DE RODAPÉS E DE ACHADOS*
Quando um tema se esgota em si mesmo, um radapé pode explicar tudo e ir um pouco além
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Olhar vesgo I
Quando buscamos informação através da grande mídia brasileira – toda ela controlada por uma minoria que representa interesses não do povo, mas das elites – nos sentimos diante de um país à beira do precipício. O detalhe fica por conta – e isso alimenta a desconfiança no que publicam – de que não assistimos igual dimensionamento quando o Brasil quebrou literalmente (reservas internacionais despencadas, câmbio desvalorizado e juros SELIC em patamares de 45%) durante o governo de FHC, ainda que parcela substancial do patrimônio nacional tenha sido entregue/vendido a preço de moeda podre.
É difícil nela encontrar informação imparcial sobre o país, ainda que o desemprego esteja abaixo de 6% e uma inflação sob controle (mesmo que num patamar indesejável).
Percebe-se uma flagrante aliança (por sinal, histórica) com a campanha encetada pela oposição. Há afinidade entre o que esta diz e o que é propagado. Podemos dizer, sem risco de erro, que o divulgado o é justamente para alimentar o discurso de oposição.
Não que devesse ocorrer unanimidade. Isso é coisa de regime de partido único e detentor do controle da informação. Mas, o mínimo que se pode exigir é a tradução da realidade.
E o mais grave: a política por ela defendida é a de que o país volte a ler na cartilha da banca internacional, capitaneada pelo FMI. Cujos resultados muito bem podem ser avaliados observando o estado de penúria em que se encontra a maioria dos países europeus.
Olhar vesgo II
Na mesma vertente (a de alimentar a oposição) a carga midiática não dá tréguas à carga tributária brasileira. Tema sensível, facilmente atinge o destinatário: o cidadão contribuinte. As comparações são a referência comum: pagamos como uma Suécia e temos serviços de quarto e quinto mundos.
Sob esse prisma, natural que ocorra. Afinal, não temos a consciência cívica do que representa a arrecadação para sustentação de serviços públicos e, por tal razão, não exercemos plenamente, como sociedade, a fiscalização que nos compete.
Naquele particular – ainda que no plano comparativo pareça haver razão, ainda que a utilização beire a desonestidade – o país nórdico alcança 55% de carga tributária contra 36% do nosso (em números de 2012). Portanto, o argumento não está no percentual, mas na contraprestação. Na Suécia, primeiro mundo em educação, saúde, transporte etc.; no Brasil longe estamos de encontrar o que lá é oferecido pelo Estado.
O que ninguém explica é como ocorre a distribuição tributária na Suécia, bem diferente – razão por que mais justa – da brasileira. Lá, rico paga imposto. Grandes fortunas e heranças não escapam da tributação; aqui, quem paga a conta é o assalariado e a classe média. Em linhas gerais, o consumidor; miserável que seja, em igual proporção com o banqueiro, pois o feijão que um e outro comem tem a mesma carga tributária aplicada no instante do consumo.
Essa campanha gostaríamos de ver encampada pela grande mídia: rico brasileiro pagando imposto proporcionalmente à sua fortuna e uma reforma tributária que desonerasse o consumo, caminho cruel de arrecadar do povão.
Mas, nesse caso, lá estão Suas Excelências no Congresso, representantes mais das elites que do povo, defendidos – uma e outra – pela mídia.
Bizarro
O Estadão publica matéria em que realça a circunstância de o PMDB se aliar ao presidenciável Eduardo Campos caso o PT dificulte alianças em alguns estados.
O embate interno no PMDB mais está atrelado ao fisiologismo que tem alimentado a sigla nas últimas décadas, quando escolheu ser coadjuvante para ganhar a maior fatia do bolo sem o compromisso de responder como Governo.
Os ânimos acirrados com o PT não são por causa do PT em si, mas reação deste, como detentor do poder, diante de algumas peças do PMDB, que mais se apresentam como opositores e não como correligionários – onde o líder na Câmara dos Deputados Eduardo Cunha insiste em se notabilizar por coordenar balcões de negócios em cima de propostas do Governo.
Afastadas essas considerações – que justificam análise mais aprofundada em futuro instante – ficamos com o imediato de o PMDB imaginar que o rompimento de relações com o Governo em alguns estados levaria o povo a votar contra a conhecida Dilma candidata apoiada pelo conhecido Lula em favor do ainda desconhecido Eduardo Campos.
As primeiras iniciativas concretas começariam a ocorrer com a saída dos descontentes das sinecuras governamentais. Por exemplo: Gedel Vieira Lima, que anda às turras com o PT baiano por causa de Jacques Wagner, caso queira apoiar Eduardo Campos, deveria deixar a Diretoria da Caixa Econômica, que lhe assegura alguns milhares de reais por mês.
A bizarrice está, como entendemos, no estranho fato de o PMDB, aliado do Governo, ficar no governo contra a candidatura do governo.
Incompreensível
Ao subir juros o Brasil acompanhou apenas outros três países no mundo, todos africanos: Egito, Gâmbia e Gana. Duro é perceber que o bloco do neoliberalismo brasileiro bota a cara na rua sem atentar que o método é conhecido no passado e no instante presente em que na Europa se esfacela o continente sem que suas lições e postulados ultrapassem o lugar comum de arrochar a classe trabalhadora para gerar recursos para o sistema financeiro.
