domingo, 27 de outubro de 2013

Destaques

DE RODAPÉS E DE ACHADOS *

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O Brasil não está só
Que nossa certeza seja desmentida por nossos “formadores de opinião” e pelo jornalismo da grande elite (escrita, radiofonizada e televisada) diante do que as televisões europeias repercutiram na sexta 25, com destaque: que divulguem a decisão da chanceler alemã Angela Merkel, de unir-se ao Brasil para buscar na ONU medidas concretas contra a espionagem de que acaba de ser também vítima. (A leitura do G1, para o caso, é outra – para não fugir `tradição’).

Não esqueça o brasileiro de que Dilma Rousseff, em discurso na abertura na Assembleia Geral da ONU criticou aberta e duramentemente a atuação na National Security Agency, dos Estados Unidos, e pediu a ONU, na oportunidade, regras que evitem abusos na internet. Pedido ao qual Merkel agora anui.


A foto e a legenda que ilustram este ‘comunicado’ está em Germany Joins Brazil Seeking U.N. Action Against Spying no  http://www.usnews.com/news/articles/2013/10/25/germany-joins-brazil-seeking-un-action-against-spying


Tudo começou há 62 anos
O leilão do pré-sal, envolvendo o campo de Libra – ainda que não dispense críticas conforme a ótica de cada observador em conflito – deixou claro uma coisa: a presença chinesa. Coisa há não muito tempo inconcebível. Serra, por exemplo, prometia a Chevron (estadunidense) salvaguardar-lhe interesses caso eleito em 2002.

A diplomacia brasileira – ainda que apresente percalços como a covardia de Celso Lafer - então ministro das Relações Exteriores do Brasil de Fernando Henrique - de se submeter a tirar sapatos em aeroportos dos Estados Unidos, ou mesmo a estranha expatriação de um senador boliviano em avião e veículos da embaixada no governo Dilma ferindo regras de Direito Internacional – tem assumido posições respeitadas e equilibradas.

Nessa discussão do campo de Libra – ainda que nosso sonho fosse de que tudo estivesse sob controle absoluto da Petrobras, fato que foi rompido por FHC que a queria privatizada, como o fizera com as telecomunicações, siderurgia, comunicações e energia – vemos a atual postura brasileira afinada com aquela posição de iniciar entendimentos com a China para constituí-la parceira já em 1961, quando Jango, então vice-presidente da República – correspondendo à visão de Jânio – andou por lá abrindo portas, que antes só se abriam/escancaravam para os Estados Unidos.

A grita da turma do andar de cima neste “país de São Saruê” reside especificamente no fato de não mais estarmos atrelados como quintal dos Estados Unidos. Imagine se a compra de aviões para a Força Aérea vierem a ser os russos!

Até agora, pelo menos embaixador brasileiro não anda tirando sapato em aeroporto dos Estados Unidos.

Gesto nobilíssimo
Médicos estrangeiros que acolheram o convite para trabalhar no Brasil onde brasileiros se negam a fazê-lo (por maiores razões que tenham) foram alvo de atitudes no mínimo desrespeitosas, para não dizer xenófobas. A reação despropositada em Fortaleza quando da chegada de médicos cubanos mancha a imagem do país, um país que, ainda que seja uma “terra de contrastes”, para Roger Bastide, também é reconhecido como terra de um homem onde a cordialidade lhe é da essência, como deixou registrado Sérgio Buarque de Holanda no capítulo ‘O Homem Cordial’ em seu clássico Raízes do Brasil.

A presidente da República Dilma Rousseff pediu desculpas oficiais aos médicos cubanos vaiados por estudantes e médicos de Fortaleza, como noticiou o UOL.

Uma grandeza que faltou pelo menos ao CRM daquele estado já que o Conselho Federal de Medicina nem mesmo se dignou em expressar uma razão de repúdio, não ao protesto, mas à xenofobia nele contida.

Cuidado com o andor!
Há muitos anos – lá vão mais de 40 – uma velha mestra residente em Itororó, a professora Aurora Valadares de Almeida, com filhas residindo nos Estados Unidos, onde as visitava periodicamente, nos disse – naquele imediato da reforma do ensino que impunham ao país sob o crivo das baionetas – que aquilo que aqui estavam implantando o fora nos EUA e lá não dera certo. – Como o dará no Brasil, Adylson?

No bojo das reformas a universitária, entre outras, liquidando a proposta de Anísio Teixeira e Darcy Ribeiro, levada a cabo como experiência com a criação da Universidade Nacional de Brasília no início dos 60 (na UFESBA/UFSBA vemos sinais daquela experiência), e substituía-se o ensino médio (então Clássico e Científico ou Normal) por um processo que atendesse aos interesses mais do mercado do que da formação das futuras gerações.

