Complexo
Tornou-se clássica a observação de Nelson Rodrigues – temos buscado o texto original e nada de encontrá-lo – ao registrar na véspera da Copa de 1958 o que denominou de complexo de vira-lata: a derrota estampada na opinião dos que se diziam 'entendidos' no "esporte bretão" e viam a absoluta impossibilidade/incompetência de nossa seleção vencer uma competição internacional de tal magnitude como a Copa do Mundo. Antes mesmo do primeiro pontapé.
Para completar, realizada na Suécia, um dos países mais civilizados da Europa que, em si, era o exemplo a ser seguido pelos tupiniquins se quisessem um dia ser alguma coisa na vida. Nada éramos, nem para exercer o direito de sonhar/torcer. O que esperar de quem fora derrotado em casa (1950) e fora 'humilhado' pela Hungria quatro anos depois?
Vivíamos – essa a razão da expressão – a síndrome do vira-lata: escorraçados por onde chegássemos.
Fundava-se a observação de Nelson Rodrigues em fatos de uma época que remonta há mais de meio século. Coube ao país sediar outra Copa do Mundo, 64 anos depois daquela que nos tornara cabisbaixos e desmoralizados.
Ainda que outro país no cenário mundial, de outras oportunidades, de outra gente, de outra época vivemos a síndrome do vira-lata. A pauta da grande imprensa fez com que o brasileiro até deixasse de gostar de futebol como sempre gostou. Para que essa coisa de futebol?
O esporte que nos dera alegrias e nos fizera respeitados, com cinco vitórias em Copas do Mundo, no dia em que voltamos a sediar uma competição – sonho de dezenas de países – tudo era levado a parecer o Brasil x Uruguai no Maracanã recém inaugurado ao soar o apito final.
O filme que exibiam passava por um absurdo: sediar uma Copa em terra de miseráveis carecendo de tudo. Portanto, não mais apenas o nosso 'lastimável' futebol. Agora a falta de capacidade para recebermos estrangeiros. A violência tomando conta de tudo e de todos. Aeroportos atropelados de turistas indignados. Estádios caindo aos pedaços etc. etc.
Tudo a ser exibido ao mundo, assistido por bilhões de telespectadores. Um horror! Uma tragédia que levaria a imagem do Brasil ao ridículo.
E buscamos Nelson Rodrigues. Para comparar o complexo de vira-lata dos anos 50 com o da segunda década do século XXI.
Nada havia para ser comparado. A não ser no detalhe fundamental, fonte de tudo: uma minoria que controla os meios de comunicação e que, para fazer política partidária diante da dificuldade de seus candidatos sucederem, no voto, os atuais mandatários, se apegaram às lições (superadas) para fazê-las atuais.
Percebemos, então, que o complexo de vira-lata atual é mais grave. Porque existe – demonstra-o a realidade no curso da Copa – somente na cabeça dos que o enxergam e – como na fábula – imaginaram que anunciando o 'rei nu' fariam todos acreditar que nu estava sua alteza.
Segue o link para acesso ao texto de Nelson Rodrigues http://www.releituras.com/nelsonr_viralatas.asp
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