O perigo
Até o o momento não há dúvida de que a Presidente Dilma avocou para si o comando das proposições oriundas da banda boa das mobilizções de rua. Como, até agora, consegue exercer a liderança para convocar as instituições a integrarem um pacto em torno das reformas tendo o povo no centro da participação. Nesse particular a manifestação por convocar um plebiscito para discutir a reforma político-eleitoral.
As reações da classe política voltam-se para que não fuja de seu controle o exercício daquilo que, constitucionalmente, está nos limites de sua competência institucional: legislar e não referendar. Nesse jogo, onde a discussão mais se pauta no aspecto formal de quem venha a conduzir as alterações (povo, através de plebiscito ou congresso), a experiência das raposas políticas leva-as a enfrentar as propostas da Presidente da República e, a médio prazo, assumir o controle da situação.
Para tanto, levará à sociedade a demonstração cabal de que dispõe de todos os instrumentos para realizar, em sede congressual (ou seja, no próprio palco) as mudanças ansiadas por todos. Conta, nesse instante, com a confusão posta nas ruas, tantas as propostas, que pode inviabilizar avanços que poderiam ocorrer.
Até agora, percebemos sinais de que a classe política não entregará a rapadura. Aí reside o perigo: de que os setores mais conservadores - sempre muito bem articulados em defesa de seus propósitos - vençam a batalha final.
Uma vitória que poderá ser traduzida numa palavra: retrocesso.
O sismo
O abalo sísmico costuma ocorrer justamente onde deveria ocorrer a resistência ao conservadorismo: o pensamento progressista. Que deveria traduzir em si o comando das vozes populares.
Tem havido, no curso da história brasileira, quando se trata de instante magno onde são exigidos coerência e convicção, uma postura menchevique - aqui lembrando do conflito acirrado nos meses que precedem à Revolução Russa de 1917, quando a visão de "compor" para conquistar espaço (menchevique), de amadurecer o capitalismo para alcançar o socialismo, é contraposta pela definição, sem contemporização (bolchevique), da revolução pela implantação direta do socialismo, que vem a ser a vitoriosa e assegura o sucesso dos movimentos que tomavam as ruas.
Os sinais de contemporização, de convergência de propósitos (inconciliáveis) pode repetir o que por aqui já ocorreu, inclusive o que levou à divisão o Partido Comunista no início dos anos 60. O ovo da serpente da "pactuação" para evitar conflitos pode sacrificar, a médio e longo prazos, o grito das ruas.
Não se prega uma revolução armada, mas a simples resposta ao clamor das ruas. No entanto, dirão os conservadores - e muitos já o pedem escancaradamente - que o clamor só encontrará resposta através de um regime forte, não encontrado no processo democrático.
Filme antigo. Na disputa de ideias entre direita e esquerda, conservadores e progressistas, não falta quem queira compor para conciliar o inconciliável.
Instalado o sismo, tudo tende a permanecer como sempre esteve. Como está. Mantendo o status quo.
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