DE RODAPÉS E DE ACHADOS *
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Pelo menos por enquanto
Pouco se tem analisado em
torno do golpe até agora sofrido pelos interesses da indústria armamentista dos
Estados Unidos diante do acordo proposto pela Rússia – e aceito até agora pelos
EUA – de entrega do arsenal sírio de armas químicas, já de imediato fiscalizado
por órgãos da ONU.
No primeiro instante, perceba
o leitor, que dois dos álibis para a manutenção (e ampliação) da crise no
Oriente Médio deixam de existir. Um deles, da utilização de armas químicas pelo
governo Sírio contra os rebeldes (as provas existentes dão conta de que houve
manipulação de tal armamento por parte dos rebeldes, que resultou na morte de
centenas em agosto); o outro, o motivo de que dispunham os Estados Unidos para
atacar a Síria, ainda que sem apoio da ONU, como já o fizera com o Iraque na
década passada.
Para quem queria ver o circo
pegar fogo – ou tocar fogo no circo – vai precisar de outros argumentos.
Imagine o leitor se o pessoal da ONU encontra resquícios de armas químicas com
os rebeldes!
Ministros desrespeitando a lei
A Lei Orgânica da Magistratura
estabelece em seu artigo 36 algumas vedações para quem exerce a magistratura,
dentre elas as contidas nos Incisos I, II e III:
Art. 36 - É vedado ao magistrado:
I - exercer o comércio ou participar de sociedade comercial, inclusive de
economia mista, exceto como acionista ou quotista;
II - exercer cargo de direção ou técnico de sociedade civil, associação ou
fundação, de qualquer natureza ou finalidade, salvo de associação de classe, e
sem remuneração;
III - manifestar, por qualquer meio de
comunicação, opinião sobre processo pendente de julgamento, seu ou de outrem,
ou juízo depreciativo sobre despachos, votos ou sentenças, de órgãos judiciais,
ressalvada a crítica nos autos e em obras técnicas ou no exercício do
magistério.
Ao ministro Gilmar Mendes indague-se o que ele é num tal Instituto que
ministra cursos superiores em Brasília e se tal fere os incisos I e II da LOM.
No caso do ministro Marco Aurélio Mello, que utilizou de espaço no jornal
O Globo para pressionar publicamente o colega Celso de Mello à véspera da
decisão, se violou o inciso III da LOM.
Nosso leitor já tem o julgamento.
Briga de foice no escuro I
Uma surda guerra ocorre no
país, envolvendo negócios e a sobrevivência de alguns meios de comunicação. É o
que podemos concluir especialmente em relação ao sistema Globo, muito
particularmente por sua cabeça de ponta: a rede Globo de televisão, TV aberta e
fechada.
Perdeu parcela considerável
dos recursos publicitários federais – ainda que detenha quase 50% de tudo que o
Governo Federal paga, mesmo que não mais corresponda à audiência de
antigamente. Muito diferente do tempo em que era a mais beneficiada pela “bolsa
pimpolho” – como a define Palmério Dória, em “O Príncipe da Privataria”, para
os 80% de publicidade que recebia do governo Fernando Henrique em agradecimento
ao affair FHC-Míriam Dutra, para
esconder o caso extraconjugal mantido entre o ex-presidente e a jornalista da
Globo.
A sobrevivência do sistema
Globo e da TV Globo em particular caminha para a disputa, com os demais, de 60%
das verbas publicitárias em dez anos, uma vez que a internet já absorve hoje
15% delas e chegará a 40% ao fim de uma década.
Isso representa uma queda de
50% sobre o que hoje percebe, o que significa apenas 25% do total atual.
Briga de foice no escuro I
A linha editorial adotada, por
exemplo, na questão da AP 470 ultrapassa em muito a lógica do jornalismo e da
informação. Quando cabe informar e entregar ao leitor/ouvinte/telespectador a
conclusão e a análise dos fatos veiculados emite o sistema Globo opiniões e
conclusões que longe estão da verdade factual e exclusivamente no âmbito da
posição político-ideológica que lhe interessa.
O editorial de O Globo – no imediato
da definição em torno da aceitação dos embargos infringentes (previstos em
legislação – ainda que em seu texto amenize os fatos. Afinal, podem chegar às
mãos daqueles que julgam no STF algumas ações onde o sistema Globo seja réu),
beira o absurdo de lançar a opinião pública contra Corte ao dizer que o “STF
mantém impunidade de mensaleiros”. (A leitura do quanto posto no título é de
que o STF absolveu a turma, o que não é verdade).
No fundo, tenta o sistema
Globo evitar que o atual governo avance numa lei de meios que venha a favorecer
as telefônicas, que estão de olho na igualdade de concorrência através da rede.
Apenas esquece a Globo que as telefônicas – todas elas estrangeiras – são fruto
de uma deslavada operação de privatização operada no governo de FHC, a quem
apoiava enquanto levava vantagem com a “bolsa pimpolho”.
Essa a verdadeira briga de
foice: a disputa da publicidade, antes privativa de um sistema que hoje se vê
atacado por outro. “Mensalão”, moralidade, Governo Federal, PT e quejandos são
os meios sobre os quais tem a Globo que exercer pressão.
Em defesa da sobrevivência,
para que a família Marinho possa dispor de 52 bilhões de patrimônio
distribuídos entre seus três “pimpolhos”.
Por quem os sinos dobram I
Temos profundas restrições ao
controle que pretendem exercer certos canais de comunicação. Incrível que
consigam! Há gente na Globo que se imagina com domínio sobre tudo que expresse.
