E de cores
Os cemitérios são campos especiais. “Santos”, porque assim em
geral denominados. Mais os vemos pelos que lá estão e por aqueles que lá chegam.
Carregados alguns e carregados os demais que carregam alguns.
Registram histórias esquecidas, valores dispersos no
esquecimento. Vagar por entre tumbas e mausoléus parecerá coisa estranha para
quem não compreenda a finitude do que somos. Ainda que única certeza inexorável, que
imaginamos dela estar escapando.
Poucos os que percebemos por ali que há mais
pó que pedra. Mesmo porque, na palavra eterna não há pedra que não se torne pó.
Que dizer de que quem veio do pó e se fez carne?
Os cemitérios são – e não o percebemos – o único caminho de
que dispomos para nos reconhecermos. Há espaço até para a ironia diante da
inexorabilidade, como a registrada pelo professor Jorge de Souza Araujo em
lápide de um mausoléu em Porto Alegre: “Aqui jaz fulana de tal. Muito contra a vontade”.
O objeto do que neles há é fruto inerente a um ‘contrato social’ – em
nada rousseauriano – em relação ao qual nada discutimos, porque a todas as suas
cláusulas e condições simplesmente aderimos e não há tribunal terreno, tampouco
legislação humana que encontre fundamentos para alterá-lo.
Todos que se foram o foram quando ainda não deveriam ir.
Nada mais triste que os pais sepultarem um filho; nada mais triste que um filho
sepultar um pai ou mãe quando queria lhe devolver apenas mais um pouco de tudo que lhe fora por
eles dado – um dia a mais que lhe permitido fosse.
As flores são os únicos conteúdos materiais que mudamente
expressam o que sentimos. São elas a expressão dialética que transita entre
momentos tão distintos como viver a esperança terrena e a esperança eterna.
Dando
cores ao que talvez melhor simbolicamente manifesta Edith Piaff quando conclui em
Hymne a l’amour, sua imortal página,verdadeiro chant sacré, com a seguinte tradução livre “No céu, não
há problemas... Deus reúne aqueles que se amam”.
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