E a
resposta ideal
Para
a turma da oposição – acuada com as denúncias do metrô e trens em São Paulo e
com a possibilidade de julgamento do mensalão mineiro ainda este ano – tudo que
possa desviar a atenção entra no vale-tudo. Atrasos em obras para a Copa do
Mundo estão na moda. E, de vez em quando, um extra, como a passagem de Dilma por
Portugal. Tanto que surgem os pedidos de informação dos Álvaro Dias da vida,
que espera – oh! sonho – causar uma hecatombe na imagem do Governo e da
candidata Dilma Rousseff.
Insinua
a existência de graves irregularidades em razão de uma estada de algumas horas
em Portugal, necessária segundo as regras aeronáuticas por medida de segurança.
É de todos sabido que a travessia atlântica, em circunstâncias normais
(ausência de turbulências, tempestades etc.) praticamente consome 80% do
combustível em aviões do tipo do presidencial. Isso não configura a segurança
ideal.
O vôo
da Suíça até Havana exigiria, portanto, um pouso para reabastecimento ou ainda
na Europa (Portugal ou Espanha) ou em território estadunidense. Assim,
tecnicamente nenhum absurdo a descida do avião presidencial em Portugal.
Caso
houvesse de prosseguir depois de abastecido voaria à noite (sem falar nas
condições atmosféricas). Essas circunstâncias levaram a Presidente e sua
comitiva a pernoitarem em Portugal por cerca de dezesseis horas.
A turma não perdeu oportunidade e quer explicações. Ao
que parece gostaria a oposição que a Chefe da Nação se hospedasse num pardieiro
(com pulgas, percevejos e muriçocas, se possível), comesse em restaurante a
quilo ou em boteco de esquina caso não optasse pela dieta do jejum.
Próceres
do Governo ainda se debruçam em explicar – dando espaços à mídia ávida por
factóides – coisas dispensáveis. Melhor que deixasse Dilma Rousseff publicar
uma nota de esclarecimento simples e objetiva no estilo da ironia anedótica
atribuída a Jânio Quadros, respondendo a jornalistas no imediato da renúncia,
quando indagado das razões que o teriam levado ao ato extremo:
– Fi-lo
porque qui-lo.
Também
a Jânio, respondendo à pergunta provocativa de um jornalista “se bebia” (dizem
que gostava de umas), quando em
campanha em Belo Horizonte para presidente, é atribuída a seguinte resposta:
– Bebo-o
porque é líquido; se fosse sólido comê-lo-ia.
Poucos
sabem que Jânio foi professor de português, escritor, gramático e lexicógrafo.
Publicou um bom Dicionário da Língua Portuguesa, sendo a sua obra mais
conhecida uma Gramática Histórica, em meados dos anos 60, sobre a qual muitos
nos debruçamos.
Como
estaria melhor assessorada e distante do anedótico, diria a Presidente em
escorreito Português, aos que a questionem:
– Fi-lo
porque o quis.
Para
respeitar a regra gramatical, visto que a conjunção subordinativa ‘porque’
atrai o pronome oblíquo átono ‘o’, daí a próclise ser a construção
correta – e não a ênclise atribuída a Jânio, que ele negou tê-la pronunciado.
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