DE RODAPÉS E DE ACHADOS *
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Dizem ser política
Como escreveu Luiz Nassif
(“Joaquim Barbosa e a tenebrosa face da maldade”) partindo da definição dada
pelo jurista Celso Antônio Bandeira de Mello ao atual presidente do STF (“É uma
pessoa má”): “Involuntariamente, Genoíno deu a derradeira contribuição aos
hábitos políticos nacionais: revelou, em toda sua extensão, a face tenebrosa da
maldade”. Antes já afirmara: “Joaquim Barbosa é um caso de maldade explícita”. E
mais disse:
“Nada
foi capaz de civilizar a brutalidade abrigada em seu peito, o prazer sádico de
infligir o dano a terceiros, o sadismo de deixar incompleta uma ordem de prisão
para saborear as consequências dos seus erros sobre um prisioneiro correndo
risco de morte”.
Para
Cláudio Lembro (DEM), ex-governador de São Paulo: “foi constrangedor, um
linchamento. O poder judiciário não pode ser instrumento de vendeta”.
Esta a lamentável imagem de um
homem que, por esforços reconhecidos que o instruíram em seus méritos, alcança
o demérito em razão de seus defeitos – não intelectuais, mas humanos e morais. Que
vai atraindo a aversão e o repúdio de muitos.
Não sabemos se o caminho
escolhido por Joaquim Barbosa se afina com o da possível pretensão a uma
carreira política.
Entre pombos e urubus
Nos descobrimos, de uma hora
para outra, em país que imaginávamos não existir, onde esperávamos que a mais
alta Corte fosse o exemplo da efetivação da prestação jurisdicional pautada nos
pilares da Justiça, de respeito à lei. Que nela não houvesse a paixão humana
como elemento intrínseco ao julgar, porque incompatível com o sonho de Justiça.
E mais descobrimos: que o país
se torna um palco de disputas apaixonadas, onde o bom senso cede espaço ao surrealismo
nascido da vontade individual ultrapassando/violando todas as normas.
Afinal, descobrimo-nos entre
pombos e urubus, em desafio que nos escancara. Uns, buscando oliveiras; outros, carniça.
A oportunidade perdida I
Parece malhar em ferro frio
permanecer martelando em torno dos absurdos – no âmbito jurídico – cometidos no
bojo da AP 470. Um fato público e notório, assumido sob veios de paixão de
Ba-Vi.
Os objetivos imediatos foram
alcançados com a prisão de próceres petistas. Mediatamente, no curso do tempo,
ver-se-á o que houve de justiça e de injustiça. Até porque a verdade é algo
absoluto em si mesma, ainda que tardia o venha.
O julgamento que serviria de
exemplo para a Nação – assim pensaram e projetaram os muitos aliados em torno
dele – foi assim como montanha parindo rato. Afinal, ministros se digladiando
mais levou a sociedade a vê-los como humanos comuns discutindo Flamengo e Vasco
em botecos. Diferenciava-os apenas o tema.
No entanto, mais que isso: restaram
algumas máculas que se tornarão indeléveis. Dentre muitas, a degradação da
imagem do STF para uma parcela da sociedade (uma outra o terá como herói).
Quando deveria sair ileso
qualquer que fosse a decisão – condenatória ou absolutória – deixou-se
travestir de Justiça quando atendeu à política.
Quando deveria sair aplaudido
pela sociedade, acima das barreiras partidárias, por haver cumprido com sua
função institucional, despencou como peça na vala comum das paixões.
A única coisa a que não se
pode atribuir à Justiça.
A oportunidade perdida II
O STF perdeu a oportunidade de
fugir de ser taxado de “tribunal político”, bastava ter utilizado para com o
mensalão do PSDB o mesmo critério que adotou para com o denominado mensalão
petista. Mais antigo o primeiro e roteiro para o segundo.
Em nível de STF
tinham ambos os processos por relator o mesmo “herói da pátria”. Que escolheu e
pavimentou caminhos bastante distintos para um e outro. Começando por
desmembrar o do PSDB, deixando para o STF apenas Eduardo Azeredo e Clésio
Andrade. E nem assim – com apenas dois – o mesmo relator se dignou trazê-lo à
pauta de julgamento.
