução para um conflito onde tem prevalecido a
insensatez.
Mas a imagem de
que pretende construir uma dinastia sacrifica o que tem conquistado.
GS continua
sentado no mesmo banco da praça enxergando o mesmo horizonte, onde só tem
familiares e mais ninguém.
Comunicação
Na rede
circularam fotos do prefeito Claudevane Leite acompanhado de um vereador.
Veiculadas pelo vereador, enalteciam as iniciativas do edil, reconhecidas pelo
prefeito, e concretizadas pela administração.
Como as obras são
concretas não concreta é a comunicação do governo, que não as torna públicas na
dimensão que representam para a imagem do governante.
Não sabemos quem,
internamente, controla a comunicação. Ou, em outras palavras, a quem serve a
comunicação.
Quando a melodia define
A melodia
universaliza a música. Alguém já o afirmou que letra nela é dispensável. Ocorre
que o poema traduz o fato melodizado. Muitas vezes não percebido em si.
Como acontece com “Nunca
aos Domingos” (Manos Hadjidakis-Steve Bernard), premiada com o Oscar de Melhor
Canção Original, tema de um filme de 1960, de igual título na origem (Never on
Sunday), dirigido e interpretado por Jules Dassin, destacando no elenco a grega
Melina Mercouri, casada com Dassin, premiada no Festival de Cannes como atriz
pelo trabalho.
Aqui a versão (de
Valéria), interpretada por Edith Veiga, regida por Poly, lado B de um 78 rpm,
que lançou Edith com “Faz-me Rir”. A letra traduz a história filmada. Que
somente será compreendida assistindo ao filme. Quando a verdade da letra
incomodar os mais pudicos prevalecerá a melodia.
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* Coluna publicada aos domingos no www.otrombone.com.br
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