Do-sai-não-sai
Há uma obra antológica na literatura nordestina. Não dentro do gênero que a tornou singularmente representativa em nível nacional a partir de "A Bagaceira" (1928), de José Américo de Almeida, seguido de Raquel de Queiroz, Jorge Amado, Graciliano Ramos e José Lins do Rego, que lhe dão o contorno do definitivo reconhecimento.
Não é desta seara o que buscamos. Mas de "Zé Limeira, o poeta do absurdo", do paraibano Orlando Tejo, o marco divisor do reconhecimento do 'cantador', registrado em livro, como nuance concreta da cultura nordestina. "Zé Limeira..." - diz o próprio Tejo - não foi livro fácil de chegar ao público. Tantas as idas e vindas de seu rascunho por editoras do país, a ponto de registrar na abertura da obra o que denomina de 'vai-e-vem-do-sai-não-sai".
O ano eleitoral já encontrou o mote: uma CPI para a Petrobras - como o quer a oposição - ou mais além, também envolvendo trens e metrôs de São Paulo e porto de Suape, em Pernambuco, como o deseja a situação. É a notícia do dia, a cada dia esquentada com o que de folhetinesco cada troupe queira apresentar.
Mas mexer com fogo em monturo leva a não se saber de que ponto brotará chama. Na sagrada instituição partidária brasileira hoje ninguém pode se arvorar de santo. Aí onde reside acender fogo no monturo.
Uma figura transita no entorno de tudo e pode botar fogo no mundo se resolver falar o que sabe e sobre quem com ele convive(u). Hoje aqueles que a oposição quer atingir; ontem, ela (oposição) pode ser a alcançada. No centro o mesmo Yousseff e seu famoso jatinho, que serve aos amigos. A vítima de agora é André Vargas, do PT. Ocorre que - dizem os registros - o senador Álvaro Dias, vocacionado Catão do PSDB, usou o jatinho do doleiro. Não para veranear, mas para sua campanha em 1998.
Voltando a Petrobras - quem sabe? - pode por uma dessas perguntas qualquer a CPI ver citado o nome de Alberto Youssef. Tudo porque onde há dinheiro - e suspeita de desvio - necessariamente há um paraíso fiscal a ser encontrado, sob conduto de um doleiro.
Foi assim que ocorreu na CPI do Banestado. Como lembra matéria publicada na Isto É de 12.02.2003, por lá apareceu dinheiro tucano em meio a outros. A melhor solução foi fazer as conclusões da CPI darem em (quase) nada. O tema também foi objeto de atenção de Amaury Jr. em "A Privataria Tucana". Mas, vamos ao que editou a revista, a partir de Foz do Iguaçu:
"Documentos a que ISTOÉ teve acesso começam a esclarecer por que o laudo de exame financeiro nº 675/2002, elaborado pelos peritos criminais da PF Renato Rodrigues Barbosa, Eurico Montenegro e Emanuel Coelho, ficou engavetado nos últimos seis meses do governo FHC, quando a instituição era comandada por Agílio Monteiro e Itanor Carneiro. Nas 1.057 páginas que detalham todas as remessas feitas por doleiros por intermédio da agência do banco Banestado em Nova York está documentado o caminho que o caixa de campanha de FHC e do então candidato José Serra, Ricardo Sérgio Oliveira, usou para enviar US$ 56 milhões ao Exterior entre 1996 e 1997. O laudo dos peritos mostra que, nas suas operações, o tesoureiro utilizava o doleiro Alberto Youssef, também contratado por Fernandinho Beira-Mar para remeter dinheiro sujo do narcotráfico para o Exterior. Os peritos descobriram que todo o dinheiro enviado por Ricardo Sérgio ia parar na camuflada conta número 310035, no banco Chase Manhattan também em Nova York (hoje JP Morgan Chase), batizada com o intrigante nome “Tucano”. De acordo com documentos obtidos por ISTOÉ, em apenas dois dias – 15 e 16 de outubro de 1996 – a Tucano recebeu US$ 1,5 milhão. A papelada reunida pelos peritos indica que o nome dado à conta não é uma casualidade".
Nitroglicerina pura. Que ainda não acabou de explodir. E pode gerar rastilho nas CPIs que muitos anseiam. E hoje não gostariam de ver instalada.
O que em muito justifica o 'vai-e-vem-do-sai-não-sai' de que falava Orlando Tejo. Só que dele não sairá nenhuma biografia de cantador.
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