O Brasil, que ainda nem mesmo conseguiu implantar de forma satisfatória o que o Darcy Ribeiro conseguira no governo de Leonel Brizola, com os CIEPs nos anos 80 do XX – aperfeiçoamento da Escola Parque de Anísio Teixeira, projeto educacional revolucionário implantado em Salvador no início dos anos 50 do século passado – já transita como coisa do outro mundo pelo viés da meritocracia como instrumento de melhoria para a educação. 

Muitos enveredam pelo lugar-comum. Inclusive a Bahia recente.

Por tal projeto atrelada fica, dentre outras proezas, a remuneração do professor ao desenvolvimento do processo da escolaridade, como um sistema quase matemático. Afinal, a experiência é americana e nosso colonialismo ainda não nos afastou dos projetos estatunidenses – ainda que experiências nativas sejam reconhecidas mundo a fora – a de Paulo Freire que o diga!

Mais cuidado ainda com o santo!
Tanto anos passados da conversa com a velha mestra Aurora – que ao lado de outros abnegados como Carmelita Santana, Letícia Dias e Oscar Brasil – contribuiu para formar gerações, já vivemos o fracasso da reforma que extinguiu os cursos Clássico e Científico e valores educacionais que se sustentavam nas Humanidades.

Mas – este o móvel do presente texto – nos deparamos com o expressado pela cabeça maior dos Estados Unidos que defendeu e implantou o processo da meritocracia como “solução” em estado de arrependimento, demonstrando o fracasso de tudo aquilo realizado desde os tempos em que foi secretária de Educação e mesmo assistente de educação nos governos Bush e Clinton, quando defendeu a meritocracia e os testes padronizados (os provões) nas escolas de seu país.

A professora Diane Ravitch reviu radicalmente seus antigos conceitos. A ênfase dada na responsabilização do professor é danosa para a educação – afirma. Tudo está no livro “Vida e morte do grande Sistema Escolar Americano – Como os Testes Padronizados e o Modelo de Mercado Ameaçam a Educação”. 

Recomendamos aos interessados – inclusive professores que cultivem o hábito da leitura – uma entrevista de Ravitch ao Estadão (Nota mais alta não é educação melhor) em http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,nota-mais-alta-nao-e-educacao-melhor,589143,0.htm e a leitura da obra, disponível em PDF pela Editora Sulina

Algumas recomendações de Diane Ravitch

– deixe as decisões sobre as escolas para os educadores, não para os políticos ou empresários;

– construa um currículo verdadeiramente nacional que estabeleça o que as crianças em cada série deveriam estar aprendendo;

– espere que as escolas autônomas eduquem as crianças que precisam de mais ajuda, não que concorram com as escolas públicas;

– pague um salário justo aos professores pelo seu trabalho, não um “salário por mérito” baseado em pontuações de testes profundamente falhos e não confiáveis;

– encoraje o envolvimento familiar na educação logo a partir dos primeiros anos.

Não é piada
Recentemente promulgada a lei que institui o “Dia Estadual do Ovo” no Estado de São Paulo.

Chama-nos a atenção a quantidade de vetos. Provavelmente algum deles – ironia que o seja – diria respeito a utilizar o dito cujo em autoridades, preservando-as dos ‘goros’ (ou gôros, na velha ortografia).

É possível que no elenco de propostas para 2014 algum candidato a presidente saia na frente e assegure civicamente, como promessa de campanha, a criação do “Dia Nacional do Ovo”.

Ovo nele!

Vítimas do contingenciamento
Se nada houvesse no encontrar amigos como Iolanda, Jan Costa (descobrir a excelente vertente de Jackson Costa como mediador), conhecer Aleilton Fonseca e ouvir Ruy Póvoas, bastaria reencontrar Jorge Araujo. O que aconteceu recentemente na Semana de Leitura na UESC.

Ficou-nos apenas a frustração: estaríamos ambos em mesa redonda no dia seguinte ao mini-curso que ministraríamos em evento promovido pela UESB, em novembro próximo, no campus de Vitória da Conquista. Foi suspenso, por causa do contingenciamento de recursos.

Coisa do atual governo, que economiza palitos mas deixa de fora a fogueira (dos gastos com publicidade)

Cinema
O respeitado Orlando Margarido assina texto na última Carta Capital de que dispomos (a nº 771) – ‘O fio da memória’ – iniciando-o por referência a Eduardo Coutinho. O título da matéria a temos como homenagem a Coutinho, que dirigiu trabalho assim denominado em 1991. 

