DE RODAPÉS E DE ACHADOS *
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O Brasil não está só
Que nossa certeza seja
desmentida por nossos “formadores de opinião” e pelo jornalismo da grande elite
(escrita, radiofonizada e televisada) diante do que as televisões europeias
repercutiram na sexta 25, com destaque: que divulguem a decisão da chanceler
alemã Angela Merkel, de unir-se ao Brasil para buscar na ONU medidas
concretas contra a espionagem de que acaba de ser também vítima. (A leitura do
G1, para o caso, é outra – para não fugir `tradição’).
Não esqueça o brasileiro de
que Dilma Rousseff, em discurso na abertura na Assembleia Geral da ONU criticou
aberta e duramentemente a atuação na National Security Agency, dos Estados
Unidos, e pediu a ONU, na oportunidade, regras que evitem abusos na internet.
Pedido ao qual Merkel agora anui.
A foto e a legenda que ilustram
este ‘comunicado’ está em
Germany Joins Brazil Seeking U.N. Action
Against Spying no http://www.usnews.com/news/articles/2013/10/25/germany-joins-brazil-seeking-un-action-against-spying
Tudo começou há 62 anos
O leilão do pré-sal,
envolvendo o campo de Libra – ainda que não dispense críticas conforme a ótica
de cada observador em conflito – deixou claro uma coisa: a presença chinesa.
Coisa há não muito tempo inconcebível. Serra, por exemplo, prometia a Chevron
(estadunidense) salvaguardar-lhe interesses caso eleito em 2002.
A diplomacia brasileira –
ainda que apresente percalços como a covardia de Celso Lafer - então ministro das
Relações Exteriores do Brasil de Fernando Henrique - de se submeter a tirar
sapatos em aeroportos dos Estados Unidos, ou mesmo a estranha expatriação de um
senador boliviano em avião e veículos da embaixada no governo Dilma ferindo
regras de Direito Internacional – tem assumido posições respeitadas e
equilibradas.
Nessa discussão do campo de
Libra – ainda que nosso sonho fosse de que tudo estivesse sob controle absoluto
da Petrobras, fato que foi rompido por FHC que a queria privatizada, como o
fizera com as telecomunicações, siderurgia, comunicações e energia – vemos a
atual postura brasileira afinada com aquela posição de iniciar entendimentos
com a China para constituí-la parceira já em 1961, quando Jango, então
vice-presidente da República – correspondendo à visão de Jânio – andou por lá
abrindo portas, que antes só se abriam/escancaravam para os Estados Unidos.
A grita da turma do andar de
cima neste “país de São Saruê” reside especificamente no fato de não mais
estarmos atrelados como quintal dos Estados Unidos. Imagine se a compra de
aviões para a Força Aérea vierem a ser os russos!
Até agora, pelo menos
embaixador brasileiro não anda tirando sapato em aeroporto dos Estados Unidos.
Gesto nobilíssimo
Médicos estrangeiros que
acolheram o convite para trabalhar no Brasil onde brasileiros se negam a
fazê-lo (por maiores razões que tenham) foram alvo de atitudes no mínimo
desrespeitosas, para não dizer xenófobas. A reação despropositada em Fortaleza
quando da chegada de médicos cubanos mancha a imagem do país, um país que,
ainda que seja uma “terra de contrastes”, para Roger Bastide, também é
reconhecido como terra de um homem onde a cordialidade lhe é da essência, como
deixou registrado Sérgio Buarque de Holanda no capítulo ‘O Homem Cordial’ em
seu clássico Raízes do Brasil.
A presidente da República
Dilma Rousseff pediu desculpas oficiais aos médicos cubanos vaiados por
estudantes e médicos de Fortaleza, como noticiou o UOL.
Uma grandeza que faltou pelo
menos ao CRM daquele estado já que o Conselho Federal de Medicina nem mesmo se
dignou em expressar uma razão de repúdio, não ao protesto, mas à xenofobia nele
contida.
Cuidado com o andor!
Há muitos anos – lá vão mais
de 40 – uma velha mestra residente em Itororó, a professora Aurora Valadares de
Almeida, com filhas residindo nos Estados Unidos, onde as visitava
periodicamente, nos disse – naquele imediato da reforma do ensino que impunham
ao país sob o crivo das baionetas – que aquilo que aqui estavam implantando o
fora nos EUA e lá não dera certo. – Como o dará no Brasil, Adylson?
No bojo das reformas a
universitária, entre outras, liquidando a proposta de Anísio Teixeira e Darcy
Ribeiro, levada a cabo como experiência com a criação da Universidade Nacional
de Brasília no início dos 60 (na UFESBA/UFSBA vemos sinais daquela experiência),
e substituía-se o ensino médio (então Clássico e Científico ou Normal) por um
processo que atendesse aos interesses mais do mercado do que da formação das
futuras gerações.
