Ao filósofo Sócrates é atribuído o seguinte fato: circulava por uma ágora (praça onde realizadas feiras e assembleias, na Grécia antiga) quando chamado por uma moça que lhe oferecia os produtos que vendia: – Você não me oferece nada do que preciso – respondeu-lhe o pai da Filosofia.
Para quem tinha os valores morais e espirituais como referência para a existência obviamente nunca daria ao mundo das coisas materiais reconhecimento de valia.
Consciência tinha de que o que efetivamente representa nossas necessidades não se faz daquilo que a sociedade desenvolveu como tal, o ter, consumido como estágio de civilização, ainda que negue significado ao Ser que somos.
Consciência tinha de que o que efetivamente representa nossas necessidades não se faz daquilo que a sociedade desenvolveu como tal, o ter, consumido como estágio de civilização, ainda que negue significado ao Ser que somos.
Na década de 30 do século passado Aldous Huxley publicou "Admirável Mundo Novo", para discutir criticamente uma sociedade desprovida de valores éticos e morais atrelada ao pré-condicionamento biológico e ao condicionamento psicológico centrada em divisões sociais pré-estabelecidas para corresponder à harmonia da convivência imposta.
No final da década seguinte Eric Arthur Blair, sob o pseudônimo George Orwell, retrata o cotidiano de uma sociedade totalitária sustentada na propaganda da oligarquia que a dirige, sempre perfeita sob a força de permanente fiscalização e controle dos cidadãos, ao custo da perda de suas privacidades.
Em texto publicado na Tribuna da Imprensa on line (O Estado brasileiro doou a minha vida para os bancos!) Fátima Oliveira se indigna com a 'insistência' com que é procurada para ser convencida a consumir empréstimos consignados, ainda que nunca tenha buscado tal maravilha.
Descobriram-na – diz – "desde que o INSS homologou a minha aposentadoria, em 8.1.2014, que eu soube pelos telefonemas dos bancos, não apenas de Minas, mas de vários Estados do país, muitos dias antes de receber o comunicado do INSS!".
Seu périplo – de pessoa esclarecida que se vê impotente diante da invasão a que está submetida para que se 'convença' a consumir o "serviço" oferecido pelos bancos – é o calvário de todos os brasileiros que caíram na desgraça de possuir um registro em qualquer lugar (cadastros em lojas, órgãos públicos etc.).
Perderam sua privacidade e o controle sobre suas vidas para uma sociedade que desconhece o respeito ao semelhante como valor ético e moral na busca permanente por desenvolver necessidades ainda que não sejam o que precisamos.
É Sócrates perdido em 1984, o admirável mundo novo que dão de chamar civilização.
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