Pessoas que são admiradas pelo que representam em suas funções, como atrizes,
apresentadores etc. se ofertam ao desgaste para alimentar o imediato. Ana Maria
Braga andou anunciando o apocalipse causado ao país pela inflação do tomate,
usando um colar do dito cujo. (Hoje quando o tomate oscila entre R$ 0,50 e R$ 1,00/2,00
nenhuma referência faz ao “fato novo”).
Enveredar-se por “entender”
direitos e garantias constitucionais sem que saibam além do interpretar
magistrados ou advogados leva a situações ridículas como divulgarem na rede o
“luto” decorrente de uma decisão técnica tomada pelo STF.
Para Rosa Maria Murtinho “Ontem
estávamos conversando e tivemos a ideia de vir para o trabalho hoje usando a
cor preta. O que está acontecendo é um absurdo, querem desmoralizar o STF, que
é a última instância do poder e deve ter suas decisões respeitadas. Eu estou de
luto pelo Brasil”.
Por quem os sinos dobram II
Alguém não perdeu a
oportunidade e aproveitou para estender o “luto” a mais algumas coisas: a sonegação
fiscal da própria Globo, à qual servem, para com o povo brasileiro e, para não
esquecer, o apoio da Globo à ditadura militar e pelos mortos, desaparecidos e
torturados escondidos por ela no curso de décadas.
Aproveitamos a deixa para
acrescer outros fatos que justificam um luto de mês, pelo menos: o mensalão do
PSDB, a que Joaquim Barbosa deu tratamento diverso e, ainda que mais antigo,
nem sequer entrou na pauta de julgamento do STF; aquele habeas corpus concedido pelo ministro Marco Aurélio Mello ao médico
Abdelmassih (que abusou de mais de uma centena de mulheres) e fugiu do país
graças à iniciativa de Sua Excelência; a lista de Furnas, o propinoduto/trensalão
do PSDB paulista; aqueles outros dois habeas
corpus concedidos pelo insigne ministro Gilmar Mendes para assegurar a
liberdade a Daniel Dantas, preso por ordem judicial depois de sentença
condenatória.
Por quem os sinos dobram III
Depois de Regina Duarte e
aquele “tenho medo” na campanha de 2002, assombrando o brasileiro diante da
possibilidade de eleição de Lula, a turma volta a encontrar boa companhia.
Aquela que só vê, ouve e lê na cartilha do sistema Globo.
Por quem os sinos dobrarão?
Outra turma
Uma outra turma abaixo protestava, em
plena ditadura militar, contra a censura e em defesa da cultura. Naturalmente
contra a ditadura, que a Globo então apoiava. As que hoje protestam o fazem
contra o respeito às regras estabelecidas na Constituição que alimenta nosso
Estado de Direito.
Àquela época, em pleno 1968, para que não se confunda
representação artística com consciência política, Eva Todor, Tônia
Carrero, Ewa Vilma, Leila Diniz, Odete Lara e Norma Bengell.
Para enlutar-se, as de
hoje: Carol Castro, Rosa Maria Murtinho,Nathália Timberg, Suzana Vieira e Bárbara Paz.
Questão de tempo
A Triffil arma o bote para
deixar Itabuna. Ou conseguir mais recursos do povo através de incentivos
fiscais. Não afirmemos que o será no imediato ou no mediato mais longínquo. Os
problemas em torno dela alimentam o que constrói. Deixar Itabuna. Seu tempo já
passou. Assim se programa.
Poluição, desrespeito à
legislação protetiva etc. Tudo administrado com o pagamento de multas, que lhe
sai mais barato. Caso morra alguém, ganhará tempo na Justiça.
Para ela, quanto mais mobilizações
houver contras as aberrações que comete melhor. Busca o motivo para arrumar as
máquinas. Como a Azaleia já fez em Itororó, Ibicuí, Firmino Alves, Macarani e,
brevemente, Itapetinga.
Uma questão de tempo.
Quem ainda não constrói
Ainda que indefinida em sigla
(tantas as que lhe dão) preferimos continuar chamando-a Ufesba até prova em
contrário, ainda que UFSBa mais se afine com denominações de federais outras, como UFBa, UFMg, UFPe, UFRj etc.
A Universidade Federal é uma
das cabeças de ponte de um avanço monumental para a região onde Itabuna será a
mais beneficiada, por ser um ponto de convergência natural. Seu projeto
institucional está afinado com o complexo intermodal (porto, aeroporto e
ferrovia Oeste-Leste).
Por aqui já constroem pensando
nos alunos que vão chegar.
Não sabemos o que o
planejamento municipal tem feito para absorver o volume de recursos e a
contrapartida em serviços públicos que demandará de tudo isso.
Se planeja, o faz às
escondidas. Sem discutir com a sociedade.
Apesar de você(s)
Censurada pelo regime
implantado pela ditadura militar, do qual a Globo se beneficiava, “Apesar de
Você” (Chico Buarque) somente pode ser ouvida depois da anistia que “anistiava”
torturadores e assassinos a soldo da dita cuja.
Sêneca afirmou certa vez que,
ao lembrar de certas coisas que dissera, tinha inveja dos mudos.
Lembrando do que representou Chico Buarque/Julinho
de Adelaide em defesa de um Estado de Direito, como contraponto aos que sonham
em vê-lo existir somente em defesa de seus interesses e, muito particularmente,
às “meninas” da Globo que vestiram luto, dedicamos – penhorado, como a ocasião
exige – o hino de Chico.
Afinal, um dia é depois do
outro. Apesar de vocês. Que exercem o direito de falar. E não invejam Sêneca.
Caso o leitor/ouvinte queira
substituir ditadura militar por “o que quer e pensa a Globo” não estará
cometendo exagero. A metáfora está conforme.
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* Coluna publicada aos domingos em www.otrombone.com.br
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