O Brasil, que ainda nem mesmo
conseguiu implantar de forma satisfatória o que o Darcy Ribeiro conseguira no
governo de Leonel Brizola, com os CIEPs nos anos 80 do XX – aperfeiçoamento da
Escola Parque de Anísio Teixeira, projeto educacional revolucionário implantado
em Salvador no início dos anos 50 do século passado – já transita como coisa do
outro mundo pelo viés da meritocracia como instrumento de melhoria para a
educação.
Muitos enveredam pelo lugar-comum. Inclusive a Bahia recente.
Por tal projeto atrelada fica,
dentre outras proezas, a remuneração do professor ao desenvolvimento do
processo da escolaridade, como um sistema quase matemático. Afinal, a
experiência é americana e nosso colonialismo ainda não nos afastou dos projetos
estatunidenses – ainda que experiências nativas sejam reconhecidas mundo a fora
– a de Paulo Freire que o diga!
Mais cuidado ainda com o santo!
Tanto anos passados da
conversa com a velha mestra Aurora – que ao lado de outros abnegados como
Carmelita Santana, Letícia Dias e Oscar Brasil – contribuiu para formar
gerações, já vivemos o fracasso da reforma que extinguiu os cursos Clássico e
Científico e valores educacionais que se sustentavam nas Humanidades.
Mas – este o móvel do presente
texto – nos deparamos com o expressado pela cabeça maior dos Estados Unidos que
defendeu e implantou o processo da meritocracia como “solução” em estado de
arrependimento, demonstrando o fracasso de tudo aquilo realizado desde os
tempos em que foi secretária de Educação e mesmo assistente de educação nos
governos Bush e Clinton, quando defendeu a meritocracia e os testes
padronizados (os provões) nas escolas de seu país.
A professora Diane Ravitch
reviu radicalmente seus antigos conceitos. A ênfase dada na responsabilização
do professor é danosa para a educação – afirma. Tudo está no livro “Vida e
morte do grande Sistema Escolar Americano – Como os Testes Padronizados e o
Modelo de Mercado Ameaçam a Educação”.
Recomendamos aos interessados –
inclusive professores que cultivem o hábito da leitura – uma entrevista de
Ravitch ao Estadão (Nota mais alta não é educação melhor) em http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,nota-mais-alta-nao-e-educacao-melhor,589143,0.htm e a leitura da obra, disponível em
PDF pela Editora Sulina
Algumas
recomendações de Diane Ravitch
–
deixe as decisões sobre as escolas para os educadores, não para os políticos ou
empresários;
– construa um currículo verdadeiramente nacional
que estabeleça o que as crianças em cada série deveriam estar aprendendo;
– espere que as escolas autônomas eduquem as
crianças que precisam de mais ajuda, não que concorram com as escolas públicas;
– pague um salário justo aos professores pelo
seu trabalho, não um “salário por mérito” baseado em pontuações de testes
profundamente falhos e não confiáveis;
– encoraje o envolvimento familiar na educação
logo a partir dos primeiros anos.
Não é piada
Recentemente promulgada a lei
que institui o “Dia Estadual do Ovo” no Estado de São Paulo.
Chama-nos a atenção a
quantidade de vetos. Provavelmente algum deles – ironia que o seja – diria
respeito a utilizar o dito cujo em autoridades, preservando-as dos ‘goros’ (ou gôros, na velha ortografia).
É possível que no elenco de
propostas para 2014 algum candidato a presidente saia na frente e assegure
civicamente, como promessa de campanha, a criação do “Dia Nacional do Ovo”.
Ovo nele!
Vítimas do contingenciamento
Se nada houvesse no encontrar
amigos como Iolanda, Jan Costa (descobrir a excelente vertente de Jackson Costa
como mediador), conhecer Aleilton Fonseca e ouvir Ruy Póvoas, bastaria
reencontrar Jorge Araujo. O que aconteceu recentemente na Semana de Leitura na
UESC.
Ficou-nos apenas a frustração:
estaríamos ambos em mesa redonda no dia seguinte ao mini-curso que ministraríamos em
evento promovido pela UESB, em novembro próximo, no campus de Vitória da Conquista. Foi suspenso, por causa do
contingenciamento de recursos.
Coisa do atual governo, que
economiza palitos mas deixa de fora a fogueira (dos gastos com publicidade)
Cinema
O respeitado Orlando Margarido
assina texto na última Carta Capital de que dispomos (a nº 771) – ‘O fio da
memória’ – iniciando-o por referência a Eduardo Coutinho. O título da matéria a
temos como homenagem a Coutinho, que dirigiu trabalho assim denominado em 1991.