Por aqui, enquanto as políticas postas em prática – contrárias às “lições” impostas a Europa – são estudadas e analisadas positivamente por especialistas (ainda que recomendem correções) estamos reentrando no lugar comum que não leva a lugar nenhum, a não ser ao caos.
Caixão e vela
O programa partidário do PSDB, transmitido em rede nacional na quinta, praticamente comandado e discursado por Aécio Neves, nos deixou uma certeza: a maior expressão da oposição não está bem das pernas.
Subliminarmente – porque o povo não é idiota – muitas das propostas do PSDB – que se ensaia “de Aécio” e não “de Serra” – estão postas em prática através de políticas do Governo Federal.
Restou o chavão do risco de inflação. Caso esta não chegue a patamares que antecederam o plano real é caixão e vela.
A caminho
Anunciam o desembarque de ACM Neto do DEM. Já escrevemos que esteve com o pé no PMDB. Falam no PDT.
Caminha para a base do Governo. Não podemos afirmar se antes ou depois de 2014.
Dificilmente sairá
A declaração do engenheiro Saulo Pontes, atual diretor-geral do DERBA, de que a duplicação da BR-415 no trecho Itabuna-Ilhéus depende de licença ambiental, que precisa sair até agosto próximo, para atender à burocracia financeiro-orçamentária, nos deixa a todos de orelha em pé. Não fora a circunstância de depender de resultado de licitação concluída até novembro.
Estamos em junho. O projeto tramita – com alternâncias de trajeto – há 13 anos. Habituou-se à demora. Talvez esteja até viciado em espera.
Para nós, baseado na pendência informada por Saulo, certamente não terá início neste 2013.
Quando fica mais difícil
Saulo aventou para a mobilização da sociedade regional. Se tomarmos por paradigma a local – e o exemplo de sua valorosa contribuição pode ser lembrado quando da discussão dos limites entre Ilhéus e Itabuna – tenhamos a certeza de que nada acontecerá.
A não ser regabofes, com muito discurso, retratos em colunas sociais e garfos e facas em conflito para alimentar estômagos.
Futurologia tucana
Alguns futurólogos regionais admitem o PIB brasileiro para 2013 em 1%.
Considerando que o dito cujo ficou em 0,6% no primeiro trimestre, a futurologia local estima apenas outros 0,3% para os restantes trimestres.
Merece o Ministério da Fazenda em futuro governo tucano.
Do ABC à cartilha I
De antemão afirmamos que o ABC aqui posto nada tem a ver com o ABC da Noite, muito bem administrado por Cabôco Alencar.
Passados cinco meses a atual administração não apresenta referências administrativas. Ainda anda alimentada na recuperação de “herança” negativa – esse o teimoso discurso. No entanto algo vai ficando claro: há conflitos de gestão entre os partidos que comandam hoje o município, onde se destaca no imaginário, de forma flagrante, a visibilidade do PCdoB.
Ocorre hoje – fato palpável e que ocupa as discussões – que o PCdoB (partido que busca impor influência quase absoluta) não se apresenta aos olhos do munícipe observador como um gestor comprometido com Itabuna.
Desdobrando a análise: suas preocupações mais estão no contexto individualista que no desenvolvimento de políticas que repercutam em benefícios para Itabuna.
Flagrante fica isto – pelo menos no imediato – pelo fato de deter dentre várias secretarias (seja pela titularidade, seja pela inclusão de “quadros” em subcomandos de outras), a do Planejamento, e não trazer ao público nenhuma proposta digna de tal compromisso. Até porque o Governo do Estado dispõe, e oferece, assessoria técnica para os municípios na área de planejamento, cumprindo ao município apenas buscá-la, o que deveria ter ocorrido desde os primeiros dias da gestão.
(Recomendamos, como ilustração para o PCdoB local, a charge de Lute, posta acima).
Do ABC à cartilha II
Atente-se para outro fato significativo: Davidson Magalhães, prócer do partido em nível de Bahia e que pretende tornar-se a grande liderança local para rivalizar com Geraldo Simões à esquerda (pelo menos no plano conceitual), candidato certo em 2014, busca construir seu trampolim para 2016.
No entanto, ainda que às vésperas do pleito (falta um ano para desencadeamento do processo eleitoral), não apresenta nenhuma referência político-administrativa além da luta intestina por controlar cargos e dizer-se presidente da Bahiagás.
O que vai ficando no imaginário dos formadores de opinião de Itabuna é que o PCdoB entrava a administração do prefeito Claudevane Leite, buscando desgastá-la para beneficiar-se. Uma imagem de aproveitador vai sendo construída. Com um pouco de marketing, pode tornar-se “traidor”.
Decididamente – caso não mude o rumo – o PCdoB começa a construir uma imagem negativa para a eleição municipal de 2016.
Com esse ABC não chega à cartilha. Quem já a ultrapassou pode voltar à escola.
Detalhezinho
Há um detalhe pouco percebido – assim nos parece – pelo PCdoB em nível itabunense: entender que a vitória de Claudevane Leite e Wenceslau se deve ao partido, esquecendo-se – se assim pensa – que a esperança centrou-se em Vane, ainda que sua gestão não a esteja alimentando.
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* Publicado na íntegra em www.otrombone.com.br
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