terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Entenda, cidadão

Não somos todos iguais
Muito do que pinçamos na rede aberta ao público evitamos citar a fonte, no entanto não podemos nos furtar a comentar o que nos deixa no limite da preocupação. Sobre fatos envolvendo jovens que pretendiam entrar em um shopping de São Paulo para um ‘rolé’* (ainda não dominamos o que significa a expressão) resta-nos observar o postado, que convocava a iniciativa para a Câmara e o Senado para os seus integrantes, uns ‘adolescentes à toa’.

Este "adolescentes à toa" é o nó górdio da questão/observação. 

Em princípio temos que a expressão tem conotação (pre)conceitual em relação a uma parcela da sociedade de classes – dividida estas em andar de cima e andar de baixo – partindo da definição de que shopping não existe para “todos”, ainda que todos sejam da mesma cidade, estado e país.

Não fora isso, difícil compreender que alguém não possa entrar em qualquer espaço destinado ao público, seja público e privado, a partir de presunção. Naturalmente atendendo às exigências do local e às normas legais.

Mas, no caso concreto, caso levemos em consideração o postado por Vanessa Bárbara, reproduzido nos comentários ao texto de Fábio de Oliveira em http://jornalggn.com.br/blog/fabio-de-oliveira-ribeiro/rolezinho-e-racismo, não custa duvidar de que estejamos diante de algo mais grave, que passa por violações a princípios constitucionais que asseguram a igualdade de todos e o direito de ir e vir.

"Por VANESSA BARBARA
COLUNISTA DA FOLHA

No estacionamento do shopping Metrô Itaquera, 11 jovens de bermudas coloridas e tênis chamativos estavam sendo revistados. Tinham um olhar vazio e sem expressão; cederam as mochilas, os documentos e explicaram o que tinham ido fazer ali: dar um "rolezinho".

O tenente encarregado da operação não encontrou nada de ilícito nos pertences dos jovens, a maioria negros e menores de idade. Explicou que a polícia estava abordando pessoas que pudessem ter ido para o evento, pois tinha um mandado de proibição.

Anotaram nome e endereço de todos e avisaram que, se causassem tumulto, seriam multados em R$ 10 mil.

Os adolescentes não me olhavam nos olhos e pareciam resignados. "Não vou embora não, quero ir ao cinema", disse Rodney Batista, 20. No grupo de 11, só um tinha o olhar duro de quem estava engolindo a raiva.

Não vi ninguém com armas; ninguém roubando, depredando ou fazendo arrastão. Ainda assim, os lojistas entraram em pânico.

Segundo a opinião pública, são bandidos com histórico de crimes; no melhor dos casos, vagabundos que vão lá tumultuar, cometer delitos e assustar "gente de bem".

São tratados como tais pelas autoridades: passando pelo corredor, um policial repetia no ouvido de todos: "Vou arrebentar vocês, vou arrebentar" – e plaf, deu um chute em um menino.

Pedi: "Licença, gostaria de saber o nome do senhor, ouvi o que o senhor disse e vi o que fez", ao que ele tirou a etiqueta de identificação e escondeu no bolso. Insisti em saber o nome, tentei tirar uma foto, recorri ao tenente e falei com outros policiais – todos identificados.

Me acovardei e pensei que ele poderia ter ficado assustado por ter sido flagrado, que talvez tenha sido um momento do qual se arrependeu... Pensei também que arrogar qualquer tipo de coisa –"Sou da imprensa, olha só o meu crachá lustroso" – rebaixaria ao nível dele, que usou do poder para fazer algo contra alguém mais fraco.

Vi gente filmando e sendo obrigada a apagar o arquivo, e a imprensa foi orientada a não registrar o que ocorria.

A gente fica só imaginando o que não devem fazer quando ninguém está realmente olhando."

Todo o expressado do que trazemos aqui tem uma proposta didática: a de que tenhamos a consciência de que neste país, onde a economia caminha para ser a 5a. do mundo, há adolescentes e "adolescentes à toa".

Caso algum leitor não concorde acompanhe a postura do Estado e sua força repressiva em qualquer festa de rua  onde se concentre muita gente. E veja quem cai no cassetete. Ainda que não esteja consumindo drogas entre cordões.

Ou resolva levar alguns amigos/colegas conhecidos que residam em bairros periféricos de Itabuna e que não estejam trajando etiquetas ao Jequitibá. Sorte sua - quando os levar - de não ser enquadrado como "adolescente à toa".

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* Até que nos seja passado o real significado (atual) de "rolé" cremos que não é assalto, estupro, tráfico de drogas, vandalismo. Pensamos que não passa de um simples caminhar por algum lugar. Temos certeza que não é linguagem criada por black bloks.


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