O documentarista por excelência – se nada houvesse realizado além, bastaria “Cabra Marcado Para Morrer” (concluído em 1985) – tem em seu currículo pérolas como “Peões” (2004), “Edifício Master” (2002), “Babilônia 2000” (1999), “Santa Marta” (1987), “Boca do Lixo” (1993) entre tantos.

É, por excelência, um cineasta de fatos reais – ainda que denominados ‘ficção’ – com visão humanista comprometida com pessoas, indivíduos e populações marginalizadas.

E nos vem à mente clássicos como “12 homens e uma sentença” (1957) e “Veredicto” (1982) de Sidney Lumet, “Crime Verdadeiro” (1999) de Clint Eastwood e “Glória Feita de Sangue” (1957), de Stanley Kubrick.  Exemplos de um cinema que explora as mentiras que se tornam verdade em inquéritos e processos judiciais.

Teatro
Anunciado para o Centro de Cultura Adonias Filho um tal “Diálogo do Esfíncter”. Tantos são os absurdos cometidos naquele espaço do Estado que não nos dignamos a comentar mais do que já comentamos sobre a natureza e o caráter de um dirigente despreparado para a função mas nela encastelado por ser indicado e mantido por político que – dizem – atendeu a pedido de sua genitora. No caso específico também não nos cabe cobrar dele especificamente o espetáculo anunciado.

Mas, particularmente o que nos indigna como cidadão nasce do fato de que o texto conhecido – inclusive afastou e mesmo horrorizou famílias acompanhadas de filhos, público e mesmo policiais do espaço onde fora apresentado em praça pública durante o Multiarte, em julho – escolhido por comissão que certamente não leu o texto – a ponto de deixar em situação constrangedora o presidente da FICC que estava presente – tem em seu próprio título uma estranha ‘alegoria’ física para a didática que pedagogicamente há de tratar dos 'esclarecimentos' pretendidos pelo autor, que exibirá o espetáculo com apoio do GAPA, que o apresenta em comemoração pelas 24 efemérides do grupo

Basta que se veja o significado no dicionário do personagem que dialogará no “monólogo” com o público.

A não ser que o texto tenha alcançado a casticidade (o que duvidamos, em razão do público destinatário, que não pode ser menor de 16 anos) o tema – de saúde pública – tão sério e grave passou a depender de baixaria sadeana, porque a ‘comédia’ certamente não se limitará a corresponder à definição vocabular.

Bienal
A editora grapiúna Via Litterarum se fará presente, na Bienal do Livro em Salvador, que será realizada entre os dias 8 e 17 de novembro, instalada no Stand E 07 (próximo ao Café Literário), com uma leva de autores regionais.

Lá estaremos, às 20 horas do dia 14 (quinta-feira) lançando a 2ª edição do romance “Amendoeiras de Outono” e disponibilizando o “ABC do Cabôco”.

Cultura em prosa e bate-papo
Mais um encontro, coordenado por Iolanda Costa – e a surpresa de Jan Costa em clarineta – realizado na Nobel local no sábado 26 com o artista Rafael Pita, que ora expõe no próprio Jequitibá.

Registro: ausência da imprensa.

Nando luz
O baiano de Itororó, cavalgando o sucesso em São Paulo, na próxima edição.

Dos recônditos
Há 45 anos, mais exatamente em 29 de setembro de 1968, encerrava-se um Festival Internacional da Canção. (Para aquele festival tentamos inscrever um composição – desconhecendo a burocracia que exigia a gravação em cassete numa determinada velocidade, que na província não dispúnhamos – que nos arroubos da época apresentava um refrão final que dizia “Amei a liberdade, mas o meu amor morreu”, às vésperas do AI-5. A não inscrição pode nos ter salvo a vida).

Mas, voltando ao FIC/68, a grande vencedora foi “Sabiá”, de Tom Jobim e Chico Buarque, belamente interpretada por Cynara e Sybele, que viriam mais adiante a formar o inconfundível Quarteto em Cy.

Na apresentação da vencedora o Maracanãzinho era uma vaia só. Não para “Sabiá”, mas para homenagear “Caminhando” – a preferida do público – tradicionalmente conhecida como “Pra Não Dizer Que Não Falei de Flores”, de Geraldo Vandré.

Há qualquer coisa no ar, que nos pede para lembrar Vandré.


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* Coluna semanal publicada aos domingos em www.otrombone.com.br


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