quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

A Gramática de Jânio

E a resposta ideal
Para a turma da oposição – acuada com as denúncias do metrô e trens em São Paulo e com a possibilidade de julgamento do mensalão mineiro ainda este ano – tudo que possa desviar a atenção entra no vale-tudo. Atrasos em obras para a Copa do Mundo estão na moda. E, de vez em quando, um extra, como a passagem de Dilma por Portugal. Tanto que surgem os pedidos de informação dos Álvaro Dias da vida, que espera – oh! sonho – causar uma hecatombe na imagem do Governo e da candidata Dilma Rousseff.

Insinua a existência de graves irregularidades em razão de uma estada de algumas horas em Portugal, necessária segundo as regras aeronáuticas por medida de segurança. É de todos sabido que a travessia atlântica, em circunstâncias normais (ausência de turbulências, tempestades etc.) praticamente consome 80% do combustível em aviões do tipo do presidencial. Isso não configura a segurança ideal.

O vôo da Suíça até Havana exigiria, portanto, um pouso para reabastecimento ou ainda na Europa (Portugal ou Espanha) ou em território estadunidense. Assim, tecnicamente nenhum absurdo a descida do avião presidencial em Portugal.

Caso houvesse de prosseguir depois de abastecido voaria à noite (sem falar nas condições atmosféricas). Essas circunstâncias levaram a Presidente e sua comitiva a pernoitarem em Portugal por cerca de dezesseis horas.

A turma não perdeu oportunidade e quer explicações. Ao que parece gostaria a oposição que a Chefe da Nação se hospedasse num pardieiro (com pulgas, percevejos e muriçocas, se possível), comesse em restaurante a quilo ou em boteco de esquina caso não optasse pela dieta do jejum.

Próceres do Governo ainda se debruçam em explicar – dando espaços à mídia ávida por factóides – coisas dispensáveis. Melhor que deixasse Dilma Rousseff publicar uma nota de esclarecimento simples e objetiva no estilo da ironia anedótica atribuída a Jânio Quadros, respondendo a jornalistas no imediato da renúncia, quando indagado das razões que o teriam levado ao ato extremo:

– Fi-lo porque qui-lo.

Também a Jânio, respondendo à pergunta provocativa de um jornalista “se bebia” (dizem que gostava de umas), quando em campanha em Belo Horizonte para presidente, é atribuída a seguinte resposta:

– Bebo-o porque é líquido; se fosse sólido comê-lo-ia.

Poucos sabem que Jânio foi professor de português, escritor, gramático e lexicógrafo. Publicou um bom Dicionário da Língua Portuguesa, sendo a sua obra mais conhecida uma Gramática Histórica, em meados dos anos 60, sobre a qual muitos nos debruçamos.

Como estaria melhor assessorada e distante do anedótico, diria a Presidente em escorreito Português, aos que a questionem:

– Fi-lo porque o quis.

Para respeitar a regra gramatical, visto que a conjunção subordinativa ‘porque’ atrai o pronome oblíquo átono ‘o’, daí a próclise ser a construção correta – e não a ênclise atribuída a Jânio, que ele negou tê-la pronunciado.


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