Nunca perdeu o valor em si o contido
no provérbio dize-me com quem andas e te
direi quem és. Ninguém diga que faltam boas intenções em Marina Silva.
Estranha, em sua cartilha, as contradições que encerram o seu discurso. E não é
ele – o discurso – o que a faz tributária de votos de um eleitorado que parece
segui-la, e sim representar a fuga de uma polarização que ocupa a administração
pública brasileira há vinte anos, centrada no PSDB-PT.
Nunca apresentou algo de concreto
além do discurso. Mas se torna uma expectativa positiva. Mormente para os que
já viam continuidade na administração petista antes da morte de Eduardo Campos.
A falta de um grupo que assegure
confiança no curso de uma administração mais alimenta a incerteza em Marina
além da utilidade de romper com a dobradinha PSDB-PT. Ocorre que o Brasil tem
rumos estabelecidos. E Marina não os define com clareza quando indagada a
continuar. Divaga.
Uma de suas porta-vozes é acionista
do Itaú. Voz do sistema financeiro – que cobra a independência do Banco
Central. Tal acontecer é entregar o galinheiro à raposa.
O mesmo ocorre com seus orientadores
para o programa econômico, de natureza tipicamente neoliberal. Como o do PSDB de
FHC. Eduardo Giannetti e André Lara Rezende são de triste memória na história recente.
Marina ao negar importância aos
partidos políticos nega a essência das democracias representativas. Não prega
uma reforma político-eleitoral-partidária como objetivo. Unge-se como a solução.
Ainda que pondo em risco todas as conquistas recentes e de tornar-se tão
somente espingarda de Satanás na mão das oligarquias nacionais que estão a serviço
não do Brasil mas das migalhas que lhes reste da histórica atuação entreguista.
Para compreender Marina basta olhar os que estão à sua volta, traduzir o provérbio.
É preferível um Aécio na mão que duas Marinas voando
A aposta em Marina Silva é de alto risco por várias razões.
Dilma Rousseff e Aécio Neves representam forças claras e explícitas e são personalidades racionais.
Dilma defende um neo-desenvolvimentismo com uma atuação proativa do Estado e Aécio a volta ao neoliberalismo de Fernando Henrique Cardoso.
Em 2011, o pânico em relação à inflação tirou Dilma do prumo. Mas ela tem ideias claras sobre o país e sobre o que quer: política industrial, investimentos em infraestrutura, aprofundamento do social.
Podem ser apontados inúmeros vícios de gestão, mas também tem feitos consagradores, como a própria política do pré-sal, a construção da indústria naval, o Pronatec, Brasil Sem Miséria e um conjunto de obras – especialmente na área de energia.
Mesmo sua teimosia mais arraigada não chega perto do risco da desestabilização – apesar do terrorismo praticado por parte do mercado.
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Com Aécio, a economia será submetida novamente a uma política de arrocho fiscal. Haverá refluxo na atuação do BNDES, fim das políticas de incentivo fiscal, redução da ênfase nas políticas sociais, interrupção no processo de reaparelhamento técnico do Estado. Se venderá novamente o peixe da “lição de casa” e do pote de ouro no fim do arco-íris.
Assim como FHC, Aécio estará ausente do dia a dia. Mas certamente se cercará de um Ministério de primeira grandeza e há uma lógica econômica por trás de suas propostas.
Até onde pretenderá chegar com o desmonte do Estado social, é uma incógnita. Mas age com racionalidade.
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Já Marina é uma incógnita completa.
Primeiro, pelos grupos que a cercam e que querem um pedaço desse latifúndio. E ela não tem um grupo para chamar de seu, a não ser para o tema restrito do meio ambiente.
Haverá uma disputa dura para saber quem a levará pela mão: economistas de mercado, os grandes empresários paulistas, ambientalistas radicais, os egressos do PSB e – se Marina se consolidar – os trânsfugas do PSDB paulista.
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O segundo dado é o mais confuso: a personalidade de Marina que nunca foi de admitir ser conduzida por ninguém.
Os que conviveram com Marina no governo reforçam algumas características:
- Dificuldade em entender economias industriais.
- Baixo pique operacional. Praticamente não conseguiu colocar de pé nenhuma de suas propostas à frente do Ministério do Meio Ambiente.
- Jogo de cintura nenhum.
Tudo isso seria contornável, não fosse um aspecto de sua personalidade: teimosia e voluntarismo exacerbados. No governo Lula era quase impossível a outros Ministros definir pactos com Marina. Nas vezes em que era derrotada, costumava se auto-vitimizar.
Os empresários paulistas que apoiaram sua candidatura estavam atrás do símbolo político, o Lula de saias, o Avatar dos novos tempos. Vice de Eduardo Campos seria o melhor dos mundos, pois o presidente asseguraria a racionalidade do governo.
Colocaram como seus porta-vozes economistas, importaram o brasilianista André Lara Rezende, que encontrou a melhor síntese para casar o livre mercadismo com as propostas ambientalistas de Marina: o país não pode crescer para não comprometer o equilíbrio do meio ambiente mundial. Quem chegou, chegou, quem não chegou não chega mais.
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Experiências recentes do país indicam que o componente pessoal, a psicologia individual é um ponto relevante na análise de figuras públicas.
Resta saber se o país está disposto a pagar para ver.
Para os mercadistas: aguardem um mês de campanha antes de iniciar a cristianização de Aécio, para poder entender melhor a personalidade de Marina.
É preferível um Aécio na mão que duas Marinas voando
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