domingo, 22 de setembro de 2013

Alguns detalhes

DE RODAPÉS E DE ACHADOS *

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Pelo menos por enquanto
Pouco se tem analisado em torno do golpe até agora sofrido pelos interesses da indústria armamentista dos Estados Unidos diante do acordo proposto pela Rússia – e aceito até agora pelos EUA – de entrega do arsenal sírio de armas químicas, já de imediato fiscalizado por órgãos da ONU.

No primeiro instante, perceba o leitor, que dois dos álibis para a manutenção (e ampliação) da crise no Oriente Médio deixam de existir. Um deles, da utilização de armas químicas pelo governo Sírio contra os rebeldes (as provas existentes dão conta de que houve manipulação de tal armamento por parte dos rebeldes, que resultou na morte de centenas em agosto); o outro, o motivo de que dispunham os Estados Unidos para atacar a Síria, ainda que sem apoio da ONU, como já o fizera com o Iraque na década passada.

Para quem queria ver o circo pegar fogo – ou tocar fogo no circo – vai precisar de outros argumentos. Imagine o leitor se o pessoal da ONU encontra resquícios de armas químicas com os rebeldes!

Ministros desrespeitando a lei
A Lei Orgânica da Magistratura estabelece em seu artigo 36 algumas vedações para quem exerce a magistratura, dentre elas as contidas nos Incisos I, II e III:

Art. 36 - É vedado ao magistrado:
        I - exercer o comércio ou participar de sociedade comercial, inclusive de economia mista, exceto como acionista ou quotista;
        II - exercer cargo de direção ou técnico de sociedade civil, associação ou fundação, de qualquer natureza ou finalidade, salvo de associação de classe, e sem remuneração;
        III - manifestar, por qualquer meio de comunicação, opinião sobre processo pendente de julgamento, seu ou de outrem, ou juízo depreciativo sobre despachos, votos ou sentenças, de órgãos judiciais, ressalvada a crítica nos autos e em obras técnicas ou no exercício do magistério.

Ao ministro Gilmar Mendes indague-se o que ele é num tal Instituto que ministra cursos superiores em Brasília e se tal fere os incisos I e II da LOM.

No caso do ministro Marco Aurélio Mello, que utilizou de espaço no jornal O Globo para pressionar publicamente o colega Celso de Mello à véspera da decisão, se violou o inciso III da LOM.

Nosso leitor já tem o julgamento.

Briga de foice no escuro I
Uma surda guerra ocorre no país, envolvendo negócios e a sobrevivência de alguns meios de comunicação. É o que podemos concluir especialmente em relação ao sistema Globo, muito particularmente por sua cabeça de ponta: a rede Globo de televisão, TV aberta e fechada.

Perdeu parcela considerável dos recursos publicitários federais – ainda que detenha quase 50% de tudo que o Governo Federal paga, mesmo que não mais corresponda à audiência de antigamente. Muito diferente do tempo em que era a mais beneficiada pela “bolsa pimpolho” – como a define Palmério Dória, em “O Príncipe da Privataria”, para os 80% de publicidade que recebia do governo Fernando Henrique em agradecimento ao affair FHC-Míriam Dutra, para esconder o caso extraconjugal mantido entre o ex-presidente e a jornalista da Globo.

A sobrevivência do sistema Globo e da TV Globo em particular caminha para a disputa, com os demais, de 60% das verbas publicitárias em dez anos, uma vez que a internet já absorve hoje 15% delas e chegará a 40% ao fim de uma década.

Isso representa uma queda de 50% sobre o que hoje percebe, o que significa apenas 25% do total atual.

Briga de foice no escuro I
A linha editorial adotada, por exemplo, na questão da AP 470 ultrapassa em muito a lógica do jornalismo e da informação. Quando cabe informar e entregar ao leitor/ouvinte/telespectador a conclusão e a análise dos fatos veiculados emite o sistema Globo opiniões e conclusões que longe estão da verdade factual e exclusivamente no âmbito da posição político-ideológica que lhe interessa.

O editorial de O Globo – no imediato da definição em torno da aceitação dos embargos infringentes (previstos em legislação – ainda que em seu texto amenize os fatos. Afinal, podem chegar às mãos daqueles que julgam no STF algumas ações onde o sistema Globo seja réu), beira o absurdo de lançar a opinião pública contra Corte ao dizer que o “STF mantém impunidade de mensaleiros”. (A leitura do quanto posto no título é de que o STF absolveu a turma, o que não é verdade).

No fundo, tenta o sistema Globo evitar que o atual governo avance numa lei de meios que venha a favorecer as telefônicas, que estão de olho na igualdade de concorrência através da rede. Apenas esquece a Globo que as telefônicas – todas elas estrangeiras – são fruto de uma deslavada operação de privatização operada no governo de FHC, a quem apoiava enquanto levava vantagem com a “bolsa pimpolho”.

Essa a verdadeira briga de foice: a disputa da publicidade, antes privativa de um sistema que hoje se vê atacado por outro. “Mensalão”, moralidade, Governo Federal, PT e quejandos são os meios sobre os quais tem a Globo que exercer pressão.

Em defesa da sobrevivência, para que a família Marinho possa dispor de 52 bilhões de patrimônio distribuídos entre seus três “pimpolhos”.

Por quem os sinos dobram I
Temos profundas restrições ao controle que pretendem exercer certos canais de comunicação. Incrível que consigam! Há gente na Globo que se imagina com domínio sobre tudo que expresse. Pessoas que são admiradas pelo que representam em suas funções, como atrizes, apresentadores etc. se ofertam ao desgaste para alimentar o imediato. Ana Maria Braga andou anunciando o apocalipse causado ao país pela inflação do tomate, usando um colar do dito cujo. (Hoje quando o tomate oscila entre R$ 0,50 e R$ 1,00/2,00 nenhuma referência faz ao “fato novo”).