No capítulo eleitoral os
resultados de 2014 o dirão. Confirmando ou não 2012.
A conclusão que ficou é de um
Judiciário que sai diminuído, que dispensa a elementar lição de Luhmann
(eliminar as alternativas à decisão) e escancarou o dito popular de que ‘juiz
julga pela cara’, desde que suficientemente pressionado pela mídia.
A
representação contra o ministro Joaquim Barbosa protocolada no Conselho
Nacional de Justiça (leia nossa postagem “Contra
Barbosa”) dá bem a quanto chegamos:
“A
conduta do representado pode ser considerada indigna do cargo que ele ocupa. Afinal,
ele deveria agir como um guardião da CF/88 e desrespeitou-a acintosamente ao
tratar com mais rigor alguns réus (os petistas José Genuíno e José Dirceu) e
com bastante generosidade outro co-réu igualmente condenado (o petebista
Roberto Jefferson, por exemplo). Sua alegação de que o petebista está
doente é irrelevante, pois um dos petistas (José Genuíno) também era acometido
de grave doença noticiada nos autos e correu risco de morte ao ser preso
enquanto o outro foi poupado do espetáculo.”
A maior oportunidade perdida
foi a atitude política que o STF passou a demonstrar (justamente por tratar o
mensalão do PSDB diferentemente) e fez desviar a atenção do ponto central da
cirurgia mais ansiada: a de trazer luz para o escuro que é o atual sistema de
financiamento de campanhas.
O que começa a vir à tona
Porque assiste razão à
Pizzolato. Quem pagava a Marcos Valério, por exemplo, era a Globo, através dos
Bônus de Volume (BV) que ela mesma criou, em razão da publicidade da Visanet.
Miguel do Rosário, no Cafezinho, descobriu o contrato entre ambos.
Essa
relação, de natureza privada, serviu de mote para Joaquim condenar Barbosa como
se público fosse o dinheiro. Não há dinheiro público. Detalhes em http://www.conversaafiada.com.br/economia/2013/11/19/documento-globo-pagava-bv-a-valeriodantas/
Em casa de enforcado
Fernando Henrique Cardoso
falando e se regozijando das prisões de petistas é assim como lembrar o ditado
popular: não se fala de corda em casa de enforcado. A compra de votos para a
reeleição é apenas um dos fatos em que está envolvido, pelo menos sob a teoria
do domínio do fato.
Esquece FHC que a única
vantagem entre um e outro caso é a blindagem que encouraça o tucanato e
quejandos em seu entorno.
Bem que podia ter ficado
calado. Perderia menos. Ou, se exporia menos.
Global
Cavalgando na mídia Joaquim
Barbosa cometeu excessos que expõem o julgamento da AP 470 à condição de
Tribunal de Inquisição, de vingança.
Certamente Machado de Assis riria de
Joaquim Barbosa e seus excessos, através de Quincas Borba: “o maior pecado,
depois do pecado, é a publicação do pecado”. Nem se dignou a ler “Tartufo”, de
Moliére: “não comete pecado quem peca em silêncio”.
Talvez aguarde – pelo
sensacionalismo – tornar-se jurado no Faustão. Ou – quem sabe – no Luciano Hulk,
onde um filho seu já trabalha na produção e com quem divide camarote no
Maracanã.
O Itamaraty tinha razão
Texto de Eric Nepomuceno na
Carta Maior (“Anotações sobre uma farsa – II”) vai trazendo luzes à
personalidade de Joaquim Barbosa (recomendamos http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/Anotacoes-sobre-uma-farsa-II-/4/29575).
Coisa que quase ninguém sabia, o fato de haver tentado a carreira diplomática,
frustrado em muito pelo corporativismo que norteia a instituição, derrotado
pelo teste psicológico que nele via “uma personalidade insegura, agressiva, com profundas
marcas de ressentimento”.
Ao tempo da derrota para
ingresso no Itamaraty dar-se-ia razão a Barbosa pelo “corporativismo” do
Itamaraty. Para quem tem visto Barbosa no Poder dá razão ao Itamaraty.