O documentarista por excelência – se nada houvesse realizado além, bastaria “Cabra
Marcado Para Morrer” (concluído em 1985) – tem em seu currículo pérolas como “Peões”
(2004), “Edifício Master” (2002), “Babilônia 2000” (1999), “Santa Marta” (1987),
“Boca do Lixo” (1993) entre tantos.
É, por excelência, um cineasta
de fatos reais – ainda que denominados ‘ficção’ – com visão humanista
comprometida com pessoas, indivíduos e populações marginalizadas.
E nos vem à mente clássicos
como “12 homens e uma sentença” (1957) e “Veredicto” (1982) de Sidney Lumet,
“Crime Verdadeiro” (1999) de Clint Eastwood e “Glória Feita de Sangue” (1957),
de Stanley Kubrick. Exemplos de um cinema que explora as mentiras que se tornam
verdade em inquéritos e processos judiciais.
Teatro
Anunciado para o Centro de
Cultura Adonias Filho um tal “Diálogo do Esfíncter”. Tantos são os absurdos
cometidos naquele espaço do Estado que não nos dignamos a comentar mais do que
já comentamos sobre a natureza e o caráter de um dirigente despreparado para a
função mas nela encastelado por ser indicado e mantido por político que – dizem
– atendeu a pedido de sua genitora. No caso específico também não nos cabe
cobrar dele especificamente o espetáculo anunciado.
Mas, particularmente o que nos
indigna como cidadão nasce do fato de que o texto conhecido – inclusive afastou e mesmo horrorizou famílias acompanhadas de filhos, público e mesmo
policiais do espaço onde fora apresentado em praça pública durante o Multiarte,
em julho – escolhido por comissão que certamente não leu o texto – a ponto de deixar
em situação constrangedora o presidente da FICC que estava presente – tem em
seu próprio título uma estranha ‘alegoria’ física para a didática que
pedagogicamente há de tratar dos 'esclarecimentos' pretendidos pelo autor, que
exibirá o espetáculo com apoio do GAPA, que o apresenta em comemoração pelas 24
efemérides do grupo
Basta que se veja o
significado no dicionário do personagem que dialogará no “monólogo” com o
público.
A não ser que o texto tenha
alcançado a casticidade (o que duvidamos, em razão do público destinatário, que
não pode ser menor de 16 anos) o tema – de saúde pública – tão sério e grave passou
a depender de baixaria sadeana, porque a ‘comédia’ certamente não se limitará a
corresponder à definição vocabular.
Bienal
A editora grapiúna Via
Litterarum se fará presente, na Bienal do Livro em Salvador, que será realizada
entre os dias 8 e 17 de novembro, instalada no Stand E 07 (próximo ao Café Literário), com uma leva de autores
regionais.
Lá estaremos, às 20 horas do
dia 14 (quinta-feira) lançando a 2ª edição do romance “Amendoeiras de Outono” e
disponibilizando o “ABC do Cabôco”.
Cultura em prosa e bate-papo
Mais um encontro, coordenado
por Iolanda Costa – e a surpresa de Jan Costa em clarineta – realizado na Nobel
local no sábado 26 com o artista Rafael Pita, que ora expõe no próprio
Jequitibá.
Registro: ausência da
imprensa.
Nando luz
O baiano de Itororó,
cavalgando o sucesso em São Paulo, na próxima edição.
Dos recônditos
Há 45 anos, mais exatamente em
29 de setembro de 1968, encerrava-se um Festival Internacional da Canção. (Para
aquele festival tentamos inscrever um composição – desconhecendo a burocracia
que exigia a gravação em cassete numa determinada velocidade, que na província
não dispúnhamos – que nos arroubos da época apresentava um refrão final que
dizia “Amei a liberdade, mas o meu amor morreu”, às vésperas do AI-5. A não inscrição
pode nos ter salvo a vida).
Mas, voltando ao FIC/68, a
grande vencedora foi “Sabiá”, de Tom Jobim e Chico Buarque, belamente
interpretada por Cynara e Sybele, que viriam mais adiante a formar o
inconfundível Quarteto em Cy.
Na apresentação da vencedora o
Maracanãzinho era uma vaia só. Não para “Sabiá”, mas para homenagear “Caminhando”
– a preferida do público – tradicionalmente conhecida como “Pra Não Dizer Que
Não Falei de Flores”, de Geraldo Vandré.
Há qualquer coisa no ar, que
nos pede para lembrar Vandré.
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* Coluna semanal publicada aos domingos em www.otrombone.com.br
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