Atribui-se a Tancredo Neves – está na primeira edição do Folclore Político, de Sebastião Néry, publicado nos idos de 1973 – o sábio conselho: político não compra, não vende, não recebe presente. A sabedoria mineira se faz traduzida na lição de Tancredo: evitar ostentação, fugir às observações, evitar ser alvo da malícia do olhar comum em razão da visibilidade natural a qualquer político.
A denúncia do jornal Folha de São Paulo envolvendo a construção de um aeroporto na cidade mineira de Cláudio vai ocupando foros de enredo policial a cada nova explicação dada pelo gestor responsável por sua ordem de serviço: o Estado de Minas Gerais então governado por Aécio Neves.
Nada de estranho – até apurações e investigações outras – a construção de um aeroporto, não fosse o enredo que o envolve.
O palco onde construído é terreno pertencente a um tio-avô do presidenciável Aécio Neves, indenizado pela bagatela de 1 milhão de reais (já depositados, valor questionado uma vez que o ilustre tio pretende em juízo 8 milhões) próximo poucos quilômetros (em torno de 6) de terras pertencentes ao próprio Aécio e familiares.
Pedro Venceslau, em texto publicado no Tribuna da Imprensa on line faz referência à pérola ofertada por Aécio, como defesa, diante da denúncia da Folha de São Paulo:
"Depois de passar o dia recolhido em Belo Horizonte preparando sua defesa no caso do aeroporto construído em Minas em um terreno que pertenceu ao seu tio-avô, o senador Aécio Neves, candidato do PSDB à Presidência, desembarcou em São Paulo no fim da tarde desta terça-feira, 22, e fez uma declaração à imprensa.
O tucano apresentou dois pareceres assinados por ex-ministros do STF, Carlos Velloso e Ayres Brito, para reforçar o argumento de que não houve ilegalidade na construção de um aeroporto no município de Cláudio, no interior do Estado, em um terreno que foi desapropriado de seu tio-avô.
Segundo o documento, o procedimento adotado foi 'correto'. 'Estando o Estado já investido na posse de bem imóvel, é licita a realização da obra para a qual o ato de desapropriação ocorreu'. Em sua defesa, Aécio alega que o terreno de seu tio-avô foi desapropriado pelo Estado a um preço muito abaixo do que ele valia. 'O Estado pagou R$ 1 milhão pelo terreno e meu tio apresentou proposta de R$ 9 milhões. Se houve algum favorecido foi o Estado, não meu tio-avô', disse Aécio.
O candidato disse ainda que a denúncia é motivada por seus adversários na campanha eleitoral. 'A campanha começou como nossos adversários gostam, com mentiras e ataques, essa é uma praxe de nossos adversários do PT'. O senador encerrou a declaração sem responder às perguntas dos jornalistas sobre a frequência com a qual utiliza o aeroporto, que fica a 6 km da fazenda de sua família".
Como facilmente pode-se observar Aécio Neves transita em terreno pantanoso, onde o cheiro agride mais que o aroma do rio Cachoeira nos limites urbano-itabunenses.Ainda que provada a legalidade do negócio entre o Estado de Minas e o tio-avô do governador e mesmo nenhuma outra irregularidade tenha existido (como o custo equivalente a 14 milhões de reais para uma pista de 1.100 metros) e seja mera coincidência servir de pouso (mesmo sem autorização da ANAC) para aviões particulares (inclusive dele, Aécio), desde que autorizado pelo próprio tio-avô, tudo esbarra na lição/conselho do tio Tancredo.
Não bastasse, o PSDB de Aécio mais vai embaralhando o meio de campo: acaba de ajuizar medida contra o Governo Federal, culpando-o pelo fato de a ANAC informar que o aeroporto não tem autorização para pousos. E mais: o próprio Aécio implica o PT como responsável pela denúncia!
Há pedido junto à Procuradoria-Geral da República para apurar os fatos, encaminhado pelo PT. Jogo político que o seja pode haver um velado temor em setores tucanos que se descubra que aquele pouso intermediário do helicóptero de Perrela com quase meia tonelada de pasta de coca tenha ocorrido naquele aeroporto.
Certo que muita água pode rolar por baixo da ponte. Tudo porque uma lição familiar não foi escutada. Há quem afirme que a mineira lição de Tancredo Neves não foi levada ao extremo pelo sobrinho Aécio porque este mais vive no Rio de Janeiro do que em Minas.
Preferimos concluir com o expresso pela sabedoria popular: "Quem não ouve conselho ouve coitado!" A lição inserta no imaginário popular não foi aprendida e posta em prática por Aécio Neves.
Resta saber os limites do 'coitado!'
Nenhum comentário:
Postar um comentário