A prisão de Roger Abdelmassih, o médico condenado por estuprar dezenas de pacientes que o procuravam para que aviasse a fecundação, tem ocupado o noticiário. Quando muito citam que fugiu do país depois que foi beneficiado por um habeas corpus do Supremo Tribunal Federal. O nome do ministro que o concedeu, e as circunstâncias em que ocorreu, passam ao largo.
A matéria abaixo, publicada na Folha de São Paulo e veiculada no Conversa Afiada, bem demonstra a crueza dos fatos e a dimensão absurda de como os poderosos neste país são tratados por algumas figuras do Poder Judiciário.
Gilmar Mendes é o nome do ministro do STF. Que concedeu o habeas corpus ao condenado a 278 anos de prisão, quando de plantão nas férias do Natal. Falam que 1 milhão de reais passou de Abdelmassih para as mãos do advogado Márcio Thomaz Bastos.
Gilmar Mendes é o mesmo que concedeu dois habeas corpus, em menos de 48 horas, ao banqueiro Daniel Dantas, também condenado pela Justiça Federal. Também aquele dos 'grampos sem áudio', de relações espúrias com o ex-senador Demóstenes Torres, até empregando amigo do amigo senador.
Ainda que sua 'ficha' contenha tais deslizes (foi chamado, em plena reunião do STF, por Joaquim Barbosa, de chefe de bandidos) permanece protegido pela mídia.
Até quando uma vítima resolve escancará-lo.
Publicado em 22/08/2014
VÍTIMA DE ROGER
VAI PROCESSAR GILMAR
HC foi “dupla violação”, disse vítima
(…)
VANUZIA LEITE LOPES, 54
Fui paciente do Roger [Abdelmassih] em 1993. Era jovem, bem casada. Ele me pegou no momento mais sagrado. Quando eu estava deitada esperando para uma alma ser fecundada dentro de mim.
Ele fez sexo anal comigo, e depois vaginal. Eu peguei uma infecção, fiquei internada no [hospital Albert] Einstein, perdi trompas e ovário. Dois dias depois eu estava ali, cheia de pus na barriga.
Eu fui a única vítima que tinha esperma dele. Na época, eu fui na delegacia, no conselho de medicina, ninguém me ouviu. Pensei que era só eu que tinha sofrido abuso. Depois de alguns anos, vi a denúncia da secretária dele.
O Roger [Abdelmassih] dizia que éramos covardes. Então eu decidi mostrar o rosto. Eu fui vítima, mas não sou coitada. Depois que ele saiu de cima de mim, estou no meu direito de caçá-lo.
Em 1993, eu engoli minha dor. Pensei que eu era vítima sozinha. Meu casamento terminou logo depois.
Em 2008, sofri outro estupro, digamos assim. Tive que contar minha história na frente da juíza, enfrentar os advogados dele, enfrentar esse homem de novo. Aí que eu desenvolvi síndrome do pânico.
Depois de dois anos comecei a melhorar. Então, o Gilmar Mendes [ministro do STF] soltou ele. Piorei de novo.
Decidi que vou entrar com uma representação contra Mendes, por sofrimento desnecessário. Sofremos abuso, a sequela do abuso, a exposição durante processo. E sofremos agora, de novo, para colocá-lo na cadeia.
Eu comecei a estudar direito para justamente entender como podem ter soltado um homem que foi condenado com a maior pena por estupro, que pegou as vítimas no momento mais vulnerável.
Eu engordei 50 kg por causa do pânico. E nunca mais tinha tido qualquer contato físico com outro homem desde que adquiri a síndrome.
Em 2011, me internei numa clínica e perdi o peso que ganhei. Só recentemente consegui dar um beijinho em alguém. Estou namorando. Minha vida agora está bem.
VANUZIA LEITE LOPES, 54
Fui paciente do Roger [Abdelmassih] em 1993. Era jovem, bem casada. Ele me pegou no momento mais sagrado. Quando eu estava deitada esperando para uma alma ser fecundada dentro de mim.
Ele fez sexo anal comigo, e depois vaginal. Eu peguei uma infecção, fiquei internada no [hospital Albert] Einstein, perdi trompas e ovário. Dois dias depois eu estava ali, cheia de pus na barriga.
Eu fui a única vítima que tinha esperma dele. Na época, eu fui na delegacia, no conselho de medicina, ninguém me ouviu. Pensei que era só eu que tinha sofrido abuso. Depois de alguns anos, vi a denúncia da secretária dele.
O Roger [Abdelmassih] dizia que éramos covardes. Então eu decidi mostrar o rosto. Eu fui vítima, mas não sou coitada. Depois que ele saiu de cima de mim, estou no meu direito de caçá-lo.
Em 1993, eu engoli minha dor. Pensei que eu era vítima sozinha. Meu casamento terminou logo depois.
Em 2008, sofri outro estupro, digamos assim. Tive que contar minha história na frente da juíza, enfrentar os advogados dele, enfrentar esse homem de novo. Aí que eu desenvolvi síndrome do pânico.
Depois de dois anos comecei a melhorar. Então, o Gilmar Mendes [ministro do STF] soltou ele. Piorei de novo.
Decidi que vou entrar com uma representação contra Mendes, por sofrimento desnecessário. Sofremos abuso, a sequela do abuso, a exposição durante processo. E sofremos agora, de novo, para colocá-lo na cadeia.
Eu comecei a estudar direito para justamente entender como podem ter soltado um homem que foi condenado com a maior pena por estupro, que pegou as vítimas no momento mais vulnerável.
Eu engordei 50 kg por causa do pânico. E nunca mais tinha tido qualquer contato físico com outro homem desde que adquiri a síndrome.
Em 2011, me internei numa clínica e perdi o peso que ganhei. Só recentemente consegui dar um beijinho em alguém. Estou namorando. Minha vida agora está bem.
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