A cara da Globo escancarada
O louvor que fazemos à iniciativa de parcelas da população contra aumento de transporte coletivo começa a nos preocupar. Não pelos protestos em si, tampouco pelos temas neles inseridos, em que pese começarem a atropelar a temática que motivou a mobilização.
Temos observado nos últimos dias que o objeto do movimento que indiretamente atinge governos e governantes (afinal, transporte é responsabilidade do poder público que o concede a particulares quando não assume diretamente a responsabilidade) começa a sinalizar – de forma escancarada – para o viés político-partidário. De conteúdo golpista.
Tal viés não se manifesta na atuação de grupos ou partidos políticos presentes nas mobilizações mas na manipulação por outros grupos de pressão com o claro objetivo de propaganda política subliminar.
A forma como a grande imprensa televisada cobre os protestos não deixa dúvida. Parece dizer: aproveitemos a oportunidade e façamos campanha contra governantes, em especial Dilma Rousseff, Fernando Haddad.
Não há informação, mas manipulação da informação para corresponder ao desiderato desestabilizador.
A cobertura aérea dos protestos, por exemplo, com a polícia afastada, deixa no ar a ideia de uma certa anomia, ausência de lei e da ordem, coisa de responsabilidade do Estado e, por conseqüência, dos governantes. Expressa fraqueza ou medo de governantes em relação ao movimento popular. Ou seja, a chamada é clara: povo venha para as ruas, derrube os governantes.
O Jornal Nacional da terça 18 praticamente se tornou um instrumento de convocação para protestos. Da mesma forma que manipulou a juventude na época do fora Collor – quando lhe apeteceu – aliando a programação aos interesses próprios (como já o fizera, em 1989 quando às vésperas da eleição presidencial reprisou, em pleno fim de tarde, “Que rei sou eu?” saída do ar há poucos meses e de grande sucesso de público, para ajudar o mesmo Collor, então apresentado como caçador de marajás).
A manipulação da Globo alcançou tamanha desfaçatez que omitiu o grande avanço – antes não discutido: de quem a responsabilidade dos custos dos transportes, escancarada por Fernando Haddad quando disse que em países outros a distribuição ocorre em divisão igualitária de 1/3 para cada (poder público, empresários e usuário) enquanto no Brasil o empresário responde por apenas 10%, o poder público com 20% e a população com os outros 70%.
Como se vê, à Globo não interessa informar, e sim utilizar o movimento para um golpe contra o Governo. Foram 40 minutos de panfletagem na terça.
Aproveitando
Da baderna ao idealismo é como podemos reconhecer a mutação do editorialismo global em relação aos movimentos sociais que ocupam as ruas.
De Jabor de quinta-feira 13 ao Jornal Nacional desta terça 18.
A grande vitória das mobilizações, se tomamos como paradigma a de São Paulo, está no fato de haver reconhecimento, ainda que tardio, à legitimidade de grupos antes tidos como “bando de baderneiros”, “vândalos”, “manipulados por partidos de esquerda” etc.
O MPL – Movimento Passe Livre – por exemplo, existe há 8 anos. Ninguém o via. Agora o vê, e o reconhece.
Uma outra vitória: o reconhecimento pelo próprio governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, de que a polícia paulista cometeu arbitrariedades.
Na esteira, a discussão aberta sobre uso de balas de borracha, spray de pimenta e do próprio batalhão de choque no enfrentamento a mobilizações populares. Nesse aspecto, singular o grito da população, na terça: “Que coincidência, não tem polícia, não tem violência”.
A Globo se escondeu
A TV Globo de São Paulo foi cercada por manifestantes. Houve vaias a Globo. Fato identificado claramente. Há reações à platinada. Repórteres da emissora deixaram, em São Paulo, de usar aquele cubo do logotipo que os identifica como da rede.
Foi impedida de acompanhar as manifestações no Largo da Batata. A equipe de Caco Barcelos foi expulsa sob o slogan “Central Globo de Mentiras”.
Professor Adylson, seus comentários e análises são pertinentes e de profundidade dentro dessa "Missa" encomendada da mídia e elite brasileira. Gostaria que seus comentários, justos, limpos e democráticos,tivessem alcance nacional. Mais enquanto isso não acontece, a imprensa grapiúna, nessa modalidade, está de parabéns! (luís ribeiro)
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