É dura
No rescaldo das
lembranças dos 50 anos do golpe civil/militar que desembocou na ditadura nada
civil (o civil apenas a legitimava dando aqui e ali um vice-presidente que não
podia assumir, como aconteceu com Pedro Aleixo, em 1969, quando do afastamento de Costa
e Silva) temos de perceber que não estão encontrando respaldo os que visam um ‘retorno’
da dita cuja.
Mais se fortalece
nossa opinião a partir de dois fatos – que destacamos – dentre muitos: o
fracasso das comemorações alusivas ao golpe e a reação que a imprensa começa a
exibir.
No que diz respeito às
comemorações, falaram por si. Quanto à imprensa muito há de ocorrer para que
seja materializada a sua catarse (religiosa, porque a aristotélica não será
possível neste plano terrestre), ainda em fase de choro profundo (em que pese
cínico). Afinal, difícil – muito difícil, se não impossível – a Folha de São
Paulo explicar/justificar a razão por que disponibilizava veículos da empresa
para atuar na repressão, tocaiando ou transportando os que questionavam/enfrentavam
o regime para os porões da tortura e da morte.
Muita água há de rolar
por debaixo desta ponte maturada na indignidade e na vileza. Temerão, por
certo, os que a sustentaram na iniquidade, que todos tenhamos conhecimento dela
e percebamos que o que dizem (em seus editoriais) contra o governo atual pode ser a
repetição do método utilizado contra o presidente João Goulart.
Afinal, os interesses
que defendem são os mesmos, hoje como ontem. E, como dizia Darcy Ribeiro, Jango
ameaçava as classes dominantes, não porque pretendesse extingui-las, mas porque
desejava reformas, dentre elas a urbana, a da educação e a agrária, o que as
elites de então (como as de hoje) não admitem. Porque povo ideal para elas é
povo despossuído, faminto, desempregado, analfabeto.
Sob seu viés canhestro
a riqueza deve ser concentrada, nunca distribuída. Quanto mais miséria mais
fácil o controle. Em vez de emprego, a esmola para submeter o desgraçado a
sobreviver até que a morte severina o
leve. E, para maior grandeza, voltarmos a ser colônia, ainda que país independente.
Como slogan, ‘tudo em defesa da senzala social’. Basta, para esse particular, o
retorno à magnífica teoria do guru FHC: a da dependência. Que vemos sob viés
nelsonrodrigueano, na manutenção do complexo de vira-lata.
Não nos enganemos.
Algo ocorre de bom nesse país. Tanto que a busca da ruptura de uma proposta
político-administrativa voltada para mais igualdade de oportunidades se
encontra permanentemente trombeteada pela imprensa – que hoje se confessa e faz
mea culpa pelo passado. Olhando pelo
espelho da história recente percebemos então – pelas lições aprendidas – que se
alguns (como eles/ela) querem o de antes é porque o de agora está melhor.
Pagará a imprensa por
sua postura. Não há espírito de vingança contra ela. As pedras que os diferentes
meios de comunicação/informação
jogaram/jogam para cima hão de cair sobre suas cabeças. É a lei universal da
gravidade.
Em 2013 manifestantes
escancaravam a expressão “A verdade é dura, a Globo apoiou a ditadura”. Em 2014
muitos dos órgãos que agiram como o Globo – que no imediato das manifestações
de junho promoveu seu mea culpa em
editorial, assumindo o apoio e reconhecendo-o como erro – começam, cada um, a
sua confissão de culpa.
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