Enveredar-se por “entender” direitos e garantias constitucionais sem que saibam além do interpretar magistrados ou advogados leva a situações ridículas como divulgarem na rede o “luto” decorrente de uma decisão técnica tomada pelo STF.

Para Rosa Maria Murtinho “Ontem estávamos conversando e tivemos a ideia de vir para o trabalho hoje usando a cor preta. O que está acontecendo é um absurdo, querem desmoralizar o STF, que é a última instância do poder e deve ter suas decisões respeitadas. Eu estou de luto pelo Brasil”.

Por quem os sinos dobram II
Alguém não perdeu a oportunidade e aproveitou para estender o “luto” a mais algumas coisas: a sonegação fiscal da própria Globo, à qual servem, para com o povo brasileiro e, para não esquecer, o apoio da Globo à ditadura militar e pelos mortos, desaparecidos e torturados escondidos por ela no curso de décadas.

Aproveitamos a deixa para acrescer outros fatos que justificam um luto de mês, pelo menos: o mensalão do PSDB, a que Joaquim Barbosa deu tratamento diverso e, ainda que mais antigo, nem sequer entrou na pauta de julgamento do STF; aquele habeas corpus concedido pelo ministro Marco Aurélio Mello ao médico Abdelmassih (que abusou de mais de uma centena de mulheres) e fugiu do país graças à iniciativa de Sua Excelência; a lista de Furnas, o propinoduto/trensalão do PSDB paulista; aqueles outros dois habeas corpus concedidos pelo insigne ministro Gilmar Mendes para assegurar a liberdade a Daniel Dantas, preso por ordem judicial depois de sentença condenatória.   

Por quem os sinos dobram III
Depois de Regina Duarte e aquele “tenho medo” na campanha de 2002, assombrando o brasileiro diante da possibilidade de eleição de Lula, a turma volta a encontrar boa companhia. Aquela que só vê, ouve e lê na cartilha do sistema Globo.

Por quem os sinos dobrarão?

Outra turma
Uma outra turma abaixo protestava, em plena ditadura militar, contra a censura e em defesa da cultura. Naturalmente contra a ditadura, que a Globo então apoiava. As que hoje protestam o fazem contra o respeito às regras estabelecidas na Constituição que alimenta nosso Estado de Direito.

Àquela época, em pleno 1968, para que não se confunda representação artística com consciência política, Eva Todor, Tônia Carrero, Ewa Vilma, Leila Diniz, Odete Lara e Norma Bengell.

Para enlutar-se, as de hoje: Carol Castro, Rosa Maria Murtinho,Nathália Timberg, Suzana Vieira e Bárbara Paz.  

Questão de tempo
A Triffil arma o bote para deixar Itabuna. Ou conseguir mais recursos do povo através de incentivos fiscais. Não afirmemos que o será no imediato ou no mediato mais longínquo. Os problemas em torno dela alimentam o que constrói. Deixar Itabuna. Seu tempo já passou. Assim se programa.

Poluição, desrespeito à legislação protetiva etc. Tudo administrado com o pagamento de multas, que lhe sai mais barato. Caso morra alguém, ganhará tempo na Justiça.

Para ela, quanto mais mobilizações houver contras as aberrações que comete melhor. Busca o motivo para arrumar as máquinas. Como a Azaleia já fez em Itororó, Ibicuí, Firmino Alves, Macarani e, brevemente, Itapetinga.

Uma questão de tempo.

Quem ainda não constrói
Ainda que indefinida em sigla (tantas as que lhe dão) preferimos continuar chamando-a Ufesba até prova em contrário, ainda que UFSBa mais se afine com denominações de federais outras, como UFBa, UFMg, UFPe, UFRj etc.

A Universidade Federal é uma das cabeças de ponte de um avanço monumental para a região onde Itabuna será a mais beneficiada, por ser um ponto de convergência natural. Seu projeto institucional está afinado com o complexo intermodal (porto, aeroporto e ferrovia Oeste-Leste).

Por aqui já constroem pensando nos alunos que vão chegar.

Não sabemos o que o planejamento municipal tem feito para absorver o volume de recursos e a contrapartida em serviços públicos que demandará de tudo isso.

Se planeja, o faz às escondidas. Sem discutir com a sociedade.

Apesar de você(s)
Censurada pelo regime implantado pela ditadura militar, do qual a Globo se beneficiava, “Apesar de Você” (Chico Buarque) somente pode ser ouvida depois da anistia que “anistiava” torturadores e assassinos a soldo da dita cuja.

Sêneca afirmou certa vez que, ao lembrar de certas coisas que dissera, tinha inveja dos mudos.

Lembrando do que representou Chico Buarque/Julinho de Adelaide em defesa de um Estado de Direito, como contraponto aos que sonham em vê-lo existir somente em defesa de seus interesses e, muito particularmente, às “meninas” da Globo que vestiram luto, dedicamos – penhorado, como a ocasião exige – o hino de Chico.

Afinal, um dia é depois do outro. Apesar de vocês. Que exercem o direito de falar. E não invejam Sêneca.

Caso o leitor/ouvinte queira substituir ditadura militar por “o que quer e pensa a Globo” não estará cometendo exagero. A metáfora está conforme.


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* Coluna publicada aos domingos em www.otrombone.com.br

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