quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Surrealismo à brasileira

Recebi, não nego...
Matéria veiculada no Estadão informa que o ministro Gilmar Mendes, do STF, promoveu junto a Procuradoria-Geral da República a abertura de inquérito por calúnia, difamação e injúria contra a revista Carta Capital (e seu editor Mino Carta), que afirmou, na edição 708, haver o ministro recebido 185 mil reais do valerioduto mineiro em março de 1999, quando advogado-geral da União.

O argumento de Mendes é de que àquela época (o do recebimento) não era Advogado-Geral da União (o que ocorreria a partir de janeiro de 2000), e sim subchefe para Assuntos Jurídicos da Casa Civil.

Não fora isso, alega que é falsa a lista onde aparece seu nome como beneficiário do “mensalão” do PSDB mineiro (que espalhou dinheiro para políticos e personalidades de vários estados brasileiros).

A matéria não explica se Gilmar Mendes, na condição de “subchefe” para Assuntos Jurídicos da Casa Civil podia exercer a advocacia privada. (Aqui não entramos no mérito de que tal advocacia o era para um esquema criminoso).

...Mas foi legal
O que está claro: Gilmar Mendes não nega haver recebido o dinheiro.

Entende, no entanto, que comprovada está a falsidade da acusação pela circunstância de nela ser afirmado que ocupava o cargo de Advogado-Geral da União, o que ocorreria somente um ano depois.

Ou seja, se fosse o Advogado-Geral da União não podia (ilegal), mas como era “subchefe” para Assuntos Jurídicos da Casa Civil estava amparado (não sabemos em quê!).

Brasil singular. O ministro do STF – nosso “Fanfarrão Minésio” – recebeu recursos de um esquema criminoso enquanto servidor de alto escalão do Governo Federal ao tempo de FHC (que o indicou para o Supremo) e parece demonstrar que isso é normal.

Tanto que pretende processar a Carta Capital não pelo conteúdo (a denúncia do recebimento) mas pela “falsidade” de que não era Advogado-Geral da União e sim mísero subchefe para Assuntos Jurídicos da Casa Civil.

Detalhe para fechar o pano: certamente pretende julgar a ação, para que não falte mais nada neste teatro do absurdo do surrealismo tupiniquim do século XXI.

Para sabermos onde pisamos
O senador Fernando Collor, na reunião da CPMI do Cachoeira desta terça 14 apresentou uma grave denúncia que leva ao descrédito a atuação de membros do Ministério Público federal. Ou, quando nada, ao envolvimento de alguns com irregularidades outras, além das por eles praticadas.

Revelou o senador que, exatamente em 2 de março de 2012, procuradores que se constituem braço direito do Procurador-Geral da República Roberto Gurgel (Leia Batista de Oliveira, Daniel de Resende Salgado e Alexandre Camagno de Assis) se encontraram, por orientação de Policarpo Júnior, com outros repórteres da Veja, Gustavo Ribeiro e Rodrigo Rangel. Deles receberam documentos de inquéritos protegidos por “segredo de Justiça” que resultaram nas operações Monte Carlo e Vegas.

Para Collor, a Veja e o Procurador-Geral estão num mesmo barco, altamente suspeito de transporte de material nada regular.

Afinal, a transferência de material sob responsabilidade da PGR, amparado em “segredo de Justiça”, para a revista dos escândalos, onde o mais recente é o envolvimento com o crime e sob comando de um criminoso (Carlinhos Cachoeira) abala os pilares da respeitada instituição republicana denominada de Ministério Público Federal.


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