A história que querem repetir I
Evidencia-se nesse instante
político o surgimento de alguém que resolverá os problemas do Brasil atacando o
mal de todos os males: a corrupção. Não custa lembrar a campanha de Jânio em
1960 e suas propostas moralizantes simbolizadas na vassoura.
Interessante notar-se que as
forças que apóiam um e outro instante moldam-se no mesmo figurino e diante de
uma mesma circunstância: a impossibilidade eleitoral de o conservadorismo
retornar ao poder diante de progressistas, nacionalistas e desenvolvimentistas.
Antes, Getúlio e Juscelino;
hoje, Lula e Dilma. Jânio foi a ruptura. A solução encontrada pela UDN de Carlos
Lacerda para não perder o jovem político, porque seu candidato ideal era Juraci
Magalhães. A aliança tornou-se imperativa, a partir de Jânio.
Os desdobramentos todos
conhecemos: renúncia sete meses depois de empossado, tentativa de golpe –
quando se implantou o parlamentarismo como solução imediata – e sua consumação
em 1964.
A história que querem repetir II
As mesmas forças encontram-se
em idênticas circunstâncias. A oposição conservadora não tem candidato para
vencer a situação. O discurso se repete. E, novamente, a corrupção torna-se
tema central.
Como não há paladinos na
oposição, além do discurso, busca-se um símbolo. Joaquim Barbosa, algoz de
petistas – ‘quem não tem tu vai com tu mesmo’ – torna-se a figura/ator ideal.
Caso eleito não governará.
Porque – suas atitudes na presidência do STF o confirmam – entrará em choque
com o Congresso. Renunciará. O impasse instalar-se-á. Algumas ‘marchas da
família com Deus pela democracia contra o comunismo/petismo’ serão realizadas
com ampla cobertura da mídia. Como solução uma intervenção militar para
assegurar a ordem pública.
Vade retro
Satanás!
O sexo dos anjos
A arquitetura do Barroco nos
remete, sempre, a buscar mais no que vemos, tantos são os detalhes oferecidos.
Num dos símbolos do Barroco brasileiro, a Igreja de São Francisco em Salvador,
descobrimos que o Vaticano do séc. XVI não foi escutado. Ou o que determinou
aqui não chegou. Os anjos da São Francisco têm sexo. Não entraram no âmbito da
discussão conciliar em Constantinopla no séc. XV, tampouco tiveram suas
“partes” cobertas.
A lista de Varandas
Mauro Varandas – sobre ele
ainda nos dedicaremos pelo contista que é – publicou no facebook uma charge
sobre uma “lista de pessoas” que elabora para mandar para aquele lugar até o
final do ano.
A lista – diz Varandas – está
crescendo!
Convencimento
A tabela abaixo traduz o atual
estágio do emprego no Brasil. Talvez possa permitir compreender a razão por que
o midiático ainda não influencia nas pesquisas eleitorais para 2014.
Convencer ou não convencer.
Eis a shakespeariana questão!
Clamor
A omissão da administração
municipal de Itororó em relação aos que vivem de produzir a famosa carne de sol
que leva o nome da terra como símbolo de qualidade está produzindo desespero em
inúmeros pais de família.
Tudo poderia ser solucionado
com investimentos que não ultrapassariam 30 mil reais para que o matadouro
municipal tenha condições de funcionamento. Que seriam recuperados no primeiro
mês de funcionamento através da cobrança da “sangria”.
A indiferença da gestão
municipal mata, aos poucos – já mais aceleradamente – a fama da “carne de sol
de Itororó”, faz perder empregos e renda.
Itapetinga agradece.
Octávio Dutra
A fornalha que faz a música
brasileira ser o que é até convive com o absurdo de ver escondido o que de bom
se fez/faz neste país. Como a existência de Octávio Dutra (1884-1937), maestro e compositor gaúcho
que deu a cor dos Pampas ao choro. Como “Teimoso”, resgatado por Dante Santoro,
em gravação de 1949.
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Coluna publicada aos domingos em www.otrombone.com.br
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