quinta-feira, 3 de abril de 2014

A verdade

É dura
No rescaldo das lembranças dos 50 anos do golpe civil/militar que desembocou na ditadura nada civil (o civil apenas a legitimava dando aqui e ali um vice-presidente que não podia assumir, como aconteceu com Pedro Aleixo, em 1969, quando do afastamento de Costa e Silva) temos de perceber que não estão encontrando respaldo os que visam um ‘retorno’ da dita cuja.

Mais se fortalece nossa opinião a partir de dois fatos – que destacamos – dentre muitos: o fracasso das comemorações alusivas ao golpe e a reação que a imprensa começa a exibir.

No que diz respeito às comemorações, falaram por si. Quanto à imprensa muito há de ocorrer para que seja materializada a sua catarse (religiosa, porque a aristotélica não será possível neste plano terrestre), ainda em fase de choro profundo (em que pese cínico). Afinal, difícil – muito difícil, se não impossível – a Folha de São Paulo explicar/justificar a razão por que disponibilizava veículos da empresa para atuar na repressão, tocaiando ou transportando os que questionavam/enfrentavam o regime para os porões da tortura e da morte.

Muita água há de rolar por debaixo desta ponte maturada na indignidade e na vileza. Temerão, por certo, os que a sustentaram na iniquidade, que todos tenhamos conhecimento dela e percebamos que o que dizem (em seus editoriais) contra o governo atual pode ser a repetição do método utilizado contra o presidente João Goulart.

Afinal, os interesses que defendem são os mesmos, hoje como ontem. E, como dizia Darcy Ribeiro, Jango ameaçava as classes dominantes, não porque pretendesse extingui-las, mas porque desejava reformas, dentre elas a urbana, a da educação e a agrária, o que as elites de então (como as de hoje) não admitem. Porque povo ideal para elas é povo despossuído, faminto, desempregado, analfabeto.

Sob seu viés canhestro a riqueza deve ser concentrada, nunca distribuída. Quanto mais miséria mais fácil o controle. Em vez de emprego, a esmola para submeter o desgraçado a sobreviver até que a morte severina o leve. E, para maior grandeza, voltarmos a ser colônia, ainda que país independente. Como slogan, ‘tudo em defesa da senzala social’. Basta, para esse particular, o retorno à magnífica teoria do guru FHC: a da dependência. Que vemos sob viés nelsonrodrigueano, na manutenção do complexo de vira-lata.

Não nos enganemos. Algo ocorre de bom nesse país. Tanto que a busca da ruptura de uma proposta político-administrativa voltada para mais igualdade de oportunidades se encontra permanentemente trombeteada pela imprensa – que hoje se confessa e faz mea culpa pelo passado. Olhando pelo espelho da história recente percebemos então – pelas lições aprendidas – que se alguns (como eles/ela) querem o de antes é porque o de agora está melhor.

Pagará a imprensa por sua postura. Não há espírito de vingança contra ela. As pedras que os diferentes meios de comunicação/informação jogaram/jogam para cima hão de cair sobre suas cabeças. É a lei universal da gravidade.

Em 2013 manifestantes escancaravam a expressão “A verdade é dura, a Globo apoiou a ditadura”. Em 2014 muitos dos órgãos que agiram como o Globo – que no imediato das manifestações de junho promoveu seu mea culpa em editorial, assumindo o apoio e reconhecendo-o como erro – começam, cada um, a sua confissão de culpa.

Nesse sentido a Globo não mais está sozinha no imbróglio e não será surpresa nos próximos desdobramentos de rua encontrarmos uma faixa com “A verdade é dura, a grande imprensa apoiou a ditadura”. 


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