quinta-feira, 10 de abril de 2014

Nada além

Do dèjá vu
Há no ar certo clima de déjà vu. Como o de quem assiste a vivência de paixões estrepitosas descambando em nostalgia assim que desdobrados os primeiros instantes de sonhados encontros e os passos dos arroubos apaixonados entraram em saturação, cansaram seus personagens. Que se refaz no trajeto do inconsciente, de que já visto o que vê. Ou que tão somente se repete o que aconteceu outras vezes. Mesmo lugar, mesmas pessoas, mesma história. 

Comum como em todos os casos de amor não correspondido. Levando ao recôndito do sentimento o acontecido sob cores de amargura e desencanto. Uma lembrança. Até a dificuldade de compreender, no plano da dúvida, se já viu ou viveu tudo o que vislumbra.

Há um clima de que alguém enganou alguém. De quem se apresentou em dimensão diversa de sua realidade trazendo a frustração comum como natural escoadouro em tais instantes. Quando muito restando uma dor-de-cotovelo conforme o sentimento nutrido em cada um pelo outro.

Há erro essencial sobre a pessoa – em direito de família – quando um dos parceiros se apresentou ao outro em dimensão do que não era. Seja-o no plano da identidade, honra e boa fama, ou o levou à ignorância de pratica de fatos criminosos em instante pretérito, ou mesmo de doença que ponha em risco a vida do cônjuge. Tudo que leve a uma situação insuportável, decorrente da enganosa conduta.

Também podemos entender, no plano inverso, quando alguém espera de outrem o que este não poderia oferecer. Mas, o engano de dizer-se possível de ofertar comunga com a vontade do que se imagina beneficiado. No fundo, um castigo comum. Como punição por ambos pretenderem enganar um ao outro.

O ministro Joaquim Barbosa vive – assim vemos – um estágio probatório para ocupar a galeria do esquecimento. Talvez melhor, a ser alcançado pela percepção do reconhecimento de sua desnecessidade. É que deixou de frequentar as manchetes como paladino da luta contra a corrupção, de ocupar o lugar de signo de salvador da pátria que construía a imprensa em torno de seu corpo de comum mortal. Que dele se utilizava enquanto útil como timoneiro da AP 470.

Começa a viver clima adverso Sua Excelência. Vaiado em alguns lugares que frequente, desde que lá esteja quem o descobriu tão somente carrasco.

Em declaração recente descobre Joaquim Barbosa o óbvio ululante: a necessidade de um marco legal para a regulação dos meios de comunicação no Brasil.

A turma que o incensava chama a isso de censura. Mas, o ministro está certo. Apenas colherá outros frutos, porque em outro campo. Mais útil certamente quando defende a criação de um marco legal para a comunicação do que enquanto carrasco de institutos jurídicos. Inútil, no entanto, para os que se beneficiam da sua inexistência (do marco legal).

São as reviravoltas que o mundo dá. Como a separação entre dois apaixonados, de um amor à primeira vista na terça-feira de Carnaval.

Dirá o leitor: o que há de extraordinário em algo tão comum, natural à espécie humana? 

Nada, a resposta. Apenas o déjà vu.


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